Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe



Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe


sexta-feira, 31 de maio de 2013

London Part I

Londres...viagem-suspiro de pouco mais de quarenta e oito horas. Um frio audaz que mima as pernas escondidas nas leggings primaveris. Um metro antigo sem escada rolantes que faz suar. Uma mistura de cores, palavras e comidas. Um perfume a caril nas ruas onde garotas adolescentes de cabelo cor do sol e pele de areia passeiam na mão uma bebida quente da Starbucks. Um canto de rua com perfume a limonada pelos corredores, de paredes compridas, terraço assombroso e que se chama M-e.
Primeira paragem: Portobello Road. Obrigatório! Casas de boneca coloridas, de alpendres floridos e bicicletas encostadas que pedem que se espreite pelas janelas. Lojas românticas de vestidos alinhados, flores nas bancas de rua e telas vendidas às escondidas. Cupcakes delicados e vaidosos numa vitrina de virar da esquina na famosa Hummingbird bakery que num piscar de olhos nos fazem voar para dentro da minúscula bakery e ficar com a cabeça à roda...
Segunda paragem: Big Ben, alto e majestoso...uma ponte agitada sobre o rio sujo e o London eye, de rodopio vagaroso. 
Terceira paragem: Varanda-bar ícone da cidade do Me. Copo de rosé da lista valiosa na mão e vista de 360 graus sobre a cidade... Sofás acolhedores, chillout e risadas de gente bonita depois do trabalho, candelabros elegantes que vestem o chão e cobrem de luz.
Quarta paragem: primeira porta de restaurante com fish & chips na ementa da rua. Sem indecisões! Fritos com fritos mas very british...( e eu que nem como peixe)
Quinta paragem: lençóis estendidos da cama fresca com perfume de limão...
E, não me lembro de mais nada...

Escrito em dia dois de Londres a poucas horas de Alicia Keys no O2 Arena... Até já!

quarta-feira, 29 de maio de 2013

O piquenique...quase!

Pessoas de toalha estendida na relva, das cestas de verga recheadas de iguarias que fazem abanar as folhas das árvores, dos bolos de iogurte e morangos fatiados em taças coloridas, temos o prazer de anunciar (imagine-se que o digo numa pose majestral, de braços erguidos e sob um pano escuro de fundo): o Piquenique.
O dia em que Portugal faz anos.
Os ponteiros do relógio inclinados para cima e para a direita. 
No sítio do costume dos passeios acelerados, dos patos rabugentos que deslizam nas lagoas, das árvores desenhadas com bolas esvoaçantes... é só procurar!
Dress-code: num suspiro esquizofrénico, apetecia-me que fosse o branco a cor do piquenique, se vos apetecer, claro...
Se os amigos podem ir? Não se pergunta...O piquenique é de todos...
O que devo levar? O-b-r-i-g-a-t-ó-r-i-o, o sorriso. De resto, tudo o que fizer crescer água na boca. Desde bolos da avó até maças verdes, desde sumo de maracujá até mozzarela com pimenta-rosa, desde framboesas até batatas fritas salgadas que fazem engordar os lábios.
Quem vai ao Piquenique? A curiosidade fez mal ao gato (para não dizer outra coisa)...O R., a Mamã do R. e a lente-viva do Tales of Light vão concerteza...
E porquê o piquenique? Simplesmente, porque sim... Querem melhor argumento???!!!


Simplesmente: 10 de Junho, 15 horas, Parque da Cidade do Porto




R.-amigdalítico

Bochechas vermelho-malagueta, gritos zangados de mau-estar, estrada estreita ao fundo da língua ponteada como os morangos sumarentos, termómetro que dispara em foguetão, Mamã de pálpebras preguiçosas pós-noite, Londres à minha espera dentro de poucas horas: sinónimo de R.-amigdalítico. 
Colo-mimado da Mamã e da Vóvó cor-de-cevada, paracetamol que faz colar as pontas dos dedos, ataque-pronto aos bicharocos com outros remédios da farmácia, risada rouca de volta...

