Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe



Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe


sábado, 23 de novembro de 2013

A crise & os meninos

Crise, tesouradas avulsas nos ordenados, horas que não cessam mais, pais, mães e filhos, direitos, deveres, constitucionalidade, pátria, cravos. É uma lista interminável de palavras...
A crise que eu reconheço nos meninos, filhos de pais de meninos, é uma crise sem palavras.
Mais meninos despejados pelo corredor do Serviço de Urgência onde as cadeiras plásticas frias já não chegam para tantos. Mais meninos menos gordos, menos rosados, menos agasalhados. Mais meninos que não fazem os xaropes de sempre e mais farmácias cheias. Mais olhos tristes de meninos e de mães e pais de meninos que não tem nada nos bolsos. Mais meninos com eritema das fraldas porque as fraldas ficam no supermercado e aguentam mais tempo pesadas. Mais meninos que fazem asneiras de meninos grandes, engolem comprimidos e choram por dentro. Mais meninos que não vão às consultas porque os pais não podem não ir trabalhar. Mais meninos com estômago oco ou recheado da promoção plástica do macdonnalds. Mais meninos que não sabem saltar à corda, jogar pião ou elástico. Mais meninos que vivem sozinhos. Mais meninos que não sabem dar beijos, porque não sobra tempo para eles.
A crise do País é a crise de uma geração de meninos que são mais de muito menos...



Meninos da Crise, um sorriso do lado de cá, ajuda alguma coisa?

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Já comprei...

Mais uma vez vou preferir descalçar os saltos-agulha de dondoca e caminhar descalça numa guerra que é minha e de alguns do mundo dos Rs... Comprei, compro e comprarei! 
Não admito gente estúpida e incompetente em posições de uma chefia inerte e de esquecimento. 
Do R...
Primeiro: pedido de adiamento da escolaridade do R que veio como Indeferido. Porquê? Porque a escola não enviou a documentação necessária e entregue pela Vovó cor-de-cevada. Aqui vai...
Segundo: solicitada reunião no agrupamento entre as terapeutas do R e as professoras que tão bem o guiam. Reunião concedida. Programado dia. Falha de aviso do dia pela coordenação do ensino especial às professoras do terreno. Grave? Não, muuuuuito grave... Sectarista! Incompetente! Incómodo! De fazer nó na garganta!
De um R. que conheço como Pediatra...
Efectuei o pedido de administração da vacina da gripe no Centro de Saúde via papel, explicando o porquê de este R. ter direito à sua administração gratuita, não fosse ele um menino-R... Duas horas depois, a Mãe enviou mensagem a dizer que a Profissional de Saúde teria dito que não tinha direito à sua administração. Surgem assim vários problemas:
- A profissional de saúde em causa não sabe ler ou não se deu ao trabalho de perguntar o que são as directrizes da Direcção Geral de Saúde. (Ou, hipótese esta mais provável, fez a administração gratuita da vacina aos filhos das amigas que não são meninos-Rs e para os meninos Rs não sobrou vacina...)
- Uma reclamação feita em nome da Mãe do menino-R.
- Uma reclamação enviada pela Pediatra Assistente (E-U) para o Centro de Saúde e para a ARS Norte.


País que temos, país que somos... Se vou mudar esta mentalidade, este jeito de ser..acho que não! Mas não consigo deixar de ser perturbadoramente desbocada.

Trilhos dos Rs, um pouco mais sinuosos






M-Ã-E coragem

Conversa de um corredor agitado de hospital, perseguidas pelo som de uma cadeira de rodas velha, empurrada por um M-Ã-E com gotinhas de súor na testa enrugada, que se abraça num ápice aos nossos pijamas-traje. Sussurra "Estamos bem...". Olhamos com sorriso nos lábios e com os olhos invadidos de água doce. E, a voz trémula enche-se e verte um "E isto não é nada, vai melhorar muito mais..."... Silêncio incómodo. Ânsia de que essa esperança empurre as palavras que deixou sair. M-Ã-E com M maiúsculo que nos encosta à pequenez da ciência que está nos livros. M-Ã-E que deixa um obrigado e vai... 
Engolimos, eu e a minha sempre Milagros, um café embrulhado no coração apertado que nos deixou... e não falamos mais disso! Caminho fácil...e necessário!

Eu, Milagros e Marta


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

AMO-TE

Já falei num post antigo sobre amores...mil e um tipo de amores! E, eu sou mesmo disso...quem me conhece sabe. Verto da alma um amor estrondosamente enorme que faz apertar o estômago e que põe a cabeça às voltas. E, amo genuinamente com tudo o que está escrito nos livros de romance e com aquilo que não está. Soletro rápido A-M-O--T-E sem pudor. Amo rir à gargalhada. Amo abraços irrespiráveis de rostos colados. Amo tulipas brancas que me acordam no Serviço de Urgência. Amo morangos-veludo que namoram tâmaras-reais num saco de papel. Amo olhos-vendados em caminhos. Amo a sensação quase agonizante de que aquilo que digo não chega. Amo mimimos que saltam de umas mãos rechonchudas. Amo o perfume a terra molhada. Amo uma bela de uma francesinha corada que faz pingar o nariz de tão malagueta. Amo um duche de água fumegante que enevoa o espelho e nebuliza a alma. Amo as conversas do cabeleireiro entre as senhoras loiras de penteado-cabeção, sobre a que acabou agora mesmo de sair. Amo os porquês sem r (cito, poquê) do R sobre tudo e sobre nada. Amo arroz com alecrim. Amo pessoas que arriscam, aventureiras, sem medo. Amo que me façam sentir amada e perfeita, na minha total imperfeição.

