Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe



Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe


sexta-feira, 28 de junho de 2013

IN-DEFERIDO, IN-DIGNADA

E, há coisas que fazem descer vertiginosamente dos saltos-agulha-esticadores-de-pernas a pés descalços... A última: pedido de adiamento da escolaridade do R. que chega InDeFeRiDo!!!
Tal e qual, InDeFeRiDo, mas porquê? Por palavras caras tecladas numa frase mal construída, diz-se que: "... porquanto muito embora da análise processual da documentação enviada decorram indicadores de limitações significativas à funcionalidade da criança, não resulta inequivocamente fundamentada a previsão de um ganho acrescido promotor do pleno desenvolvimento biopsicossocial no contexto educativo da frequência de Jardim de Infância...". Traduzindo: portadores de deficiência moderada a grave ingressam no ensino básico, porque não se prevê qualquer benefício em permanecer na pré-primária mais tempo e depois logo se vê; portadores de deficiência em que se preveja evolução favorável podem beneficiar de mais um ano de retenção na pré-primária. Traduzindo melhor: os deficientes moderados a graves que se arranjem, que se integrem,porque afinal não se lhes é permitido tentar evoluir, progredir; os mais ou menos deficientes (não sei o que isto é) podem ficar mais um ano, vá...a ver se avançam mais um bocadinho. E, o R. pelos vistos é pedagogicamente (porque pelos vistos a parte médica aqui não interessa nada, foi-me dito tal e qual) uma criança portadora de deficiência que terá que ingressar na escola primária JÁ porque não parece lucrar ou ter qualquer evolução se permanecer na pré-primária. Legislação, pedagogia, tretas e balelas de técnicos superiores que destinam um papel assinado sem ler os relatórios que seguem com o pedido. Mãe em surto psicótico quase esquizofrénico, pelo R. e pelos outros Rs, pelo argumento usado, pela passividade das senhoras pedagógicas que ainda me dizem que se falar deste modo (diga-se, pseudo-agressivo) não vou a lado nenhum. Poupem-me!!!
Poupem-me às legislações, às assinaturas cegas, aos protocolos, às falas mansas...

In-deferido... TRETAS...







terça-feira, 25 de junho de 2013

Espelho, espelho meu...

Ambulância que desliza no asfalto ondulante de um calor desértico, ar condicionado de folga, vidros abertos a deixar entrar um vento morno que leva poeira aos olhos... E espelho? Descobri que não há espelho na ambulância... Digo antes, não havia. Um telefonema anedótico e voilá... EsPeLhO!
Ser Equipa é isto: entrelaçar os dedos nos pedidos de ajuda (passo imprescindível do algoritmo do Suporte de Vida), sejam eles absurdos ou não... E, este foi!

Aos queridos TAEs sem excepção por serem os melhores, por serem nossos e por rirem destas coisas de TIPa.

Ei-lo, o Espelho...

segunda-feira, 24 de junho de 2013

R. de regresso

E, com o R. de regresso, regressam também as palavras...
R.-tossinhas, pele tom de caramelo e cabelo ondulado a encher a cabeça, abraços que duram horas e empurram o pensamento e beijos com massa de tomate a besuntar as bochechas. Em noite de sardinhas airosas e balões de S. João que vaidosos enfeitam o céu, a escolha foi penne com tomate. E, de repente, a massinha passou a fazer parte de tudo em redor: mãos, cabelo, toalha de mesa imaculadamente branca e vestido chic sem ombro da Mamã. Comer com as mãos ao olhar espantado da mesa do lado, pedir desculpa à senhora italiana, sorrir sem porquê. 
 Tão simples que é ser F-E-L-I-Z... 

R. e a massa
R & S
R & S




sábado, 22 de junho de 2013

Mais uma noite....

