Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe



Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe


quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Spa Forbabies

O toque, a massagem, o pele-a-pele são a pedra basilar do equilíbrio do recém-nascido, lactente e crianças. Estimulam os sentidos, a sensibilidade e despertam o amor. Somos apologistas de massagens, muitas vezes velozes porque a vida de mães trabalhadoras não permite que seja de outro modo. Agora, podemos parar, podemos despertar os sentidos num espaço próprio para os bebes.  Nós vamos experimentar....
Um presente com perfume a bebé, um momento suspirado, uma ideia genial, uma excelente escolha para o Natal: Spa Forbabies by Mustela. 

sábado, 7 de novembro de 2015

Contra o vento

Com a cabeça num turbilhão, tem sido assim. O desejo de escrever desgasta-se e a mesquinhez alheia apodera-se do pensamento. Achava que já sabia gerir poderosamente os olhares ade soslaio, a indiferença e a percepção de que os Rs dão efectivamente mais «trabalho» que os outros meninos. Mas quando após um mês de luta incessante contra um sistema pedagógico instalado, incontornável, duro e egoísta, nada muda, percebo o quanto somos poucos a remar contra a maré.
Reunião com a Coordenação da escola. Tentativas várias de telefonemas em vão. Aparecemos sem avisar e exigimos falar com alguém da direção. Dizem-nos coisas, muitas coisas acertadas que até com algum esforço consigo perceber. Digo-lhes outras em contrapartida, e explico-lhes que os Rs progridem, crescem, evoluem, adquirem competências. Dizem-me num tom brando, lânguido e a roçar a compaixão que «Uma criança deficiente nunca vai deixar de o ser...»... Ficamos por aqui. Páro com um olhar arregalado e a querer esmigalhar o pescoço em frente a mim. (Quase o fiz...) E, eu não sei isso? Não tenho qualquer prurido com o nome, termo, palavra deficiência, nunca tive, nem hei-de ter. Mas o ser deficiente não significa ser incapaz e desprezível. Não significa inércia e passividade. Ficamos por aqui. Sem soluções aparentes. Não nos dão, nem tentam dar, dizem com uma palmadinha nas costas, recheada de quase pena, tentem vocês, porque os pais têm mais força que os professores. Sim, esses tais professores, dessa tal escola que dizem aos pais dos meninos Rs que «o mal tem que se distribuir pelas aldeias».
Se cozinhar cada um destes sábios dizeres, conseguia fazer um livro de bolso que atenta à dignidade humana...
Não tenho escrito por isto, porque só consigo escrever o feio e é duro correr contra o vento.



quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Inclusão da tanga

Primeiro dia de escola. Livros com perfume a novo, lápis aguçados numa ponta quase cortante, mochila alinhada do homem-aranha. Mãos entrelaçadas. Escola nova. Toque sonoro de escola antiga. Entrámos pela porta enorme da escola nova antiga. Miúdos felizes, outros embebidos em baba e ranho e N-ó-s.
N-ó-s, os dois, a arrastar uma mochila nova e uma maleta com o material escolar pedido. N-ó-s, impedidos num rompante de entrar na segunda porta da escola. Impedidos por uma decisão superior, inabalável e pelo furor entusiasmado da Exma. senhora professora que recebia de braços abertos os meninos não esquisitos, mas que nos "barreirou" entusiasta a entrada no mundo dos meninos com direitos. 
N-ó-s, os esquisitos, afinal não entraríamos ali. Não éramos dali, porque assim tinham decidido, porque a esquisitice dá mais trabalho e tem que ficar num edifício ao lado. A nossa escola não era aquela onde os meninos jogam à bola como nós jogamos e distraem-se a olhar pela janela, fazem asneiras e juntam as letras.  N-ó-s, eu e tu, seguimos caminho, para a unidade. Atónita, afónica, taquicárdica. Tu, a perguntar se aquela escola afinal não era a tua. 
E, assim vivemos a aguardar decisões, numa correria desenfreada entre relatórios, pedidos e burocracias,  porque nós os esquisitos, conseguimos aprender a ler, a contar e a crescer, se alguém tiver paciência para ensinar. 