AMO-TE

Anorética

Regada com pimenta-rosa, olheiras que sombreiam o rosto escavado, pele-papel-desbotado, estômago recheado de vinagre nos últimos três dias, medo de qualquer alimento insípido no tabuleiro de gourmet hospitalar... Menina-perfeita na sua anorética arrogância defensiva, apoiada no sacro oco a dedilhar o telefone, inerte, bradicárdica, fria e cinzenta. Estórias de uma magreza conquistada a goles de vinagre e ar. Estórias que não conta a ninguém. Estórias que não nos deixam entrar. Estórias de mais uma cama do Serviço de Urgência. Estórias que pedem ajuda porque estão no limbo. Estórias que se vivem na primeira pessoa, solitárias...

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terça-feira, 15 de outubro de 2013

By P.C. ... Irresistivel

Irresistivelmente bem escrito, delicioso como um robalo acabado de pescar e verdadeiramente maravilhoso. Palavras com perfume a maresia, puras, cruas e que espelham tal e qual o que eu sinto. Amei e deixo-vos morder o isco. Cá vai...
By Pedro Cruz
"Acho que nunca na vida conseguiria exercer outra profissão que não a de Médico. Mais, acho que não seria capaz de ter outra especialidade que não a Anestesiologia. Não seria feliz noutra qualquer actividade profissional... ou talvez o fosse como o meu homónimo (Simão) Pedro – o apóstolo Pescador... prefiro continuar a pescar ludicamente do que comprová-lo. Prefiro continuar a ser Anestesista e a fazer os possíveis por ser um bom profissional, porque acima de tudo amo o que faço – tenho esse previlégio. Se por um qualquer motivo fosse obrigado a exercer outra actividade fá-lo-ia e estou convicto que nunca deixaria de ter brio na mesma. Aliás, todos aqueles que, gostando ou não do que fazem, exercem as suas funções com brio, têm o meu total respeito e admiração.
Não acredito em vocações e penso que todos nós somos complexos o suficiente para nos adaptarmos a diferentes situações. Tenho a convicção profunda que em situações limite, o nosso instinto (animal) de sobrevivência se sobrepõe à razão. Numa hipérbole, não me custa admitir que seria capaz de roubar e matar se não tivesse pão para a boca das minhas filhas por exemplo.
Não sou mais nem menos que o comum mortal e é assim que gosto que me vejam – um entre muitos, mas único! Gosto de ser respeitado como sou, pela minha genuinidade, com todos os meus (muitos) defeitos e com as minhas virtudes. Tento ser respeitador também, mas a minha ambição limita-se a pretender ser um bom exemplo para as minhas filhas, para mais ninguém! Espero incutir-lhes os mesmos princípios que a minha Família me transmitiu. Não sou nenhum santinho, nem dono da verdade, farto-me de errar infelizmente! Só desejo que a minha auto-crítica nunca me deixe só e que humildemente continue a ter a “desculpa” na ponta da língua.
Nos últimos tempos tenho sido confrontado com duras realidades. Pelo menos para mim tem sido difícil de viver e conviver com os atropelos que me rodeiam quase diariamente. Estudei na Faculdade com média de acesso mais alta dos últimos anos (embora tenha orgulhosamente entrado na mesma com Estatuto de Atleta de Alta Competição de Voleibol e com média “apenas” de 16 valores) mas sou obrigado a admitir que dos maiores ensinamentos que guardo para a vida me foram dados por uma senhora que hoje tem 91 anos, a minha Avó Laura, que tem a quarta classe! Nestes dias conturbados de que falo, esses ensinamentos têm sido o meu escudo. Mas não só... Outra pessoa que muito marcou e marca indelevelmente a minha maneira de ser, além dos meus queridos Pais, é o Dr. Paulo Ramos, meu ex-orientador de formação durante a especialização em Anestesiologia. Aprendi muito com ele, mas o que não vinha nos livros foi o que mais me marcou, especialmente uma frase: “O importante é um gajo chegar ao fim do dia, ir fazer a barba e olhar no espelho e ter orgulho no que vê”! Continuo a tê-lo! Por isso mesmo, apesar de me sentir cada vez mais tolerante para bocas, bitaites, piropos, conversas de corredor, etc... sinto uma obrigação crescente em lutar contra os atropelos que referi anteriormente.
O que mais me incomoda nestes atropelos é o sentimento de impunidade de quem destrata os outros! Na área em que trabalho, há muito que sou defensor de testes psicotécnicos para selecção de futuros alunos de Medicina. Na minha óptica são tão ou mais importantes do que as notas! Fico indignado, como é possível que pessoas que vão trabalhar com e para outras pessoas sejam avaliadas apenas pelas suas notas académicas? Sou da opinião que, por exemplo, um bom dactilógrafo será um excelente profissional a partir do momento em que escreva rapidamente e sem erros ortográficos; no caso isso será mais do que suficiente! Já para um profissional que trabalha integrado em equipas formadas por pessoas com diferentes competências e que trabalha para pessoas doentes, as relações inter-pessoais são, quanto a mim, a pedra basilar! A preparação teórica sem dúvida que é muitíssimo importante, mas não mais que a capacidade de nos relacionarmos com os outros – profissionais e doentes.
Egoísticamente, em última instância, também eu estarei um dia (que espero tarde) na posição de doente e quero ser bem tratado! Aliás, é a única certeza que todos temos – um dia seremos nós o doente! Por isso mesmo temos de ter uma atitude mais altruísta sempre que directa ou indirectamente presenciamos atropelos. Ao sermos indiferentes estamos a ser coniventes e a fomentar que eles se perpetuem...
Para terminar, porque não gosto de tomar o todo pela parte e porque sempre que se generaliza se está a ser injusto para alguém, quero deixar um abraço sincero para o meu Amigo Sérgio Silva, um exemplo como Amigo e como Profissional de Saúde! Hoje, ao dirigir-me ao hospital de S. João, presenciei um seu gesto de carinho para com uma senhora que se encontrava no Serviço de Urgência que me fez chorar como uma criança. No caso, o marido, um doente terminal, estaria a aguardar pela sua vez. A senhora, que conhecia o meu Amigo de outros recursos ao Serviço de Urgência, interrompeu a nossa conversa para poder falar com aquele Médico afável que já conhecia. Engoli as palavras e só consegui por segundos constatar o carinho com que o Sérgio tratou a senhora mesmo sem estar de Urgência... provavelmente, tal como quem estava de serviço, pouco mais poderia fazer pelo doente, mas os minutos que dedicou áquela senhora que também sofria pela doença do marido e o abraço que lhe deu foram o conforto que procurava! Estes gestos não vêm nos livros! Virei costas para chorar em paz... mas chorei de alegria! Obrigado Sérgio!
Pedro Cruz, o futuro doente (a única certeza que tenho na vida)."