Ser filho de Pediatra não é fácil e ser Mamã com vinhetas também não....

Repartida

segunda-feira, 27 de maio de 2013

24 horas

Refresco de groselha com scones que ainda fumegam a verter doce de morango, deitada numa espregaçadeira daquelas brancas de hotel sofisticado, despida num biquini reduzido florido, a embalar a alma numa voz negra e quente que adormece as pálpebras. Era tudo o que me apetecia agora...
Mas, galopo exausta para as vinte e uma horas de uma árdua corrida de vinte quatro a pediatrar por entre estetoscópios, colos amarfanhados, tosses, febres que fazem disparar os termómetros lentos, pintas que dão comichão e choros birrentos.
Por entre cafés torrados que queimam a língua, tento acelerar os ponteiros dos relógios do mundo, na ânsia de que passe rápido...
 
Hoje sou feita de grãos de café
 
 
 
 

domingo, 26 de maio de 2013

SOS, style-advisor precisa-se

Espelho, espelho meu...Alguém tem um blog mais bonito do que eu?
Ontem, descobri a resposta...T-O-D-A a gente tem um blog mais bonito que o meu e disse-o num tom frontalizado de quem não dormira...
Dedilho no teclado a um ritmo alucinante e feroz, mas o make-up do blog é uma pintura amadora, diria até quase pindérica de cor-de-rosa eléctrico que mascara as palavras. Hoje, olhei-o vezes sem conta  e encaixei que não percebo nada de design, tecnologias ou blog-beauty.
 
 
S-O-S, precisamos de um style-advisor...
 


SOS

O dia de ontem

Solidariedade, foi a palavra que retirei deliciosamente escrita num papel tingido de branco e dobrado em quatro por entre muitos papéis... É uma palavra cheia de letras alinhadas, cheia de amor, partilha, vontade, ânsia, risadas. É dar a mão a outra mão e a muitas mãos. Foi o dia de ontem. Olheiras assombrosas escondidas pelo creme-seda de cor chocolate (dizem as más línguas muito escuro para a minha tez), saltos-cunha para aguentar as pernas doridas do sobe-e-desce das horas de um dia e noite passados no hospital, lábios cor-de-cereja e o coração na ponta da língua. Palavreei sobre a Sofia, a Mamã e a Pediatra, sobre o R. e sobre os Rs, sobre o mundo escondido do lado de lá da porta. O R., interdito de vestir amarelo dos pés à cabeça, pintou e entrou de rompante na sala morna que aquecia o coração e pôs um bigode para uma fotografia com a Mamã. Abracei e falei em palavras com os amigos, a quem chamo de amigos invisiveis, e percebi quem está do lado de lá das palavras...Amei conhecer as mãos que dedilham os posts que nos dão asas. Amei conhecer a princesa cabelo cor-de-fogo e colo ardente de amor. Amei os balões brancos a desenharem um bouquet, o perfume a alfazema, as bolachas-nuvem, a iogurtada de manga...Amei dar e receber.
Pelo que escrevo, pela repetição desavergonhada da palavra amor em modo conjugado pretérito perfeito, retrato o dia de ontem numa outra palavra: amor.
Amor em palavras com voz, dedilhadas despretensiosamente, barato, gratuito, puro, com cheiro de criança, pintalgado de cor.
Obrigada a todas: Ana Manta, Ana Varão, Red Apple, Magda Gomes Dias (Mum´s the boss), Francisca Ortigão Guimarães (Maisena), Inês Simões (Maravilhas da Maternidade) e todas as bloggers do dia...
À Casa do Caminho, à voz doce que enche os ouvidos de ternura, um até já...a visita será em breve...
Os presentes agradeço à Ana, à Prilim pim pim e à My frame.
R. de bigode austero e Mamã de laçarote..
By My Frame

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Aquele Abraço...

