Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe



Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe


sexta-feira, 26 de julho de 2013

Dia dos Avós


Avós de ontem: cabelos caiados de branco, chá de cidreira num bule antigo, beijos que fazem estalidos no ouvido, perfume Tresor com pronúncia de um francês antigo a besuntar o lobo da orelha, passos vagarosos de muitos anos, bife de perú com batatas fritas às escondidas todos os almoços antes dos testes, conselhos antigos que se escutam com ouvidos de mercador.
Avós de hoje: a rondar os cinquenta e poucos anos, cabelos sexys grisalhos ou  tingidos num cabeleireiro sofisticado, corpos ginasticados e de fazer inveja a muitos miúdos de vinte, acelerados, com o perfume de último grito, bonitos e que se confundem com os namorados, palavras  soltas como o pensamento rápido, viajados, mas que também fazem salsichas gourmet às escondidas.
Restam-me os avôs de ontem e tenho os avós (do R.) que são avós de hoje...
Resta-me um O-B-R-I-G-A-D-O que não se diz, não se escreve,  mas acho que se sente pelo que são para NÓS.

Aos Avós um Feliz Dia... Pelas sopas cozinhadas, pelas salsichas às escondidas, pelas palavras, pela angústia, pelas mãos sempre estendidas e sobretudo pelo A-M-O-R interminável...

Vovo B., cabelo riscado de amor


Vovo L, cor de cevada


Sem comentarios
Vovos cor de cevada e labios de morango
Vovo J, almofadinha de mimo
Vovo G, labios de morango

Avo F, o avo de ontem mais de hoje


quinta-feira, 25 de julho de 2013

C-H-O-C-A-N-T-E

Calor desértico que faz ondular o asfalto & cabeça nas nuvens de um corre-corre sem igual é, numa operação matemática de somar igual a erro fatal. Podia chamar-lhe negligente, decadente, mentalidade dormente, irresponsável, detestável, porque julgar é sempre o caminho menos tortuoso, mas prefiro não o fazer... Ocupa-me um pensamento aterrador: pode acontecer ao melhor dos vizinhos da rua, ao professor que se atrasa para uma aula, ao Pai que leva o miúdo à escola de vez em quando... E, um pensamento ainda mais aterrador assistir ao sofrimento solitário, ofegante e suado... É uma luta desigual aprisionada pelos vidros do carro e pelos cintos da cadeira de segurança (parece quase caricato dar-lhe este nome neste contexto)... Porque sei que acontece, que existe e que não são precisos muitos minutos, deixo ficar o alerta brilhantemente conseguido...ABRIR

terça-feira, 23 de julho de 2013

APELO

Lembram-se???

Chave a chave debruça-se o pensamento, recheiam-se as páginas, nasce o livro. Chaves com rosto de galo de Barcelos, chaves com perfume de samba e caipirinha, chaves que contam, chaves que são, chaves que não existem. A minha chave não conhece as outras chaves que namoram nas folhas do livro e anseia o abraço das chaves num Palácio de Lisboa.
Um salva de palmas à ideia arrojada. Uma salva de palmas a quem moldou chaves no pensamento. Uma salva de palmas ao livro A Magia das Chaves.

Em tom de vendedora de rua, apregoo o livro em que tembém desenho uma chave, a chave que é minha e do R. tal e qual ela é. De mão na cintura sem avental (posso dizer que estou de bata imaculada) continuo na cantiga de varina: Quem quer?Quem quer?

Já à venda na livraria Lello & Irmão, maravilhosa pincelada de detalhes de magia. 
A totalidade do valor é a favor da ACREDITAR e o autografo é Meu sem qualquer acréscimo de valor...

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Férias com perfume a antigo

Pegadas na areia, toalhas escolhidas a a dedo, luar imenso de mãos dadas com as estrelas, dedilhar de guitarras a sair nas dunas, pronúncia cantada do sul, beijos que nascem escondidos, gelados de fim-de-tarde numa pastelaria de esquina, mar revolto de ondas agrestes calcadas pelos surfistas, perfume a carvão que invade a sala, som do walkman a borbulhar na cabeça a música favorita (Creep, Radiohead), calções curtos a deixar espreitar um bronzeado de creme de cenoura, cabelo negro-esparguete com sabor a sal, recantos da vila e casa do cimo do monte... Destino de anos e anos a fio, que parecia tão longe, tão desejado e deixava sempre para trás uma paixão enebriante de Verão... Engraçado, a simplicidade de um sítio que deixa pegadas na areia e mais que isso, pegadas na alma...