A caminho de mais uma noite... contam-se assim os dedos de uma mão numa única semana! Os minutos têm sabor de gelado de café derretido, o calor aquece a pele pintada de creme com perfume de manga, a água fresca molha o palato e desliza como uma fonte. Mais uma noite em que agarramos nos meninos de cabeça tonta que se perdem pelo caminho ou que alguém perdeu. Têm sido assim, tal e qual, noites em que as pestanas não se deitam e a cabeça fervilha num borbulhar frenético. 
Noite de quinta-feira. Relógio a dizer uma hora da manhã. Telefone a tocar enervado. Menino-chocolate, cabeça macia de toque de cetim, mãos a esconder o rosto cansado, respiração ofegante, coração fugidio. Olhos arrepiados escondidos por detrás da máscara verde-alface e corações-uva-passa de medo. Mãos que mexem, fazem, vêm e vão com o menino-chocolate pelas ruas retorcidas até um destino para eles desconhecido. Cinco da manhã. Menino-chocolate adormecido, calmo, quieto, numa paz merecida é levado pelo corredor ao som da música do life-pack até uma outra cama, até um outro dia. E, passaram assim quatro horas da noite mais pequena do ano em que o dever foi cumprido. Parámos à saída e as pernas doem, as pálpebras pesam e as palavras saem exaustas num atropelo adrenérgico de descarga eléctrica. Demos tudo o que temos, sem pensar em mais nada...
E, espera-me já daqui a pouco, mais uma noite... Mas não quero meninos esquecidos, meninos-chocolate, meninos-preguiçosos, meninos-grão-de-arroz...

Noite de quinta-feira com sabor de dever cumprido
Enf.C e D. e Eu atrás da lente

sexta-feira, 21 de junho de 2013

As Crónicas convidam a Acreditar

A chave que alguém criou deu a mão a outras chaves e daí nasceu A Magia das Chaves
Páginas de palavras escritas algures pelo mundo que vão reverter a favor da Acreditar. E, porque eu acredito que vai ser um sucesso, deixo o convite para o lançamento do livro no qual também deixei uma chave minha, do R. e das Crónicas.


O convite




O rosto do Livro


domingo, 16 de junho de 2013

Deliciosamente arrepiante!


É pelas mãos despretensiosas da I. que o R. aprendeu a dar saltos de pé juntos que de bebes passaram a saltos adolescentes, destemidos, sem precisar de se agarrar a nada. Em troca de uma bolacha de fim de aula, aprendeu a correr, a andar na passadeira, a fazer ainda mais coisas. A I. escreveu coisas tão verdadeiras e que me fazem arrepios de erguer os pêlos dos braços... Porque a I. é a I. do R. e porque as suas palavras dizem que o R. também é dela, passo a citar o que escreveu. Simplesmente delicioso!!!

"Leio os "Sucessos do R." e penso que os vejo tal e qual e em tão pouco tempo!
Tenho o prazer de o acompanhar acerca de um ano e é impressionante a forma como, a cada dia, me surpreende e emociona com um novo e grande sucesso.

Pela primeira vez, entrou de mão dada comigo, embora já muito destemido, deixando a Vovó sentada na sala de espera.
Mais tímido e menos resmungão, cumpriu todas as tarefas, embora com muito medo de andar sozinho, de cair, precisando sempre de uma mãozinha.
Com algum esforço e alguma ajuda da Vovó para a tradução, lá fomos dialogando e estabelecendo uma relação de "amiguinhos" :)
No final até teve direito a 2 bolachinhas pelo bom comportamento!

Agora, bate à porta, de forma a ser bem ouvido, abre-a e diz "Boa tarde".
Conta-me que foi à escolinha, que comeu sopinha, arroz, frango e maçã...que pintou, cortou e brincou com o Marco e a Mariana e que a mamã o foi buscar!
Conta-me uma história que começa com "Era uma vez...", quase sempre "...uma menina chamada mamã", e que termina com "Vitória, vitória, acabou a história!" - sucesso da última 6f.
Resmunga mais, diz que está cansado e que tem muita fominha, querendo ir logo comer as bolachas...
Cruza os braços e diz "Estou triste"...Pergunto-lhe o que tem, respondendo com uma frase completa "Eu não tenho nada!".
Tudo isto para descansar um bocadinho das subidas completas ao espaldar que a mamã não gostaria muito de ver ;p, dos saltos no trampolim que já é capaz de fazer, da marcha em terreno mais do que instável, das bolas verde e amarela, dos jogos com coisinhas muito pequeninas para agarrar com os dedinhos!
Entretanto também cantamos sempre a musica do Coelhinho que a mamã tem no carro :)

E poderia continuar a contar tudo o que ele já é capaz de fazer de uma forma tão surpreendente, mas nunca mais acabaria.
Além das aquisições mais do que evidentes a nível motor, é fascinante a forma como a sua linguagem evoluiu, como diz praticamente todas as palavras de forma tão perceptível, como constrói frases, com mantém longos e fluidos diálogos.