O que uma letra faz ao casar com outras...  
A- simples vogal.  
Braço- parte do corpo humano que com o seu irmão gémeo fazem coisas, batem palmas, constroem. A+ Braço= Abraço... 
Há os abraços-fita-cola que fazem colar os corações, pegajosos, braços lentos, quentes, palpitantes, de respirações ofegantes que soletram no ouvido. Há os abraços-saudade molhados de lágrimas, tensos, brutos, velozes, que nascem incógnitos nas chegadas dos aeroportos. Há os abraços-agitados dos pequenotes em fim de consulta que se encostam à cadeira rodopiante por terem sido uns heróis. Há os abraços-fusão que pingam dos amigos de sempre. Há os abraços-saltitantes, que saltam dos braços sem pensar, que se dão aos que nunca vimos, aos que estão do lado da má noticia, aos que choram. Há os abraços-explosivos nos campos de futebol, nas ambulâncias que chegam de Bragança, nas conquistas, nas vitórias, no inesperado. Há os abraços-do-R  que não sei descrever por palavras, chamo-lhe aquele abraço...

Digo com um sorriso cheio que sou dona de muitos abraços... À Marta, pelo abraço inesperado à chegada de um transporte pediátrico de intermináveis nove horas, durante as quais apertamos a mão à senhora de capa escura... Um abraço breve, genuíno e puro, de dever cumprido...
Deixo ficar um abraço, não aquele porque esse é meu e do R.

Aquele abraço

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Proposta indecente...

Chamo-lhe proposta indecente porque é irresistivel, deixa água na boca, acelera o ritmo cardíaco e deixa a cabeça nas nuvens, literalmente... Projecto de sonho para um presente de sonho!
Minutos a horas de um voar com asas a sério e deixar por terra os medos.
Deixo assim ficar o desafio ou diria antes, deixo ficar esta proposta indecente...


Wind three six zero degrees niner knots cleared for takeoff runway three five...Bom voo!

Conversas à parte, o convite

Porque há conversas sérias, diplomáticas, despidas, cruas. Porque há conversas da treta que se apagam com uma borracha segundos depois. Porque há conversas de café com o amigo incógnito do lado, amigo do café de todos os dias, sem nome. Porque há conversas secretas, segredadas ao ouvido, quentes. Porque há conversas ocas, pobres e baratas. Porque há conversas indiscretas, da janelas das vizinhas por entre olhares escondidos. Por entre conversas, desafiaram-me a conversar sobre conversas e porque adoro conversar, aceitei o desafio. Conversas à parte, adoro estas conversas!
Conversaremos sobre o quê? Pais & Filhos & Blogs... Viagem alucinante de um dia que promete ser fantástico com o fascínio de conversar com amigos invisíveis. Conversas que dão a mão a uma casa de nome antigo de portas abertas para meninos de alma rasgada e desenham caminhos em linha recta - Casa do Caminho. Conversas que carimbam de beijos pastilha-elástica deliciosos  e inventam sorrisos. Conversas que fazem crescer.
Para os que gostam de conversar, para os que têm amigos invisíveis, para os que v-i-v-e-m com os outros: Conversas com Pais na Rede.
Convite feito.
E não esquecer de levar...

domingo, 19 de maio de 2013

Menina grão de café

Olhos azeitona iluminados, fios de cabelo enrolados a fingir um penteado de rapaz, pele morna da cor dos grãos de café, nariz tímido e achatado, leve como uma pena. Menina veloz que gastava horas da sua existência numa vigilância hospitalar e teimava em não querer aterrar nas camas velozes da sala do fundo do Serviço de Urgência. Menina grão de café de sorriso escondido e olhos sedutores que abria os braços minúsculos para a minha farda branca cansada. Ergui-a num colo fugaz e numa dança súbita encostou as pernas franzinas na minha anca voluptuosa, fazendo de mim um sling humano. Ficamos assim por instantes sem fim, sem sorrisos, mas com olhares cúmplices... Atravessamos a porta da sala do fundo e olhamos o rodopio de meninos, meninas, mães e tudo o mais. 
Menina grão de café que sorria com os olhos azeitona, levaste-me no teu colo franzino a ver que do lado de cá da porta também se é feliz.

