Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe



Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe


quinta-feira, 24 de abril de 2014

Reedição de Epidural, mitos & dicas

As crónicas têm uma nova vertente. Uma vertente menos romântica, mais do que vem nos livros e do que não vem também. Respostas a perguntas que às vezes temos vergonha de fazer. Curiosidades que fazem parte da Medicina. Um pedido feito ao qual se vão seguir muitos outros. Um desafio aceite. Introduzo assim, sem querer parecer pretensiosa, o homem mais maravilhoso do Mundo que é também um anestesiologista fabuloso, como eu própria já o pude confirmar. Deixo as dicas que lhe permitem ser o mágico que faz com que o parto seja um momento menos doloroso. Tal e qual o escreveu:

Pedro A Pinto, Anestesiologista, futuro Pai babado que sentiu desejo de colaborar...

Dedicado ao R e à S, inspirações criativas presente e futura por trás das palavras da adorável S...

“O Sô Anestesista é médico?...”
Fiquei sem palavras... soltei um estrondoso sorriso embebido numa gargalhada silenciosa...
Isto de sermos amigos de Morfeu tem as suas “vantagens”, mas também apresenta algumas peculiaridades bem explanadas na pergunta que muitos colegas meus sentiriam como ofensiva ou sinal de descrédito...
Mas não foi isto que me pediram... Sou Anestesiologista, sim Anestesiologista, esse “ser” temido pelo comum dos mortais de quem muitos precisam e muitos não querem ver...
A parte mais visível da minha arte é justamente a anestesia para Obstetrícia. “Dar a epidural...”, expressão curiosa que não é mais do que a colocação de um cateter na região lombar da coluna para administração de medicação para alívio de dor do trabalho de parto.
Durante este procedimento vão sentir uma ligeira picada para anestesia da pele e uma sensação normalmente descrita com um “empurrar das costas”. Nada demasiado incómodo!!
A vossa colaboração é essencial... sim porque tecnicamente facilita muito o vosso posicionamento.
Após a colocação podemos usar o mesmo cateter, ou via, as vezes que vos for necessária durante o tempo necessário para terem um parto sem dor.
Como maior vantagem apenas vos digo que o vosso bebé agradece, e isso é o nosso maior argumento para com as mais relutantes!!!! Claro que além disso podia estar aqui a enumerar o excelente alívio da dor, a estabilidade cardiovascular, a possibilidade de ser usada para a anestesia para cesariana,...
Medos muitos, por parte das grávidas, que vou tentar desmistificar.
- A epidural não provoca lesões permanentes e tem um risco muito baixo de complicações, maioritariamente com um carácter transitório.
- Das complicações mais frequentes enumera-se as cefaleias (ou “dor de cabeça”), analgesia insuficiente ou ineficaz, “comichão”, dor no local da punção, náuseas ou mesmo vómitos (por norma relacionados com a baixa da tensão arterial), retenção urinária. Todas elas transitórias e com tratamento eficaz.
A nossa função, como profissionais de saúde desta arte, não se resume ao descrito mas seguramente é a “pequena” parte que mais satisfação e orgulho nos provoca...

Com estas parcas palavras apenas quero fazer passar uma ideia muito própria...
“Ajudem o vosso Anestesiologista a ajudar!!!...”


Post Scriptum: Pais (masculino de Mães!!), para vós ainda não fazemos epidural para analgesia de parto, por isso apenas estejam lá de mão dada com as mães e um olhar ternurento e orgulhoso do que acabaram de conseguir!!...

Ss do Pedro Pinto, by Ricardo Silva Fotografia

Pós de magia



Pinceladas de Anjo

Diz-se, lá no reino das casinhas de vidro onde moram meninos e meninas apressados ou distraídos, que: A melhor incubadora é a barriga da Mãe... Tem paredes de veludo besuntadas de cremes anti-estrias, molda-se como um balão, empurra o umbigo para fora, tem a música do coração junto às pontas dos dedos dos pés, aquece e não deixa amarrotar.
Pincelaram ao de leve um anjo de lábios carnudos, com asas enormes douradas e ainda quietas...