Perfil

Perfil de fazer crescer água na boca, bochechas almofadadas, cabelos enroscados e turbulentos, barriga-balão saliente a empurrar o mundo, pele-de-seda. Perfil de quem não quer saber se têm as mãos sujas, as unhas imaculadas, a camisola pintada de aguarela. Perfil com perfume a merenda da escola. Perfil de risada pura. Perfil de menino que caminha num trilho retorcido de sacola às costas, indiferente aos porquês e não se faz. Perfil de um puto que segreda Bom dia ao senhor muito-muito-velho que ninguém vê e que está à saída da escola.  Perfil de um R, que sem medo vai pé-ante-pé pelo trilho de giz desenhado no chão da escola...

R. & o trilho

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Meninos & Mães

Meninos lábios-cor-de-amora, roxo-púrpura, que acenam um sim desesperado e buscam a mão das Mães por entre fios e gritos sonoros das maquinarias. Meninos lábios-cor-de-amora que deixam cair as pálpebras na dança de um tórax retalhado e irrequieto que teima em não parar de respirar. Meninos lábios-cor-de-amora com olhos pretos de medo que teimam em falar. Meninos com histórias que vão e vêm muitas vezes. Meninos filhos de Mães que cortam as lágrimas de lábios cerrados e por entre sussurros segredados soltam um "...mais uma etapa...Tu és forte...". Meninos filhos de Mães com medo rodeados de pessoas estranhas vestidas de anjo que agarram com alma a vida por um fio...
Agradeço ser uma dessas pessoas. Agradeço agarrar o fio com as unhas pintadas de branco. Agradeço que me deixem tentar. Agradeço acorrentar a água nos olhos ao ouvir o sussurro segredado. Agradeço que sobrevivas...

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O que não adoro

Não adoro sushi desenhado quase arquitectonicamente. Não adoro ser organizada. Não adoro figos que pingam açúcar. Não adoro cor-de-laranja. Não adoro bacalhau com batatas num dia qualquer. Não adoro a Páscoa dos ovos de chocolate que fazem borbulhas. Não adoro neve sem chá quente a fumegar. Não adoro, mas detesto, pessoas que se esquecem dos outros. Detesto ter as pálpebras dormentes e ninguém dar conta. Detesto ser da Terra do Nada, ou antes, ser da Terra do Tudo, mas que façam o Tudo parecer um Nada. Detesto que me vendem os olhos, me ponham a mão na boca e me anestesiem a alma. Detesto não falar o que penso. Detesto não poder fazê-lo. Detesto pessoas-queixinhas, pessoas-jornal, pessoas-arrogantes-novas-ricas, pessoas-deprimidas sem porquê, pessoas-petulantes, pessoas que vão sempre ao mesmo restaurante, pessoas que habitam num conforto-cego, pessoas que não sabem dar abraços de olhos fechados, pessoas que perguntam às pessoas erradas.
Quase detesto esta crónica porque é tão crua e escura... mas adoro tê-la escrito num ápice e não ser interminável!

Noites de pestanas dormentes em que ninguém dá conta

Descoberta

Adoro pessoas-sem-umbigo. Adoro um café que pinga de uma máquina de um café qualquer. Adoro olhos preguiçosos que fazem as pestanas beijarem-se interminavelmente. Adoro o cheiro a terra acabada de tomar um banho de chuva. Adoro botas de salto agulha que fazem vertiginosamente crescer uns dez centímetros. Adoro o barulho diluído da saída da escola. Adoro um pedaço de braço que foi feito para mim. Adoro os caminhos  voluptuosos que serpenteiam o Douro. Adoro sorrisos da alma. Adoro um crepe embrulhado em rodelas de banana e chocolate quente a borbulhar. Adoro ar fresco no rosto que invade a janela do carro. Adoro o escarlate-quente do natal. Adoro passeios de olhos vendados, taquicardizantes. Adoro bocados de tempo em que não se fica mudo. Adoro pessoas que tem malagueta-doce na ponta da língua. Adoro ouvir "minha Mãe". Adoro o nome Rita. Afinal, descobri que adoro planos, programas, itinerários... dos que fazem a alma saltar de dentro, dos que esquecem o Mundo, dos que pretensiosamente só querer ser felizes...


quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Os médicos que têm filhos

Há os médicos que têm filhos perfeitos, intocáveis, que raramente adoecem, que têm nomes não correspondentes ao género (... só porque fica bem), que aprendem a ler antes de aprenderem a brincar...
Há outros médicos que têm filhos que nascem perfeitos com imperfeições e que aprendem a estar sem bata vestida, que erguem no colo meninos sem berços de seda, que dão colheradas de amor a meninos de pés descalços, que afagam os cabelos negros entrelaçados em nós despenteados... Sou eu e alguns mais!