Às meninas grãos de café, cara pálida, nariz esmurrado, barriga rasgada, lábios secos. Aos de farda verde e branca. Aos do lado de lá do telefone. A aprender a ser feliz do lado de lá da porta...

Meninos grãos de café






quarta-feira, 15 de maio de 2013

A música do R.

Porque um retrato parado tem vozes e dança... Porque o R. dedilha a viola transparente como ninguém... Um concerto orquestral mudo que dura minutos sem fim. Música para os meus ouvidos...
Eis o retrato,

A música do R.


segunda-feira, 13 de maio de 2013

Os direitos das pessoas com deficiência...

Bla, bla, bla....Os direitos das pessoas com deficiência...Bla, bla, bla...
Adoro as pessoas que bla, bla, bla sobre os direitos das outras pessoas. Adoro as pessoas que dão o rosto cuidado enfeitado de brincos esmeralda reluzentes pelas inúmeras associações, instituições e bla, bla, bla outras ..ções. Adoro escutar o politicamente adequado e aquilo que os corações têm fome de ouvir.
Mas o que mais adoro é fazer de cada momento a diferença. Fazê-lo sozinha e ordeiramente. E, infelizmente os momentos têm sido demasiados por isso resolvi escrever. É tão simples quanto isto... As grandes superfícies comerciais, gourmet, apetrechadas e ecléticas, dispões de lugares de estacionamento prioritários nomeadamente para pessoas com deficiências motoras (embora poucos, a meu ver). Obviamente que as pessoas sensatas que não usufruem deles, nunca precisaram de estacionar em qualquer um deles e, talvez por isso, nunca tenham reparado quem lá estaciona. 
Carro enorme, cheio de papelada desordenada no banco do passageiro, a ditar um dono-condutor-empresário de fato aprumado e gravata de nó bem feito que cheio de pressa para tratar dos seus negócios milionários, encostou a viatura nesse lugar, sem qualquer símbolo de D-E-F-I-C-I-E-N-T-E no vidro da frente do carro. Num ápice de fúria, sai do carro com o dito cujo símbolo no vidro da frente e dirigi-me ao segurança, solicitando numa voz trémula de malagueta vermelha que pretendia falar com o responsável. Um senhor simpático e envergonhado desculpava-se pelo facto de não poder fazer nada. Pois não, não podia...Ninguém pode! As minhas costas podem trazer ao colo um rapazolas gorducho que felizmente até já vai caminhando, mas e se fosse uma pessoa sozinha com uma cadeira de rodas?, deixo a pergunta no ar. Respondeu com um encolher de ombros tímido.
Faço questão de dizer que é absolutamente inadmissível: um só lugar de parqueamento em cada piso, o não controlo de quem lá estaciona, o não se poder fazer nada. Faço verdadeiramente questão e sozinha, num suspiro furioso e voz trémula chamar a atenção para cada senhor responsável. Faço questão de pedir, implorar, alertar que deveriam ser feitos cartões e lugares de estacionamento para pessoas que embora sem deficiência motora, tem que estacionar a sua deficiência moral mais perto dos acessos.
Não por nós, por mim e pelo R. que até já vai ajudando, não pelas minhas costas que erguem 30 Kg de miúdo, mas por todos aqueles que não o conseguem verdadeiramente fazer.
Lugar a lugar, vamos mudando mentalidades! E dispensamos, bla, bla, blas...

Por isto e muito mais

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Acredito que sim

Acreditar é pensar que sim. Acreditar é inspirar e correr de olhos fechados no vácuo. Acreditar é ir. Acreditar é rechear as mãos vazias com uma força de pantera. Acreditar é dar as mãos ao desconhecido. Acreditar é mergulhar no inesperado. Acreditar é caminhar por estradas infinitas de um calor que faz tremer os olhos, sem dor, horas a fio. Acreditar é sentir que não estamos sós. Acreditar é um verbo com letras infinitas que se desenham nos carris da vida. Acreditamos com feitios diferentes, em quadrados, em círculos ou em linha recta...