Praia da Areia Branca


Cardápio

Cardápio dos 6 anos do R:
  • espetadas de morango e framboesa embebidas em chocolate-pingão
  •  bolo da vovó Grace delicadamente enrolado e salpicado de glicose pura e branca
  • groselha em copos de shot
  • pipocas empoleiradas numa taça transparente
  • cupcakes de baunilha besuntados em merengado de limão 
  • mozzarella fatiada pela mamã em bocados geometricamente enlouquecidos com tomate-bebé a nadar numa mistura de azeite e vinagre balsâmico
  • brigadeiros-mulatos que se colam ao palato
  • tarte de maça fumegante do forno ainda quente
  • gelado de bolachas Oreo semi-derretido...
  • limonada que se adoça com colheradas de acuçar não refinado
Reformulo, cardápio dos 6 anos do R: toalha branca comprida onde nascem aqui e acolá pedaços de luz das velas e perfume de malmequeres amarelos, recheada das cores do arco-íris e glicose em estado puro fundida com as gargalhadas de um amor sem igual...

Gargalhadas

 

sábado, 20 de julho de 2013

Desajeitadamente brilhante

Ser menino é descrever de uma forma crua, quase em linha recta o que é diferente, especial...
Seringa de 10 mL carregada de ibuprofeno alaranjado para arrefecer a mente. Não sabe mal, sabe à descrição desajeitadamente brilhante de um menino sobre outro menino da escola. 
"Há um menino na minha escola, que não sabe andar e por isso anda de cadeira de rodas. Tem os braços magrinhos. E, como não sabe comer usa uma coisa igual a esta (seringa) no umbigo... Vou-lhe dizer que hoje fui igual a ele..."
Amei...





sexta-feira, 19 de julho de 2013

Mamã & R

Mamã & R vão-se fundir num retrato...
E, já pensei em mil e um recantos para o fazer. Mas, nada melhor que deixar o desafio a quem segue as crónicas.
Quais as vossas sugestões do melhor local para fotografar?


R-E-T-R-A-T-O

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Ajuda, precisa-se!

Pílulas hiperglicemiantes desenhadas pelas mãos sábias de algum escultor-pasteleiro, são o derradeiro desespero na véspera de mais um aniversário. Começa o desafio... E, os dias galopam até à escolha do bolo número sete do R. Vasculham-se ideias, aceitam-se propostas...

Bolo do 1º mês de vida: a comemorar a chegada a casa do menino azedo que viveu uns tempos no reino das paredes transparentes, um bolo escolhido por entre o cansaço do leite com dextrinomaltose e as terapias

Bolo do 1º mês

Bolo do 1º ano de vida: subtilmente a descrever o trilho deste primeiro ano, vagaroso e lento, como uma locomotiva antiga.

O caminho
Bolo do 2ª ano de vida: um pirata a enganar os diagnósticos e as sentenças. Vivemos uma pirataria...

Pirataria
Bolo do 3º ano de vida: um algarismo apenas, simples, no primeiro ano em que os dedos sabiam dizer quantos anos ia fazer

Três simplesmente
Bolo do 4º ano de vida: Não sei explicar, foi o R. que escolheu...

A escolha do R.
 Bolo do 5º ano de vida: A dar música à vida, com viola sempre...

Viola

O presente delirante...
 Bolo do 6º ano: a procurar incessantemente





sábado, 13 de julho de 2013

Amo-te & massa à bolonhesa

Um A m o - t e... saltou como as serpentinas da língua trapalhona do miúdo olhos de amêndoa. Inocente. Enrolado. Desavergonhado. Trapalhão. Miúdo inquieto de olhos tão típicos, barriguinha a dormitar nas pernas que se abraçam, mímica que esbraceja um pensamento labiríntico, sorriso com paladar  de mel de tão fácil e braços estendidos a chamar quem entra. Eu entrei. Chamou-me com a mão roliça a apontar a bochecha (... tão à R.) e num momento de quase encanto disse um A m o -t e, tão puro, quanto inocente e irresistível. Aproximei-me desse pequeno budinha sentado e logo saltou um beijo babado que colou na minha base de sempre e por entre uma risada de malandrice disse: massa à bolonhesa, quero comer massa à bolonhesa... 