Pincelar a barriga, porque não? Convite aceite. Fabulosa surpresa, momento relaxante em que a S dançou em cada pincelada. Recomendadíssimo....
Sneak peak rudimentar do belly painting da talentosa Mary Poppins... A aguardar retratos maravilhosos ainda em modo banho-maria da Elisabete Covelinhas...

Retratos artesanais

Pinceladas de anjo



quarta-feira, 16 de abril de 2014

Meninos costureiros de sonhos

Existem meninos costureiros de sonhos, que juntam os retalhos despedaçados de um infortúnio e dançam poderosos a música da moda. Existem meninos de cabeça lisa como o cume de um monte alentejano que trazem luz nas pupilas e cujo pestanejar, de pestanas raras cadentes, faz vento na alma. Existem meninos que deixam do lado de lá da porta o mundo do ar poluído. Existem meninos que escondem gargalhadas atrás das máscaras coloridas e usam colares de um designer maluco feitos de plástico. Existem meninos que levam consigo uma torre de aparelhos ditadores que apitam com seringas de nomes esquisitos como se fosse uma continuação dos próprios braços. 
Existem meninos que nos fazem pensar e nos enchem os olhos...

À menina poderosa que dança num quarto de hospital de meninos com menos fios de cabelo como se chovesse conferis e serpentinas das paredes e o chão fosse de gotas de água morna das pocinhas da praia... Aos meninos que nos ensinam a ser mais felizes, pequenos grandes guerreiros...

Poderosa...
Retrato de Flashes of Hope


segunda-feira, 14 de abril de 2014

De coração...

Não sei fazer melhor... Não sei repousar mais, ouvir mais melodias de anjo que me fazem flutuar, usar sabrinas de bailarina que me encostam ao chão, refrear os ânimos, resistir às amêndoas besuntadas em chocolate, deixar para depois as viagens. Não sei fazer melhor e o melhor que sei fazer é o que faço, tal e qual...
Pé ante pé, cada dia que passa vejo menos o chão em que piso e aperto menos o fecho das calças... Cada dia que passa risco um quadrado no calendário imaginário e respiro uma lufada de ar fresco, já com perfume a miosótis que me encheram as jarras de casa! Tenho em mim uma S que vive de mim, de um mim que já viveu angustiado outrora e que não sabe bem o que fazer melhor... Só a desejar que corra tudo bem!

Aos que fazem esta viagem parecer mais fluida, mais escorregadia e lhe dão sabor a um magnífico éclair de chocolate clássico.
A ti, meu P, que me levas a enfiar os pés na areia e sentir nas pontas dos dedos como é bom não estar angustiada sozinha. A ti, meu R que nos atropelos das asneiras dás beijos babados na barriga. A ti, pequena S que me estremeces no ventre quase que a dizer que está tudo bem...

Dentro do poço de cimento estão mil estrelas e sonhos...

Ss

Ss

De malas e bagagem














Speakkkkkkk

Confesso que falo pelos cotovelos...

https://www.youtube.com/watch?v=a1LcU7LjpQ4...

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Sling(a) com estilo...

Carrego o amor no colo, ao som do meu coração e amarfanhado no meu calor. Slingar é isso mesmo. Sling é o veículo de transporte da criança mais confortável, seguro e romântico que existe. A minha veia de Pediatra-Mãe diz-me isso... Adeptos fervorosos dos slings, já vamos com alguns slings de padrões e cores diferentes...
Aconselho slings 100% algodão, made in Portugal, quase desde o primeiro dia de vida...

P. das Ss em modo daddy-modelo de sling escolhido para o tamanho dele...
Compramos este e outro e escolhemos os tecidos para um outro...
Espreitem em Maria Café (basta clicar)




Vamos ser Pais...

Vamos Ser Pais!, foi o mote para uma tarde muito bem passada...
Obrigada às barrigudas e barrigudos que ouviram, aos palestrantes que estiveram presentes e deixaram um pouco de saber, à Brígida Brito Fotografia que marcou em retrato o dia, à Mary Poppins que levou o R. a passear no mundo da fantasia, ao convite do D´Barriga casado com a simpatia e atenção do Barrigas de Amor...
Parabéns pelo trabalho maravilhoso...