À Tia S. senhora de cabelos cor do sol e voz de mel que levou o R. no coração nesta longa caminhada.



A & R & M
Um branco inocente de flores do R para a Tia S

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Porque o R. quis, a Mamã quis e muitos o quiseram...

Porque o R. quis o piquenique, a Mamã também quis... E, muitos outros também quiseram...
Pintam-se as ideias, levantam-se as mãos, vasculham-se as receitas, alinham-se as compotas, rega-se a erva, suplica-se ao sol. Junho, o mês. Duas mãos cheias de dedos de unhas pintadas de aguarela, o dia. Ponteiros de relógio a girar sem saber quando parar. Listas intermináveis numa caligrafia desajeitada. Baú aberto recheado de luz e cor. Malmequeres e mil flores sem nome espalhadas. Retratos das gargalhadas. Perfume a festa. Som de gelado de iogurte com mel. Escrevo palavras soltas num convite branco do ecrã.

O piquenique, hino de amigos de sempre e de amigos invisíveis... Ao R. que soltou o desafio num cordel de pensamento, à Mamã que ouviu, aos que o apanharam num conto de luz- Tales of light- e aos que querem contá-lo connosco.

R.  num conto de luz- retrato de Ricardo Silva

terça-feira, 7 de maio de 2013

Momentos-eu

Muito se fala da cereja redonda e reluzente no topo do bolo, da fava na fatia de bolo-rei, da nota dobrada em mil pedaços que se acha no meio do caminho, das calças de ganga desgastadas de adolescente que uma manhã voltam a deslizar pelas pernas e aterram na outrora cinturinha de vespa. Eu, falo, discurso, verto palavras, sobre a sensação de liberdade de me descalçar depois de uma noite de urgência. Descalço-me, deito os pés sobre a madeira fria, deixo a água correr na banheira, Bon Iver a embalar o pensamento oco, perfume que deixa nos lábios o gosto a água de cocô, minutos infindáveis em que um rio passa por mim... Esta é a minha cereja no topo do bolo, a minha fava do bolo-rei, a minha nota achada, as minhas calças antigas em que volto a caber.
Simplesmente, momentos-eu...

Os momentos-eu são simples, mas luxuosos... São essenciais, são o equilíbrio, a paz interior, um vazio cheio de tudo...Vivam-nos, descalcem-se, comam a cereja do topo do bolo. Posso ajudar? Cá vai...

Um dos momentos-eu... em Herdade da Matinha    

domingo, 5 de maio de 2013

Mãe


Mãe...
Ser Mãe é  beber uma poção de amor interminável, é passar a ter mais coração do que barriga, é ter mãos que são berços, é caminhar de mão dada pelas ruas do mundo, é cair primeiro, é uma assinatura de tinta permanente.
Há muitas mães: as de ventre vazio e coração cheio, as que não o queriam ser, as que não o sabem ser, as que sempre o quiseram, as que guardam a maternidade numa caixa de pandora, as que são sempre magras, as que ficam verdadeiros balões, as que têm medo, as que não têm medo.
Há a minha Mãe,  sorriso que aquece e cabelos revoltos, regaço imenso e mãos de fada que afastam as pedras do caminho. Há a minha Mãe, a minha melhor e Amiga de sempre, que a meu lado, acolheu todas as dúvidas e transformou-as em retalhos de nada. Há a minha Mãe, recheada de um saber sem idade, serena e sábia. Há a minha Mãe para sempre.
Há a outra Mãe, a que cuida, a que dá a mão, a que fica, a que luta, a Mãe cor de cevada que não é a minha Mãe de ventre, mas que é uma Mãe de coração.
Às Mães que têm mais coração do que barriga (mesmo que a nunca tenham tido). Às Mães que o são despretensiosamente mesmo que por instantes. Às Mães dos colos fartos, dos olhos reluzentes e dos sorrisos que sabem a mel. Às Mães que se chamam Maria, Helena, Lurdes e as que têm nomes que não sei...