Ao R., o menino perfeito dos giros mínimos e imperfeitos, gargalhada da mãe e caracóis aveludados do pai, que me despiu a bata intocável...
Aos médicos com filhos imperfeitamente perfeitos que têm que despir a alma e rir de fazer doer a barriga do vazio infeliz dos médicos com filhos genuinamente perfeitos, das interrogações idiotas e bolhas inquebráveis de preconceito.

R & Mamã by My Frame

Pingos de meninos

Meninos-nuvem-de-tempestade que os há, há. Meninos-nevoeiro conheço alguns. Meninos-ventania, meninos-raio-de-sol, meninos-trovoada e meninos-tropicais, salpicados de um pouco de tudo.
Meninos-nuvem-de-tempestade, são meninos que não aprenderam a rir ou esqueceram-se de quando o fazer. São meninos-cinzentos, agitados, em reboliço, que não gostam de chocolate quente e não sujam as mãos na terra. Não sabem dar abraços e beijam com as bochecas num beijo veloz envergonhado. Há meninos-nuvem-de-tempestade que nasceram assim e outros que ficaram cinzentos porque não conheceram outras cores.
Há meninos-nevoeiro, muitos meninos perdidos pela Terra que espreitam a alegria dos outros meninos, que afogam os medos, as dúvidas e as lágrimas no opaco manto frio. Conheço muitos meninos-nevoeiro e sopro-lhes palavras que espero que os aqueçam.
Os meninos-ventania, são meninos estouvados, que correm de mochila às costas, uns atrás dos outros numa romaria de fim de escola, não pensam e fazem, jogam às fisgas, tem as pernas pintadas de nódoas negras e não sabem a tabuada.
Meninos raio-de-sol, tomam banho todos os dias, sabem comer com faca e garfo, brincam na rua com os amigos, gargalham, dão beijos molhados com lábios-achocolatados.
Meninos-trovoada são meninos quase nuvem-de-tempestade, mas que não têm lágrimas.
Meninos-tropicais são meninos recheados de tudo, meninos que riem, choram, brincam, saltam, beijam quando querem, abraçam.
Porque há tantos meninos? Porque cada menino tem uma história que vai pincelando a alma. E, cada história é um pedaço de puzzle que nasce, que vem e que vai, que encaixa melhor ou pior, que se gosta ou não. Cada pessoa, cada sítio, cada festa de aniversário, cada grito, cada olhar, cada beijo pincelam essa história. 
Perguntam-me: Devem os Pais mostrar todos os sentimentos aos filhos?
De cabelo esparguete nero quase todo retorcido de tanto pensar na resposta, baralhada pela teoria dos livros, respondo o quase previsível: todos os sentimentos, N-Ã-O.
A ira, a discussão-malagueta, a raiva-canina, as palavras feias, a inveja, o orgulho-imperial, a preguiça-desmedida- cito quase os sete pecados capitais- deverão ser refreados, abafados, apagados, abolidos. Os  outros sentimentos... talvez. Um lágrima não contida, uma tristeza consentida, uma angústia dos bolsos vazios, uma perda visceral, são permitidos de um modo collant de Inverno, que não deixará passar tudo. Afinal, não temos Pais coração de pedra. E, faz parte da aprendizagem: chorar e limpar as lágrimas dos outros, abraçar um mau momento, saber que há passos errados e ruas tortas e que há mealheiros vazios. Pais tristes e infelizes não é sinónimo de meninos tristes e infelizes, é antes sinónimo de meninos que aprendem o verso das histórias e que sabem e aprendem a virar as peças para o lado certo. Há sentimentos e sentimentos, há pais e pais, há peças do puzzle que têm dois lados. O importante é errar e ensinar a corrigir, é chorar e saber sorrir de seguida, é dar o passo errado e procurar uma saída. 
E, é por isso que há tantos meninos, porque há muitos pais que ainda são aprendizes de viver e ser feliz,  porque há avós, porque há festas de aniversário, porque há um mundo recheado de peças de puzzle que  se vão guardando.
O que queria era apenas e só que existissem meninos-tropicais, salpicados de um pouco de chuva, sol, trovoada, vento e puramente f-e-l-i-z-e-s.

Meninos




quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Orquestrada

Tardes de sábado em que iluminados pelo sol que deixa pingar um sopro quente na janela, compomos um trio quase carnavalesco... 
R: Camisa abafada de xadrez, chapéu-safari a empurrar os caracóis cada vez mais fartos, anel da vovó no polegar num tom hippie-desmazelado, pensos rápidos coloridos colados na viola de sempre, desenhada na mão uma tatuagem equina com caneta de tinta lavável (bendita!).
Mamã: pandeireta improvisada com um aro metálico qualquer.
Vovó lábios de morango: viola erguida a driblar as cordas desafinadas com uma caneta.
Um, dois, três... O R. canta os pedaços que lhe soam mais fáceis, o Ei e o Ou, bate o pé tal e qual, sabe de cor e salteado a sequência das músicas e faz a viola dançar na mesma dança que o menino do bate o pé...
Orquestra amestrada num hino único de risadas...


Convido-vos a ouvir a favorita do R.: Amor Teimoso (Stubborn love)...
Dancem e batam os pés...
Risos

R. em modo Lumineers


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Regresso às crónicas

Pausa. Espaço. Reticências de muitos pontos. Eco.
30 dias de pausa, silêncio de um teclado mudo.
Mas, regressou o perfume a caril, apimentado de palavras, os temas que vêm à cabeça e que apetecem escrever... Temas que vêm e vão, metade já nem me lembro.
Regresso às crónicas e espero que regressem comigo...


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

A chegada do R.