É uma criança adorável e apaixonante. Já não consigo imaginar os meus fins de dia de 3f e 6f sem o beijo molhado e o abraço apertado dele.

Um beijinho para a mamã e para o R. **



Postado por Irina Leal no blog Crónicas de estetoscópio e biberão em 16 de junho de 2013 04:40"




Momento de saltos dançarinos arrojados
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sábado, 15 de junho de 2013

Sucessos do R.

De príncipe outrora azedo, mole como uma minhoca, de choro débil e preguiçoso num passo vagaroso que atormentava o R. de mão dada com alguns aprendeu mil coisas e mesmo as mais simples coisas que se aprendem são o que chamo os sucessos do R.. E, posso dizê-lo com um orgulho que transborda das palavras que passo a passo os sucessos salpicam aqui e acolá, inesperados, amparados pelos meus olhos.
Deixo ficar três sucessos que passaram por mim ontem ao ir buscá-lo ao piquenique da escola. Momentos tão simples que me fazem pensar. Momentos de meninos salpicados de chapéus de xadrez, com rissóis brilhantes nas mãos e perfume de primavera tardia trazido pelo vento lento. Momentos em que o R. está ali sentado, igual a todos os outros meninos.
Primeiro sucesso: De menino azedo a menino doce, doce, doce.
Passo a passo o azedo adoçou e fome é a palavra de ordem. F-o-m-i-n-h-a num soletrado rabugento é gritada sempre que uma vitrine de cupcakes passa por nós, sempre que o príncipe da mesa do lado mastiga uma qualquer iguaria, sempre que um frigorífico está mesmo ali à mão. Tomates crus, penne comida sem garfo que engole com gelatina, sopa de tudo, salsichas mornas que se devoram sozinhas. O que não gosta? Acho mesmo que gosta de tudo...
Segundo sucesso: De voz das mãos a voz na ponta da língua.
As mãos que falam continuam mas as palavras já saltam de um modo desajeitado. Soletra a-v-ó e a-v-ô com uma voz de marioneta e com um v vincado de terras do sul. Diz minha mãe do lado de lá do telefone que me enche a alma. Deixa cair uma ou outra palavra feia que rolam na perfeição e ecoam nos ouvidos de quem está e me fazem corar. Passo a passo, a voz das mãos cresce na ponta da língua... 
Terceiro sucesso: De 46 cm de corpo minhoca preguiçoso a dançarino rechonchudo.
O menino de corpo mole e que não sabia sentar, aprendeu a dança dos outros meninos. Destesta música clean-chic e devora música que tem sabor a caipirinha brasileira. Levanta os braços num movimento ritmado e fá-lo em qualquer canto e esquina. Dançamos no carro ao sabor de qualquer barulho de uma rádio foleira e fazemos os condutores que passam por nós ficar pasmados com a dança que ali vai... Adoramos estes momentos dançantes em que a auto-estrada de asfalto se transforma numa pista de dança de bola de espelhos.

Um pequeno momento do qual bebi uma felicidade tonta, a felicidade dos sucessos do R., tão puros, tão verdadeiros e tão suados.
Pós-dança com sabor a caipirinha




A criação do workshop

Mãos de fada de toque-seda que embala, harpa dos anjos que sussurra baixinho, retalhos de manta que desenha o corpo, paredes tingidas de cor pintada com um sol airoso, num momento a dois ou a três partilhado por alguns.
Porque vamos orquestrar as mãos de fada. Porque queremos meninos com óóss descansados. Porque gostamos de abraços prolongados recheados de amor. Porque gostamos de momentos. Porque adoramos perfume de nuvem. Porque não guardamos os segredos num cofre mas segredamos em surdina. Porque adoramos sorrir e ser felizes.
Por isto tudo e muito mais partilho a criação do M-O-M-E-N-T-O a dois ou a três. São noventa minutos de um suspiro prolongado partilhado a dois ou a três, em que o príncipe e princesa pode dispor de uma massagem do corpo e os pais de uma massagem da alma. Porque fazer? O fim do suspiro explica porque… pais sábios com mãos de fada orquestradas e príncipes felizes.
É um M-O-M-E-N-T-O com perfume de alecrim e que deixa nos dedos pedaços de papa de maçã e bolacha Maria regada com laranja.