A um passo de o olhar nos olhos

Mãe G. com o sorriso de sempre

As mães que se encontram pelo caminho

quinta-feira, 2 de maio de 2013

O piquenique

Estendo no papel do caderno de algibeira uma toalha de xadrez vermelho e branco, erva húmida com perfume a verde salpicada de flores  tímidas abrigadas pela sombra de uma generosa árvore. Saltam molhos de rúcula enamorada pelos oregãos da horta do jardim, pedaços triangulares de queijo que recheiam fatias de pão fresco ainda mais triangulares, fatias de melancia que desenham luas crescentes, vasos coloridos que se entornam, tomates obesos besuntados em mozzarella, morangos cor-de-sangue lambidos por açúcar... Glicose a correr na toalha estendida ao sabor da dança de uma bossa nova ritmada e quente enebriada pelas risadas soltas aqui e acolá. Ergue-se a lente da câmara fotográfica das mãos de alguém que olha a vida como um retrato irrequieto a preto e branco ou a cores... As nuvens esfarrapadas como algodão doce abraçam pingos de sol.
Estendo no papel o piquenique, o sítio da erva húmida, os amigos que riem, o dia, a hora, as mãos que erguem a lente e fazem o retrato.


Desafio: o R. quer o piquenique....a Mamã também quer... Queres também?

O R. escolheu o sítio

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Passo a passo...

Um pião que teima em girar ao contrário dos outros, um convite ilustrado de azul e branco com perfume a nuvem gorda de tempestade, uma pedra reluzente que entra no sapato de salto agulha interminável, um turbilhão de pinceladas de cor que dão náuseas, um vácuo nos ouvidos, uma gota de compota de chocolate com pimenta a cair na língua. É, nada mais, nada menos o que viveu dentro de mim com a chegada do R., príncipe de um reino de tulipas magras e esbeltas de mão dada com a sua polimicrogiria
Chegava-me às mãos transpiradas e trémulas um pião que dançava ao contrário dos outros piões, um convite para uma tempestade do deserto, uma pedra brilhante e valiosa nos sapatos milionários em que eu era trapezista, um turbilhão colorido e mágico, um silêncio mudo assustador, uma gota agridoce de compota. Chegava-me às mãos e carimbava o eterno. Nascia um interrogatório confuso, uma ânsia de fuga, um medo desesperado que se foi com o vento, num passo vagaroso de caracol. As respostas surgiam a cada esquina, a cada minuto e aprendi muitas coisas que só as pessoas que tem piões que dançam ao contrário é que sabem. As minhas respostas:
Quem disse que os piões tem que girar para o mesmo lado? Ninguém o disse... por isso, dancem piões com a música que quiserem para o lado que quiserem.
Porque não aceitar os convites com perfume a nuvem cinzenta? As nuvens cinzentas enfurecem-se tal e qual como eu, choram e ficam farrapos soltos que caem nos rios, e deixam espreitar um beijo quente de sol...
Porquê deitar fora as pedras que se escondem nos sapatos de salto agulha? Desçam dos saltos agulha e deixem os pés namorar a erva molhada que faz comichão.
Porque ficar nauseada com um turbilhão de cores? Fechem os olhos, inspirem e sintam o vermelho, o azul, o amarelo a empurrar as pontas dos cabelos...
Porque ficar assustada com o silêncio? Embalem-se no silêncio da água do chuveiro.
Porque não gostar de agridoce? Engolir sem mastigar no princípio, tapar o nariz, beber água e já está...
É um passo lento, vagaroso, dorminhoco... A um passo de ser feliz!


A todos os que estão a aprender a dança dos piões que giram ao contrário. Aos que esperam o beijo do sol. Aos que se descalçam. Aos que fecham os olhos para não ficaram nauseados. Aos que se embalam no silêncio. Aos que gostam de agridoce (ou que estão a tentar gostar). Aos que são aprendizes e aos que ainda não sabem que o são...
À M., amiga até hoje invisível, que é aprendiz. Passo a passo querida M. e todas as Ms que não conheço... o mais importante é ser feliz!


Passo a passo, a ser feliz....