E há 6 anos foi assim...
Lua grávida de luz tal e qual eu, sem ter mais por onde esticar. Janela entreaberta a deixar espreitar a luz do candeeiro fosco da rua vazia. Brisa quente ofegante que não entra. Dor visceral que abraça o útero e aperta o diafragma num passo ritmado ofegante. Dor que se reconhece, indescritível, que tem sabor a um medo inquieto de o conter no colo. Registos solitários de minutos que se encurtam. Retrato de um sorriso eufórico à espera de um ideal previsível. Horas a fio, imensas, de um entra e sai de rostos que vêm e vão e vozes dos que ficam. Retalhos de mulher que aguenta, sem esgar de dor, que se esquece de como respirar, que tem uma sede imensa e que entrou num estado de inercia pelo cansaço. Passaram 12 horas e por entre mãos afiadas que espreitam e comentários sussurrados, a percepção do não está a correr bem aparece em flashs de pensamento. Braços a empurrar a barriga-balão, um calor e uma sede insuportáveis, ouvia-se o primeiro grito débil de menino.
Desaparece a dor. Dissipa-se o calor. Molham-se os lábios. Solta-se um sorriso. E, nesta mixórdia de emoções, o grito débil fica gemido e o menino vira azedo e vai para o reino dos castelos de paredes transparentes. 
Lágrimas rolam no rosto, caladas pelo silêncio das duas da manhã. Que breve instante de maternidade...Que breve sorriso...Que breve momento...Ainda tinha de esperar 17 dias...
Foi assim há 6 anos. 

Barriga-balão no dia do nascimento

Cheguei...

R. & o reino dos castelos de paredes transparentes



sexta-feira, 26 de julho de 2013

Dia dos Avós


Avós de ontem: cabelos caiados de branco, chá de cidreira num bule antigo, beijos que fazem estalidos no ouvido, perfume Tresor com pronúncia de um francês antigo a besuntar o lobo da orelha, passos vagarosos de muitos anos, bife de perú com batatas fritas às escondidas todos os almoços antes dos testes, conselhos antigos que se escutam com ouvidos de mercador.
Avós de hoje: a rondar os cinquenta e poucos anos, cabelos sexys grisalhos ou  tingidos num cabeleireiro sofisticado, corpos ginasticados e de fazer inveja a muitos miúdos de vinte, acelerados, com o perfume de último grito, bonitos e que se confundem com os namorados, palavras  soltas como o pensamento rápido, viajados, mas que também fazem salsichas gourmet às escondidas.
Restam-me os avôs de ontem e tenho os avós (do R.) que são avós de hoje...
Resta-me um O-B-R-I-G-A-D-O que não se diz, não se escreve,  mas acho que se sente pelo que são para NÓS.

Aos Avós um Feliz Dia... Pelas sopas cozinhadas, pelas salsichas às escondidas, pelas palavras, pela angústia, pelas mãos sempre estendidas e sobretudo pelo A-M-O-R interminável...

Vovo B., cabelo riscado de amor


Vovo L, cor de cevada


Sem comentarios
Vovos cor de cevada e labios de morango
Vovo J, almofadinha de mimo
Vovo G, labios de morango

Avo F, o avo de ontem mais de hoje


quinta-feira, 25 de julho de 2013

C-H-O-C-A-N-T-E

Calor desértico que faz ondular o asfalto & cabeça nas nuvens de um corre-corre sem igual é, numa operação matemática de somar igual a erro fatal. Podia chamar-lhe negligente, decadente, mentalidade dormente, irresponsável, detestável, porque julgar é sempre o caminho menos tortuoso, mas prefiro não o fazer... Ocupa-me um pensamento aterrador: pode acontecer ao melhor dos vizinhos da rua, ao professor que se atrasa para uma aula, ao Pai que leva o miúdo à escola de vez em quando... E, um pensamento ainda mais aterrador assistir ao sofrimento solitário, ofegante e suado... É uma luta desigual aprisionada pelos vidros do carro e pelos cintos da cadeira de segurança (parece quase caricato dar-lhe este nome neste contexto)... Porque sei que acontece, que existe e que não são precisos muitos minutos, deixo ficar o alerta brilhantemente conseguido...ABRIR

terça-feira, 23 de julho de 2013

APELO

Lembram-se???

Chave a chave debruça-se o pensamento, recheiam-se as páginas, nasce o livro. Chaves com rosto de galo de Barcelos, chaves com perfume de samba e caipirinha, chaves que contam, chaves que são, chaves que não existem. A minha chave não conhece as outras chaves que namoram nas folhas do livro e anseia o abraço das chaves num Palácio de Lisboa.
Um salva de palmas à ideia arrojada. Uma salva de palmas a quem moldou chaves no pensamento. Uma salva de palmas ao livro A Magia das Chaves.

Em tom de vendedora de rua, apregoo o livro em que tembém desenho uma chave, a chave que é minha e do R. tal e qual ela é. De mão na cintura sem avental (posso dizer que estou de bata imaculada) continuo na cantiga de varina: Quem quer?Quem quer?

Já à venda na livraria Lello & Irmão, maravilhosa pincelada de detalhes de magia. 
A totalidade do valor é a favor da ACREDITAR e o autografo é Meu sem qualquer acréscimo de valor...

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Férias com perfume a antigo

Pegadas na areia, toalhas escolhidas a a dedo, luar imenso de mãos dadas com as estrelas, dedilhar de guitarras a sair nas dunas, pronúncia cantada do sul, beijos que nascem escondidos, gelados de fim-de-tarde numa pastelaria de esquina, mar revolto de ondas agrestes calcadas pelos surfistas, perfume a carvão que invade a sala, som do walkman a borbulhar na cabeça a música favorita (Creep, Radiohead), calções curtos a deixar espreitar um bronzeado de creme de cenoura, cabelo negro-esparguete com sabor a sal, recantos da vila e casa do cimo do monte... Destino de anos e anos a fio, que parecia tão longe, tão desejado e deixava sempre para trás uma paixão enebriante de Verão... Engraçado, a simplicidade de um sítio que deixa pegadas na areia e mais que isso, pegadas na alma...