Pormenores do Workshop





sexta-feira, 14 de junho de 2013

Chave a chave: o livro

Chave a chave debruça-se o pensamento, recheiam-se as páginas, nasce o livro. Chaves com rosto de galo de Barcelos, chaves com perfume de samba e caipirinha, chaves que contam, chaves que são, chaves que não existem. A minha chave não conhece as outras chaves que namoram nas folhas do livro e anseia o abraço das chaves num Palácio de Lisboa.
Um salva de palmas à ideia arrojada. Uma salva de palmas a quem moldou chaves no pensamento. Uma salva de palmas ao livro A Magia das Chaves.

Em tom de vendedora de rua, apregoo o livro em que tembém desenho uma chave, a chave que é minha e do R. tal e qual ela é. De mão na cintura sem avental (posso dizer que estou de bata imaculada) continuo na cantiga de varina: Quem quer?Quem quer?

A chave do livro


 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

O recanto de Lisboa

Príncipe Real, recanto do coração de Lisboa, viciante, a não perder, essencial. 
Jardim salpicado de quiosques de refrescos com apelidos giros imperdíveis. Bebo uma laranjada vaidosa que arrepia de doce o coração em Quiosque de Refresco.
Porta sim, porta sim de lojas maravilhosas que me fazem voar para contos infantis, tecidos de princesa, cestas de praia de boneca. Não resisto a um R que vai ser feito em tecidos que não escolho porque entrego a gosto e a uma cesta de verga forrada de um tecido florido que reclama praia na Tales in Details.
Miradouro que estende a  moça mais que menina Lisboa aos meus olhos debaixo de um sol radiante ardente.

Ao H. por me fazer espreitar esse recanto cheio de graça, entre muitos outros.

Maravilhas na Tales in Details

Laranjada & Limonada em Quiosque de Refresco

Sardinhas da Tales in Details

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Crónica de uma tripeira pela Lisboa dos Santos

Mais moça que menina
Saia rodada vestida
Manjericos e perfume a sardinha
Lisboa, cheia de vida...



Ruelas estreitas que desaguam desde a Bica até à Sé de Lisboa e daí até Alfama. Espreitam aqui e acolá retalhos de cor. O caminho? Basta seguir o perfume a sardinhas assadas, a música que o vento traz e  espreitar as portas abertas de casas de bairro com bancadas de madeira improvisadas para a venda de refrescos aos sedentos de festa. Os degraus descem acelerados até à Alfama bonita. E, ei-la a receber uma tripeira de braços abertos, becos apinhados de gente, cabelo estrelado penteado com fitas coloridas que desenham feitios no céu, mesas soltas pela rua recheadas de sardinhas reluzentes, pão fatiado, copos de vinho e conversas embriagadas, voz de bailarico e rebuliço. Cheira a sal com entremeada salpicado com o perfume dos manjericos exibicionistas e orgulhosos dos seus poemas de autor desconhecido. Cheira a farturas com açúcar e canela a bezuntar os lábios de uma tripeira fascinada. Perde-se o sotaque da Lisboa que conheço e entranha-se a vida de uma Lisboa antiga, cheia de vida, despretensiosa. Conheci finalmente a Lisboa que a avó Lurdes descrevia com um sorriso nos lábios finos e um brilho incandescente nos olhos cor de esmeralda. Sim, esta devia ser a sua Lisboa mais moça que menina, vaidosa mas descalça e de mãos na anca roliça.