Falei desde a barriga até à lua...

Retrato


O R. ratolas





quinta-feira, 3 de abril de 2014

Ser Médica

Ser Médica nos tempos que correm. Posso falar por mim, enquanto Médica-Mulher-Mãe, a fundir os 3 Ms como queijo derretido em fogão a lenha. 
Médica de pequenos e graúdos, doentes, na maioria muito doentes, a viver 24 horas consecutivas num hospital cinzento de paredes bem altas, em que a música das máquinas que fazem respirar dança com o choro gritado de alguns meninos e algumas gargalhadas de muitos outros que não estão tão doentes. Especialista em Pediatria com provas dadas e mais que dadas, de uma experiência ganha à conta de muitas horas a custo zero ao estado (só porque muitas vezes as coisas ainda não estavam bem e não era possível ir embora e deixar para trás o menino-filho-de-alguém-que-não-conheço, mas que naquele momento é tão meu que me esqueço de olhar para o relógio). 24 horas que se repetem duas a três vezes numa semana em que o sábado e o domingo não se chamam de fim-de-semana. Horas passadas no asfalto a longos quilómetros do meu sítio, com uma enfermeira e um técnico de ambulância de emergência, a partilhar os minutos em que estamos a ir em direcção a um menino-filho-de-alguém-que-não-conheço. Telefone que não pára de gritar a noite toda, indiferente à claridade da janela e à claridade de pensamento que às 5 horas da manhã já não é lúcido. A Médica que eu sou é isso: sem hora de saída, taquicardizante, inesperada. E, se me queixar, ainda posso ouvir: não foi o que escolheste? E, não deixa de ser verdade...
Mulher, ausente, cansada, sem vontade de ir comprar o recheio do frigorífico e com uma vontade quase ridícula de derreter o cartão em roupas que nem experimento. A isto chamo a Teoria do Eu Mereço.
Mãe do R., que nasceu no segundo ano de uma caminhada pelo internato de especialidade, tão carregado de pequenas imperfeições tão perfeitas. Mãe que não cumpriu horários de amamentação e fez horário nocturno de urgências mesmo quando a lei lho permitia fazer. Mãe que se refugiou no ser Médica para trabalhar mais, ganhar mais e dar mais e esqueceu os direitos sozinha, abdicando de mais tempo, mas mais possibilidade de oferecer aquilo que o R. tinha que fazer e não tinha direito. (Mãe que foi criticada por isso mesmo, o não usufruto dos seus direitos de Mãe.) Curiosamente, quando sou Mãe do R. e da S. (ainda escondida), em resposta à baixa médica indiscutível colocam-me a piadinha do costume: agora todas têm direito, não é? (Mãe criticada pelo usufruto dos direitos de Mãe.)
A Médica-Mulher-Mãe de hoje já não é a mesma de há 6 anos. Aprendeu que as imperfeições fazem parte, que não é insubstituível e que ninguém nos agradece. O que me satisfaz? A forma tonta como percorri esse caminho, recheada de uma energia galopante e sem nunca esquecer que o importante era ser e fazer alguém feliz. Não interessam as rugas riscadas no rosto, as horas não dormidas, as horas não pagas, o tempo não passado. Interessam as horas em que fui Médica-Mulher-Mãe e deixei ficar no turno o riso de cada menino-filho-de-alguém-que-não-conheço. E, a partir de agora, interessa ser mais Mulher-Mãe-Médica... Se me vão deixar? Acho que não, mas sendo assim, temos pena!

O trabalho de 24 horas consecutivas aniquila a lucidez do pensamento e turva qualquer procedimento.  Pergunto eu: Se às 5 da manhã, estivesse a precisar de ajuda o menino-filho-de-alguém-que-conheço em vez do menino-filho-de-alguém-que-não-conheço, as coisas acabariam por mudar, certo?

http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1521676


Médica-Mulher-Mãe do antes