Praia da Areia Branca


Cardápio

Cardápio dos 6 anos do R:
  • espetadas de morango e framboesa embebidas em chocolate-pingão
  •  bolo da vovó Grace delicadamente enrolado e salpicado de glicose pura e branca
  • groselha em copos de shot
  • pipocas empoleiradas numa taça transparente
  • cupcakes de baunilha besuntados em merengado de limão 
  • mozzarella fatiada pela mamã em bocados geometricamente enlouquecidos com tomate-bebé a nadar numa mistura de azeite e vinagre balsâmico
  • brigadeiros-mulatos que se colam ao palato
  • tarte de maça fumegante do forno ainda quente
  • gelado de bolachas Oreo semi-derretido...
  • limonada que se adoça com colheradas de acuçar não refinado
Reformulo, cardápio dos 6 anos do R: toalha branca comprida onde nascem aqui e acolá pedaços de luz das velas e perfume de malmequeres amarelos, recheada das cores do arco-íris e glicose em estado puro fundida com as gargalhadas de um amor sem igual...

Gargalhadas

 

sábado, 20 de julho de 2013

Desajeitadamente brilhante

Ser menino é descrever de uma forma crua, quase em linha recta o que é diferente, especial...
Seringa de 10 mL carregada de ibuprofeno alaranjado para arrefecer a mente. Não sabe mal, sabe à descrição desajeitadamente brilhante de um menino sobre outro menino da escola. 
"Há um menino na minha escola, que não sabe andar e por isso anda de cadeira de rodas. Tem os braços magrinhos. E, como não sabe comer usa uma coisa igual a esta (seringa) no umbigo... Vou-lhe dizer que hoje fui igual a ele..."
Amei...





sexta-feira, 19 de julho de 2013

Mamã & R

Mamã & R vão-se fundir num retrato...
E, já pensei em mil e um recantos para o fazer. Mas, nada melhor que deixar o desafio a quem segue as crónicas.
Quais as vossas sugestões do melhor local para fotografar?


R-E-T-R-A-T-O

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Ajuda, precisa-se!

Pílulas hiperglicemiantes desenhadas pelas mãos sábias de algum escultor-pasteleiro, são o derradeiro desespero na véspera de mais um aniversário. Começa o desafio... E, os dias galopam até à escolha do bolo número sete do R. Vasculham-se ideias, aceitam-se propostas...

Bolo do 1º mês de vida: a comemorar a chegada a casa do menino azedo que viveu uns tempos no reino das paredes transparentes, um bolo escolhido por entre o cansaço do leite com dextrinomaltose e as terapias

Bolo do 1º mês

Bolo do 1º ano de vida: subtilmente a descrever o trilho deste primeiro ano, vagaroso e lento, como uma locomotiva antiga.

O caminho
Bolo do 2ª ano de vida: um pirata a enganar os diagnósticos e as sentenças. Vivemos uma pirataria...

Pirataria
Bolo do 3º ano de vida: um algarismo apenas, simples, no primeiro ano em que os dedos sabiam dizer quantos anos ia fazer

Três simplesmente
Bolo do 4º ano de vida: Não sei explicar, foi o R. que escolheu...

A escolha do R.
 Bolo do 5º ano de vida: A dar música à vida, com viola sempre...

Viola

O presente delirante...
 Bolo do 6º ano: a procurar incessantemente





sábado, 13 de julho de 2013

Amo-te & massa à bolonhesa

Um A m o - t e... saltou como as serpentinas da língua trapalhona do miúdo olhos de amêndoa. Inocente. Enrolado. Desavergonhado. Trapalhão. Miúdo inquieto de olhos tão típicos, barriguinha a dormitar nas pernas que se abraçam, mímica que esbraceja um pensamento labiríntico, sorriso com paladar  de mel de tão fácil e braços estendidos a chamar quem entra. Eu entrei. Chamou-me com a mão roliça a apontar a bochecha (... tão à R.) e num momento de quase encanto disse um A m o -t e, tão puro, quanto inocente e irresistível. Aproximei-me desse pequeno budinha sentado e logo saltou um beijo babado que colou na minha base de sempre e por entre uma risada de malandrice disse: massa à bolonhesa, quero comer massa à bolonhesa... 

A conquista das mulheres faz-se assim: atrás de um Amo-te, pode estar escondido um pedido tão simples quanto um prato de massa à bolonhesa... Restou-nos um telefonema para o restaurante hospitalar que cheira sempre a sopa!


Amo-te


sexta-feira, 12 de julho de 2013

Abraços

Adoro abraços daqueles que esmagam os corações lado a lado, que fazem estalar os ossos, que mudos gritam alto. Adoro abraços  que se sentem sem se darem. Adoro olhos que abraçam os sorrisos dos outros. Adoro abraços que não se pedem. Adoro abraços que correm para o pescoço estreito e esticam o cabelo negro-esparguete. Adoro abraços que namoram com beijos. Adoro abraços em sussurro de adejo nasal. Adoro abraços puros que me fazem sentir única. Adoro abraços nas árvores de um jardim qualquer. Adoro abraçar causas em que acredito. Adoro os abraços do R., desleixados, lentos, com sabor a pastel de nata...
Adoro as gotas de amor dos abraços... Declaro-me uma abraçadora oficial!