Elevador da Bica

Alfama a receber de braços abertos

Alfama de fita no cabelo

Sardinhas prateadas ansiosas por uma brasa

A casar com o Galo de Barcelos da cozinha, uma sardinha
catita comprada numa lojinha de Lisboa
Manjerico



terça-feira, 11 de junho de 2013

Obrigado

Erva caldo de legumes, vento fresco de Outubro, chuva miudinha que encolhe os cabelos, cestas arrumadas na despensa, cancelado... Alternativa em modo amuado de menina birrenta zangada com o Santo das nuvens e dos baldes cheios de água: chá & café em Serralves. A pontualidade quase britânica do costume fazia-nos chegar a um terraço de paredes verdes e cadeiras ainda inclinadas para fugir da chuva, mesas vazias de rosto frio e  um senhor simpático que mal sabia que ia haver um motim de mães e meninos e pais e gargalhadas. Foram pingando a cada segundo dos ponteiros, as crónicas com voz foram correndo pela mesa, a lente foi captando momentos e os minutos passaram. Os abraços prometidos e o famoso beijo pastilha-elástica aconteceu.... Amigos invisíveis a virarem amigos de sempre! Uma palavra a cada uma pela ordem alinhada das letras do abecedário.
Ana Manta, maravilhosa voz doce de cabelo cor de sol de fim de tarde de Verão que aquece com o sorriso as palavras. Ana Margarida Coelho, vizinha da rua do lado e companheira da alma, mãos de fada dos contos de infância, abraço que prometido aconteceu do nada e em segredo disse-me tudo. Andreia Neves dos Santos, amiga invisível que veio, abraçou, deu beijo pastilha-elástica, pintou e fez acontecer uma amizade de e para sempre. Claúdia e Beatriz, primas-bolacha do R. que lhe continuam a dar a mão. Cristina Pereira, de braços agitados como eu e gargalhada que contagia como a varicela, airosa e mãe muito mais do que das 5 às 8. Marta, a minha Marta dos abraços desnorteados que saltam do coração. Olga Sequeira, a mãe do H....( não preciso deixar mais palavras) Sofia Rodrigues, coração cheio de vida e olhos ternurentos. 
Porque as mães têm filhos e porque os filhos têm pais e tios: a eles também.
Deixo cair no teclado um O-B-R-I-G-A-D-O pelo chá, pelo café, pelos abraços, pelo livro, pelos mimimos, pelo MoMeNtO que nos encheu de felicidade.
Mas a toalha está costurada em retalhos ansiosa pelo Piquenique...e nós também!











domingo, 9 de junho de 2013

Migalhas de menino

Migalhas de menino de cor de queque de açucar e canela, de olhos amendoados meigos e pedinchas de paz pincelados por umas pestanas de fazer inveja a uma qualquer vaidosa, de palavras preguiçosas e mãos bailarinas. Nas mãos trouxemos migalhas de menino na ambulância arco-iris e deixamo-lo espreitar o sol, os escassos raios de sol que sorriram ao vê-lo passar. São estas migalhas de menino e este sol airoso que espreitou na hora certa, no caminho certo, que me fazem empurrar com um sorriso saciado as horas intermináveis que ainda vêm.

sábado, 8 de junho de 2013

O DIA

Porque sempre acreditei em mudanças. Porque anseio conhecer os amigos invisíveis. Porque o Piquenique vai ser com chuva ou sol, o DIA...