A conquista das mulheres faz-se assim: atrás de um Amo-te, pode estar escondido um pedido tão simples quanto um prato de massa à bolonhesa... Restou-nos um telefonema para o restaurante hospitalar que cheira sempre a sopa!


Amo-te


sexta-feira, 12 de julho de 2013

Abraços

Adoro abraços daqueles que esmagam os corações lado a lado, que fazem estalar os ossos, que mudos gritam alto. Adoro abraços  que se sentem sem se darem. Adoro olhos que abraçam os sorrisos dos outros. Adoro abraços que não se pedem. Adoro abraços que correm para o pescoço estreito e esticam o cabelo negro-esparguete. Adoro abraços que namoram com beijos. Adoro abraços em sussurro de adejo nasal. Adoro abraços puros que me fazem sentir única. Adoro abraços nas árvores de um jardim qualquer. Adoro abraçar causas em que acredito. Adoro os abraços do R., desleixados, lentos, com sabor a pastel de nata...
Adoro as gotas de amor dos abraços... Declaro-me uma abraçadora oficial!

Abraço






segunda-feira, 8 de julho de 2013

Psico-meninice

Células em amora ou em cacho de uva, surfistas num corpo de biliões de células, amigas umas das outras, bonitas e feias, recém-nascidas ou com muitos dias....E, células psicóticas que em surto galopam, que contam histórias de fazer crescer água nos olhos. Conheço muitos meninos que têm células contadoras de histórias. Meninos de olhos grandes sem tecto. Meninos que sorriem derrubados nos lençóis. Meninos que vivem entre quatro paredes, enrolados em fios de cor que entram e saem e entram e saem. Meninos de todos os tamanhos e feitios. Meninos diferentes mas que parecem iguais. Meninos com rosto de bolacha e pele da cor da areia. Meninos que têm desenhos no corpo. Meninos com alma de gigante. Meninos-mágicos que sorriem. Meninos que também dançam e cantam. Meninos que são filhos de alguém. Meninos que são pais de outros meninos.
E, cada vez conheço mais meninos que vão e que vêm...

E, porque hoje uma menina com muitas riscas no rosto, cabelo cor das claras em castelo, com perfume de orquídea, voou empurrada pelas células a que chamo psicóticas, falo-vos deprimentemente de todos os meninos. Porque ainda somos meninos e sê-lo-emos sempre, façamos um pouco do que nos é permitido... Espreitem: http://youtu.be/FkIM-o4-EhI
Eu já o fiz...

Voou...
 

Voo, o tributo

Tributo aos últimos pedaços de tempo, aos últimos minutos de respiração ofegante, aos últimos retalhos de corpo débil, emagrecido e cansado, aos últimos sussurros indecifráveis, aos últimos instantes de pele morna...Se pudesse escolher uma música seria esta...e, vou fazê-lo num iPod de bolso, deixá-la rodar infinitamente para que a dor amarfanhada pela morfina, voe como a chegada dos pássaros. 
Um até sempre... um até já querida P...

Pedaços de vidro que eram brinquedos nas mãos da P

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Gente miúda

Um pedaço de gente miúda em retrato estático daquilo que é o ritmo da vida...Iões de energia, ritmo do peso-pluma, sorriso que vai nascendo por detrás do cabelo enovelado de boneca antiga... 
Que fiques bem pequena M.!


terça-feira, 2 de julho de 2013

Vinte e nove anos de miúdo

Miúdo pernas-de-ganso, betinho do colégio, guitarra numa mão hábil e na outra uma sacola de livros sempre novos, cabelo desenhado à tigela e sorriso tímido no rosto. Vinte e nove anos de miúdo que esconde atrás de um corpo cobiçado e duro de pedra, um coração derretido de gelado de Oreo...
Só deixo ficar com o sorriso cúmplice de sempre um: Somos um do outro... e isso ninguém nos tira...

C & S