Abraço






segunda-feira, 8 de julho de 2013

Psico-meninice

Células em amora ou em cacho de uva, surfistas num corpo de biliões de células, amigas umas das outras, bonitas e feias, recém-nascidas ou com muitos dias....E, células psicóticas que em surto galopam, que contam histórias de fazer crescer água nos olhos. Conheço muitos meninos que têm células contadoras de histórias. Meninos de olhos grandes sem tecto. Meninos que sorriem derrubados nos lençóis. Meninos que vivem entre quatro paredes, enrolados em fios de cor que entram e saem e entram e saem. Meninos de todos os tamanhos e feitios. Meninos diferentes mas que parecem iguais. Meninos com rosto de bolacha e pele da cor da areia. Meninos que têm desenhos no corpo. Meninos com alma de gigante. Meninos-mágicos que sorriem. Meninos que também dançam e cantam. Meninos que são filhos de alguém. Meninos que são pais de outros meninos.
E, cada vez conheço mais meninos que vão e que vêm...

E, porque hoje uma menina com muitas riscas no rosto, cabelo cor das claras em castelo, com perfume de orquídea, voou empurrada pelas células a que chamo psicóticas, falo-vos deprimentemente de todos os meninos. Porque ainda somos meninos e sê-lo-emos sempre, façamos um pouco do que nos é permitido... Espreitem: http://youtu.be/FkIM-o4-EhI
Eu já o fiz...

Voou...
 

Voo, o tributo

Tributo aos últimos pedaços de tempo, aos últimos minutos de respiração ofegante, aos últimos retalhos de corpo débil, emagrecido e cansado, aos últimos sussurros indecifráveis, aos últimos instantes de pele morna...Se pudesse escolher uma música seria esta...e, vou fazê-lo num iPod de bolso, deixá-la rodar infinitamente para que a dor amarfanhada pela morfina, voe como a chegada dos pássaros. 
Um até sempre... um até já querida P...

Pedaços de vidro que eram brinquedos nas mãos da P

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Gente miúda

Um pedaço de gente miúda em retrato estático daquilo que é o ritmo da vida...Iões de energia, ritmo do peso-pluma, sorriso que vai nascendo por detrás do cabelo enovelado de boneca antiga... 
Que fiques bem pequena M.!


terça-feira, 2 de julho de 2013

Vinte e nove anos de miúdo

Miúdo pernas-de-ganso, betinho do colégio, guitarra numa mão hábil e na outra uma sacola de livros sempre novos, cabelo desenhado à tigela e sorriso tímido no rosto. Vinte e nove anos de miúdo que esconde atrás de um corpo cobiçado e duro de pedra, um coração derretido de gelado de Oreo...
Só deixo ficar com o sorriso cúmplice de sempre um: Somos um do outro... e isso ninguém nos tira...

C & S


sexta-feira, 28 de junho de 2013

IN-DEFERIDO, IN-DIGNADA

E, há coisas que fazem descer vertiginosamente dos saltos-agulha-esticadores-de-pernas a pés descalços... A última: pedido de adiamento da escolaridade do R. que chega InDeFeRiDo!!!
Tal e qual, InDeFeRiDo, mas porquê? Por palavras caras tecladas numa frase mal construída, diz-se que: "... porquanto muito embora da análise processual da documentação enviada decorram indicadores de limitações significativas à funcionalidade da criança, não resulta inequivocamente fundamentada a previsão de um ganho acrescido promotor do pleno desenvolvimento biopsicossocial no contexto educativo da frequência de Jardim de Infância...". Traduzindo: portadores de deficiência moderada a grave ingressam no ensino básico, porque não se prevê qualquer benefício em permanecer na pré-primária mais tempo e depois logo se vê; portadores de deficiência em que se preveja evolução favorável podem beneficiar de mais um ano de retenção na pré-primária. Traduzindo melhor: os deficientes moderados a graves que se arranjem, que se integrem,porque afinal não se lhes é permitido tentar evoluir, progredir; os mais ou menos deficientes (não sei o que isto é) podem ficar mais um ano, vá...a ver se avançam mais um bocadinho. E, o R. pelos vistos é pedagogicamente (porque pelos vistos a parte médica aqui não interessa nada, foi-me dito tal e qual) uma criança portadora de deficiência que terá que ingressar na escola primária JÁ porque não parece lucrar ou ter qualquer evolução se permanecer na pré-primária. Legislação, pedagogia, tretas e balelas de técnicos superiores que destinam um papel assinado sem ler os relatórios que seguem com o pedido. Mãe em surto psicótico quase esquizofrénico, pelo R. e pelos outros Rs, pelo argumento usado, pela passividade das senhoras pedagógicas que ainda me dizem que se falar deste modo (diga-se, pseudo-agressivo) não vou a lado nenhum. Poupem-me!!!
Poupem-me às legislações, às assinaturas cegas, aos protocolos, às falas mansas...

In-deferido... TRETAS...







terça-feira, 25 de junho de 2013

Espelho, espelho meu...

Ambulância que desliza no asfalto ondulante de um calor desértico, ar condicionado de folga, vidros abertos a deixar entrar um vento morno que leva poeira aos olhos... E espelho? Descobri que não há espelho na ambulância... Digo antes, não havia. Um telefonema anedótico e voilá... EsPeLhO!
Ser Equipa é isto: entrelaçar os dedos nos pedidos de ajuda (passo imprescindível do algoritmo do Suporte de Vida), sejam eles absurdos ou não... E, este foi!

Aos queridos TAEs sem excepção por serem os melhores, por serem nossos e por rirem destas coisas de TIPa.

Ei-lo, o Espelho...

segunda-feira, 24 de junho de 2013

R. de regresso

E, com o R. de regresso, regressam também as palavras...
R.-tossinhas, pele tom de caramelo e cabelo ondulado a encher a cabeça, abraços que duram horas e empurram o pensamento e beijos com massa de tomate a besuntar as bochechas. Em noite de sardinhas airosas e balões de S. João que vaidosos enfeitam o céu, a escolha foi penne com tomate. E, de repente, a massinha passou a fazer parte de tudo em redor: mãos, cabelo, toalha de mesa imaculadamente branca e vestido chic sem ombro da Mamã. Comer com as mãos ao olhar espantado da mesa do lado, pedir desculpa à senhora italiana, sorrir sem porquê. 
 Tão simples que é ser F-E-L-I-Z... 