S. & o Piquenique

Coisas simples... que me fazem Ser

Pedaços de coisas que me fazem Ser.
AnJoS. Porque são brancos, têm asas e sobrevoam a imaginação desde sempre. Porque têm vozes de meninos mimados, soltam gargalhadas e perfumam-se com pó de talco. Adoro nomes de anjos, rostos de anjos e vozes de anjos. Sugestão: Voz de Coro de Anjos
LiVrOs & PaLaVrAs. Cadernos de papel polido, palavras soltas derramadas nas paredes, uma frase sem assinatura. São o rosto da alma de alguém, a história, a vida que se desfolha aos olhos dos outros. São a nudez que faz sorrir, que faz chorar, que faz não conseguir parar de ler. São apontamentos de um qualquer momento. Sou eu em qualquer momento da minha adolescência a desfolhar um livro na imponência talhada a ouro da livraria de sempre. Sugestão: Livraria Lello & Irmão
PrAiA. Despenteada pelo frio que faz por cá ou bronzeada pelo sol morno de outros dias. Respira-se maresia de olhos fechados e mão gelada pelo copo de água fresca. Conversa-se na esplanada ou olha-se simplesmente em redor as vidas que correm no passeio imperioso até à Foz. A pele que vira cor de chocolate de leite a derreter... Sugestão: Esplanando
PoRTo. Cidade outrora cinzenta do lado de lá do Rio onde salpicam barcos de pontas desenhadas a pincel. Cidade onde nasci, onde vivi e onde descubro ainda recantos com som de varinas e senhoras da ribeira. Sinto a pronúncia na alma e um colo apertado em cada pegada. Esta sim, cidade maravilhosa de gentes simples que dizem muitas asneiras da forma mais genuína que se pode ver. Sugestão: Porto
PeSsOaS qUe RiEm. Que riem por fora, mas sobretudo que riem por dentro. Que riem como se lhes fizessem cócegas nos pés, que riem agora ou que esperam rir. Que não riem amarelo. Que dão abraços sorridentes e que riem ao ver os outros rir. Que riem de comédias que não têm piada e que riem um dia mais tarde dos tropeções. Só conheço algumas... Sugestão: olhar em redor e escolher apenas alguns...

PrAiA

PeSsOaS qUe RiEm

LiVrOs & PaLaVraS



quinta-feira, 6 de junho de 2013

S & as Cerejas

CeReJaS. Gordas-balão, pele envernizada de uma juventude capa de revista, vestidas de vermelho-escarlate, ainda com pé verde solitário que fervilha na chaleira e perfuma um chá antigo da avó, que estalam na boca em cada duas únicas trincadelas, que arrepiam a alma. Adoro bancas de rua onde as cerejas são bailarinas-equilibristas a fazer beicinho repleto de gloss para irem parar a qualquer terrina de uma qualquer casa e não ficarem para o dia seguinte à espera de serem compradas. Adoro cerejas que chegam em sacos plásticos quase transparentes ou em caixas-branca gourmet. Acho que adoraria ver cerejas nas árvores e roubar uma ou outra, mas nunca vi. Adoro brincos-de-cereja desde sempre a enfeitar as orelhas virgens de uma princesa-bailarina de cabelo atigelado preto-carvão. Adoro devorá-las uma a uma, quase sem lavar, compulsivamente. Adoro perfumes-cereja que deixam um rasto florido pelos corredores doentes. Adoro presentes-cereja.
E, adoro cerejas-confidentes... As que tocam à campainha a meio da tarde de sofá-obrigatório, pós-picadela na barriga-balão de mãe-ansiosa. As que, muitas, são engolidas num suspiro mágico de apagar os momentos difíceis.

Obrigado cerejas do saco transparente quase a rasgar de tão apinhado, por me encherem um pouco mais a barriga, mas muito, mesmo muito a alma nesse dia de amniocentese de há cinco anos atrás.

Agora o ombro-amigo é meu: S. & as cerejas


Os meninos & as coisas: PREVENÇÃO

Os meninos & as coisas são uma coisa por demais... Colheres de café magricelas, moedas de algibeira desgastadas, peças coloridas de lego, bicharocos de jardim com asas, copos de bebidas coloridas adormecidos na mesa de cozinha, enfeites de cabelo de princesa, xaropes perfumados verdes e cor-de-rosa-morango esquecidos no armário debaixo, botões abonecados de casacos quase a cair, drageias do avô esquecido com ar de pastilha elástica, alfinetes-de-dama retro-chic: todos bons petiscos na idade da descoberta.
Porque quase todos os dias há um menino aventureiro-destemido que petisca uma destas coisas e porque vão sempre existir meninos que num toque de magia descobrem nos recantos mais recônditos um bom petisco, levanto a bandeira vermelha (num tom quase autoritário) que diz: P-R-E-V-E-N-Ç-Ã-O.
Se a curiosidade levou a espreitar a palavra P-R-E-V-E-N-Ç-Ã-O - que empurrava para um lugar que dá a mão aos Pais dos meninos da Terra- dispensam-se todos os sermões que poderia dar em palavras exaustivas de sala de aula. 
Mas as coisas vão sempre existir perto dos meninos e os meninos vão sempre ter coisas e mesmo com o maior dos cuidados, basta um suspiro para que uma qualquer coisa se transforme mariposamente num belo petisco.

