Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe



Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Doce ou azedo?


A crónica do dia-a-dia do príncipe sem medo no reino encantado das paredes transparentes e de senhoras-fadas contado na primeira pessoa, tal como eu o imagino...


"Nos três dias seguintes e nos restantes que se seguiram,  por entre príncipes e princesas quase iguais a mim,  foi assim.  Por entre quatro paredes transparentes  com quatro janelas que abriam e fechavam delicadamente, conseguia ver movimento lá fora... Passavam de um lado para o outro umas senhoras-fadas, de mãos quentes com dedos de algodão, que conseguiam ouvir o meu grito de entusiasmo e abriam as janelas para me tocarem. Só não percebiam que não queria aquela feroz agulha no pé a cada duas horas, nem aquele senhor branco e doce como mel na minha boca, porque não sabia o que fazer com ele. E, assim estive dias e dias a fio, a tentar ficar mais doce, por entre fios que entravam e saiam de mim.
Mas as mãos mais quentes eram aquelas que voltavam todas as manhãs, que me punham no colo e que cantavam ao meu ouvido baixinho. As que me traziam trajes de príncipe com cheiro a nuvem e que me tocavam incessantemente repletas de vontade de chorar. As que paravam suadas depois da picada no pé à espera de ouvir um valor aceitável ou pelo menos mais aceitável. As que me seguravam na cabeça e durante minutos sem fim insistiam em fazer-me beber aquilo branco com sabor a mel.
Também percebi que os outros príncipes e princesas, cada um no seu reino, afinal não eram quase iguais a mim... Tinham outras Mamãs, tinham outros fios e alguns tinham até umas máquinas amiguinhas (digo eu) que as senhoras-fadas com os dedos de algodão carregavam.
No reino transparente mesmo à frente do meu, havia uma princesa de cabelos cor do sol e olhos arregalados, a quem tinham feito um desenho no sítio que faz tum-tum, que gritava alto e talvez por isso, vinham muitas máquinas iluminadas e senhores de ar sério para a espreitar. (Nunca mais a vi!)
E iam e vinham, e iam e vinham...novos príncipes e novas princesas... Mas eu continuava cá."

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