R. e a massa
R & S
R & S




sábado, 22 de junho de 2013

Mais uma noite....

A caminho de mais uma noite... contam-se assim os dedos de uma mão numa única semana! Os minutos têm sabor de gelado de café derretido, o calor aquece a pele pintada de creme com perfume de manga, a água fresca molha o palato e desliza como uma fonte. Mais uma noite em que agarramos nos meninos de cabeça tonta que se perdem pelo caminho ou que alguém perdeu. Têm sido assim, tal e qual, noites em que as pestanas não se deitam e a cabeça fervilha num borbulhar frenético. 
Noite de quinta-feira. Relógio a dizer uma hora da manhã. Telefone a tocar enervado. Menino-chocolate, cabeça macia de toque de cetim, mãos a esconder o rosto cansado, respiração ofegante, coração fugidio. Olhos arrepiados escondidos por detrás da máscara verde-alface e corações-uva-passa de medo. Mãos que mexem, fazem, vêm e vão com o menino-chocolate pelas ruas retorcidas até um destino para eles desconhecido. Cinco da manhã. Menino-chocolate adormecido, calmo, quieto, numa paz merecida é levado pelo corredor ao som da música do life-pack até uma outra cama, até um outro dia. E, passaram assim quatro horas da noite mais pequena do ano em que o dever foi cumprido. Parámos à saída e as pernas doem, as pálpebras pesam e as palavras saem exaustas num atropelo adrenérgico de descarga eléctrica. Demos tudo o que temos, sem pensar em mais nada...
E, espera-me já daqui a pouco, mais uma noite... Mas não quero meninos esquecidos, meninos-chocolate, meninos-preguiçosos, meninos-grão-de-arroz...

Noite de quinta-feira com sabor de dever cumprido
Enf.C e D. e Eu atrás da lente

sexta-feira, 21 de junho de 2013

As Crónicas convidam a Acreditar

A chave que alguém criou deu a mão a outras chaves e daí nasceu A Magia das Chaves
Páginas de palavras escritas algures pelo mundo que vão reverter a favor da Acreditar. E, porque eu acredito que vai ser um sucesso, deixo o convite para o lançamento do livro no qual também deixei uma chave minha, do R. e das Crónicas.


O convite




O rosto do Livro


domingo, 16 de junho de 2013

Deliciosamente arrepiante!


É pelas mãos despretensiosas da I. que o R. aprendeu a dar saltos de pé juntos que de bebes passaram a saltos adolescentes, destemidos, sem precisar de se agarrar a nada. Em troca de uma bolacha de fim de aula, aprendeu a correr, a andar na passadeira, a fazer ainda mais coisas. A I. escreveu coisas tão verdadeiras e que me fazem arrepios de erguer os pêlos dos braços... Porque a I. é a I. do R. e porque as suas palavras dizem que o R. também é dela, passo a citar o que escreveu. Simplesmente delicioso!!!

"Leio os "Sucessos do R." e penso que os vejo tal e qual e em tão pouco tempo!
Tenho o prazer de o acompanhar acerca de um ano e é impressionante a forma como, a cada dia, me surpreende e emociona com um novo e grande sucesso.

Pela primeira vez, entrou de mão dada comigo, embora já muito destemido, deixando a Vovó sentada na sala de espera.
Mais tímido e menos resmungão, cumpriu todas as tarefas, embora com muito medo de andar sozinho, de cair, precisando sempre de uma mãozinha.
Com algum esforço e alguma ajuda da Vovó para a tradução, lá fomos dialogando e estabelecendo uma relação de "amiguinhos" :)
No final até teve direito a 2 bolachinhas pelo bom comportamento!

Agora, bate à porta, de forma a ser bem ouvido, abre-a e diz "Boa tarde".
Conta-me que foi à escolinha, que comeu sopinha, arroz, frango e maçã...que pintou, cortou e brincou com o Marco e a Mariana e que a mamã o foi buscar!
Conta-me uma história que começa com "Era uma vez...", quase sempre "...uma menina chamada mamã", e que termina com "Vitória, vitória, acabou a história!" - sucesso da última 6f.
Resmunga mais, diz que está cansado e que tem muita fominha, querendo ir logo comer as bolachas...
Cruza os braços e diz "Estou triste"...Pergunto-lhe o que tem, respondendo com uma frase completa "Eu não tenho nada!".
Tudo isto para descansar um bocadinho das subidas completas ao espaldar que a mamã não gostaria muito de ver ;p, dos saltos no trampolim que já é capaz de fazer, da marcha em terreno mais do que instável, das bolas verde e amarela, dos jogos com coisinhas muito pequeninas para agarrar com os dedinhos!
Entretanto também cantamos sempre a musica do Coelhinho que a mamã tem no carro :)

E poderia continuar a contar tudo o que ele já é capaz de fazer de uma forma tão surpreendente, mas nunca mais acabaria.
Além das aquisições mais do que evidentes a nível motor, é fascinante a forma como a sua linguagem evoluiu, como diz praticamente todas as palavras de forma tão perceptível, como constrói frases, com mantém longos e fluidos diálogos.

É uma criança adorável e apaixonante. Já não consigo imaginar os meus fins de dia de 3f e 6f sem o beijo molhado e o abraço apertado dele.

Um beijinho para a mamã e para o R. **



Postado por Irina Leal no blog Crónicas de estetoscópio e biberão em 16 de junho de 2013 04:40"




Momento de saltos dançarinos arrojados
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