Procura-se menino sem medo de picas, aventureiro-destemido que fez de um alfinete-de-dama um belo petisco de  fim de tarde de quarta-feira



Meninos & Resiliência & Parentalidade

Meninos & Resiliência & Parentalidade...
A mera opinião da Mãe Pediatra e da Pediatra-Mãe...a minha!!! Só espreitar e opinar por favor, sobretudo se discordarem.


quarta-feira, 5 de junho de 2013

Coisas Fúteis ou talvez não que fazem voar

CoIsAs FúTeIs ...Ou TaLvEz NãO qUe FaZeM vOaR...
BiCiCleTaS. Urgente comprar uma. Cesto dianteiro de verga, retro-chic, simples, branca. Qualquer bicicleta é alvo de um retrato roubado veloz com a lente que trago sempre em punho. Sugestão: Dourobike
MoNtE aLeNtEjAnO. Irresistível... O pão fresco pela manhã, embebido em compota de um fruto qualquer, os recantos que fazem viajar até às arábias, o perfume morno a bolo acabado de cozer no forno, o sol risonho, o arco-íris que rodopia e leva o pensamento a mergulhar num silêncio algodão-doce. O café que sabe a um bom-dia puro. Os cavalos e as praias corridas de um eco absoluto. Os livros escritos a tinta branca nas paredes. As velas que pairam nas lanternas salpicadas por cada recanto. O retiro de paz... Sugestão: Herdade da Matinha
VeStIdOs BrAnCoS. Acima ou abaixo do joelho, esvoaçantes, de um branco-imaculado a rechear o sol e a deixar saltar para fora a pele cor de chocolate. Sugestão: Ali-jo & Angel
VeLaS. Redondas, altas, que iluminam os rostos em fim de tarde, que decoram as mesas do jardim. Em candelabros, em copos de água, em lanternas prateadas elegantes, penduradas na oliveira solitária do jardim desarrumado. Sugestão: Zara home
ReTrAtOs. A torto e a direito. Lente em punho quase sempre. As fotografias são momentos que se guardam para sempre, são instantes, são pedaços da vida. Eu, meramente amadora, fotógrafa de trazer por casa, sou viciada em fotografias. Sugestão: Ricardo Silva Fotografia

Lista interminável...mas, não hoje não tenho mais tempo para voar no papel....

 
Retrato de bicicleta em Portobello Road
Vida a cores S em Herdade da Matinha

Livros de parede em Herdade da Matinha

Armazém de branco da S.

Velas na festa do R.
R. pela lente do Ricardo Silva

terça-feira, 4 de junho de 2013

Ser Pai é a melhor profissão do mundo

Quatro da manhã nos ponteiros, brisa amena com perfume a maresia, café torrado da máquina e um pensamento puro e cru: Ser Pai é a melhor profissão do Mundo!
Dissera-o com um tom tão cru que quase que lhe espreitei para o pensamento, nas palavras desgastadas das horas solitárias com o príncipe de colo, uns olhos enegrecidos dos sonos perdidos, um coração esmagado pela angústia de estar sozinho. Dissera-o a mim, quase segredado que descobrira que de repente se vira sem a Mãe do príncipe de colo e tivera que sr Pai-Mãe e não só Pai. Esboçava uma lágrima pendente no canto do olho e tecia à minha frente, uma mera desconhecida que pouco ou nada sabia sobre a sua pessoa e as suas gentes, o elogio mais romântico que já ouvira à Mãe do seu príncipe. Porque não sei quem ela é ou se vai ouvir esse pensamento cru que caira da boca em surdina, escrevo-o.
O homem franzino de braços trémulos descobrira que ser simplesmente Pai era no mínimo muito diferente de ser Mãe e dissera-o de uma forma quase romântica de filme a preto e branco.

Desculpem os Pais que se sentem agredidos com este pensamento...Infame? Injusto? É só a verdade crua e a declaração de amor à Mãe do seu filho mais romântica que se pode fazer a alguém...
Não podia deixar de não o escrever.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

O B-O-O-M...

O b-o-o-m das Crónicas aconteceu nesta manhã em que me foi dada a oportunidade de conversar sobre os Rs... 
Para um pedido especial, com um piscar de olho atrevido, é só espreitar.... 

Aos curiosos

Aos curiosos: As Crónicas & o Facebook....

R. barriga-às-voltas

De R. amigdalítico a R. barriga às voltas... Mais uma dose de mezinhas da vovó: chá açucarado, água de arroz insípida, maça cozida, banana, sopa de cenoura e arroz. Pote em punho. R. de lábios papel-crepe fechados. Colo aquecedor a postos. 
A tentar escapar a uma viagem ao reino das agulhas e das garrafas transparentes. 
E, o passo de mágica é soprar os bichinhos daqui para fora...


domingo, 2 de junho de 2013

B, B-I, B-irras...

Bochechas inchadas, braços dobrados em v, palavras mudas, lágrimas furiosas a rolar pelo queixo, dedinhos-beliscão, sons rupestres zangados recheados de ira, são as B, B-I, B-irras do R. 
E, são muitas...
Engana-se  quem acha que só os filhos dos outros fazem birras. Engana-se quem acha que birra é sinónimo de má educação. Engana-se (e muito) quem diz que os seus filhos nunca o irão fazer.
Conheço birras-anãs, em surdina, da sopa que não se quer comer e do pijama que não se quer vestir. Conheço birras-com-letra-maiúscula, de bater os pés no chão, gritos desenfreados, por tudo e por nada e sem saber porquê. Conheço os pais dos meninos das birras, das caras que coram e os olhos que se deitam pelo chão, das mãos que seguram e da voz que sussurram. Conheço-me a mim que recheada da teoria pediátrica dos livros fico paralisada, impotente e não cedo a uma palmadinha travadora de birra.
Falar de birras é olhar em redor e encher a boca para dizer que conheço muito mais birras de gente grande...
B, B-I, B-irras, afinal quem não as tem?

R. em momento pós-birra


Meninos todos os dias...

Meninos pé-de-feijão são as crianças de verdade, aprendizes de ser crescido sem carimbos, pés descalços e duros, que sobem as árvores em segundos, que saltam as pedras dos rios, que não têm champô com perfume de maçã e que não vão à escola. Meninos da mamã, são muitos meninos que conheço, farda do colégio de gravata retorcida, pronunciam palavras compridas como as centopeias e dizem-no como se estivessem a soletrar, mãos singelas e coração frágil, com medo de espreitar escondidos debaixo de uma saia elegante qualquer. Meninos pé-descalço de olhar vivo e quente, choro cantado que se adivinha, língua de fora por detrás da esquina, que escorrem por entre os dedos.
Meninos papel-vegetal de rosto transparente por entre os lençóis do hospital, cabeça lisa de finos cabelos que fazem cócegas as palmas das mãos e palavras soltas a empurrão,  levados pela fadiga, mas não-derrotados. Meninos-guerreiros que tecem no rosto uma força desconhecida, que calados constroem uma rua onde antes só existia pedregulhos. Meninos-da-rua, (alguns que até vivem em casas),  barulhentos, que fazem braço de ferro, que comandam outros meninos. Meninos-borboleta que vivem dentro das páginas dos livros, que fazem contas de somar de cabeça, que carregam na mochila os sonhos. Meninos sem relógio... meninos que aprendem as coisas simples da vida a passo de caracol, meninos que vivem no reino branco sem ponteiros, com perfume a nuvem e margaridas, que dão gargalhadas sem porquê, que enchem o coração com uma migalha de nada. Meninos com muitos anos, são os meninos que guardamos cá dentro, os retratos de babeiro no primeiro dia de escola, as idas à praia nas férias, o primeiro beijo de amor.

Meninos de todas as cores, de corações recortados ou endurecidos, sou eu, é o R. e somos todos. Bocados de meninos soltos que desenham um puzzle de criança. 
Meninos de todos os dias...

Dois meninos com pingos de todos os meninos da Terra