Fala-se da inclusão... Fala-se, não se faz!
Exige-se que os esquisitos se movam mais, lutem mais, gritem mais que os normais. 
Fá-lo-emos com todo o vigor e ira a que ainda temos direito. E, aprenderemos letras, números e a ser respeitados. (Coisa que essa Exma senhora professora não deve nunca ter aprendido.)

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

A-m-o-r

Amor-condensado. Somos nós.
Amor que vive ao contrário.
Amor casado em segredo, sem anéis, véu e grinalda.
Amor em pulseiras.
Amor de ténis em véspera de Natal.
Amor dos cafés antes das entradas num restaurante qualquer.
Amor do Porto velho e sujo.
Amor num terraço de riad marroquino assistido na tribuna pelo Atlas imenso.
Amor sem perguntas.
Amor sem medo, sem diagnósticos ou papéis.
Amor com tudo que sou.
Amor em retratos Lomo nunca revelados.
Amor que aprendeu a gostar de caril.
Amor que faz rir.
Amor que és meu, perfeito de tão imperfeito...




Um blogue com pele sã

Porque somos amantes do sol, das esplanadas brancas, dos passeios junto ao rio e da praia que ainda está por vir. Porque queremos pele de seda cor de café com leite. Porque queremos banhos de mar infindáveis sem medo de virar camarão. Somos Bioderma na pele...

Bioderma, obrigada pelo convite. 


segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O hospital

Um hospital é um livro de histórias fechadas entre paredes. E, a história transforma-se quando estamos de visita, quando estamos doentes, quando somos estudantes ou quando somos uma das peças principais.
Setembro de 1997. Entrei pela primeira vez no hospital como estudante. O cheiro intenso a éter que sempre sentia quando ia ao hospital desaparecera por entre o rebuliço das batas. Cheirava a folhado misto do bar da faculdade no piso 01 misturado com café torrado da máquina irrequieta. Apinhavam-se pessoas de bata branca que circulavam numa azáfama brusca, cumprimentavam-se velozmente e algumas paravam para falar em tom de sussurro e com olhares de soslaio. Era um hospital diferente, um piso de pessoas que tratavam os clientes pelos nomes próprios e sorriam, a Teresa da fotocopiadora, a Marta das Sebentas, o Faustino dos retratos e a tão querida Lina da Associação de Estudantes. Erguia-se imponente ao fundo à direita o Salão de Alunos, um verdadeiro salão de jogos, sofás desbotados de couro castanho e mesas apinhadas de capas pretas e pastas fitadas de amarelo. Era um hospital diferente, igualmente agitado, mas diferente. As pessoas riam, adormeciam as ressacas do dia anterior (ou antes, da semana inteira), faltavam às aulas para jogar cartas, a tuna ensaiava majestosa e feliz alheia do peso atroz dos pisos de cima...
1997-2003. Passam-se os anos, vão e vêm novas caras, deixo de sentir o cheiro a éter, mas mantêm-se os hábitos. As pessoas de bata branca estão mais velhas mas continuam sussurrantes pelos corredores, a máquina de café (não sei se a mesma, embora pareça pelo aspeto velho) continua a vomitar cafés a toda a hora, o salão continua a ser o refúgio da dor dos pisos de cima.
2004-2005. Internato Geral. Já não cheira nada de nada a «hospital». O hospital cheira a «casa». Já sussurro pelos corredores e tomo café pela manhã. Resta-me olhar o salão pelas janelas amplas do piso 2 e assistir de plateia à dança dos alunos-cara-de-bebés.
2006-2011. Internato de Especialidade. Crescida, dedicada à ciência dos pequeninos. Toma-se café na máquina em passo acelerado para as consultas. Não há tempo a perder e já não se olha para o salão. Passou a esquecido.
2011-2013. Pediatra. Pediatra de pijama branco que sai a correr para um hospital qualquer. Que assiste à dor e vive no fio da navalha a ciência que estudou. E, relembra-se do salão... O salão recheado de caras desconhecidas, de miúdos e miúdas de tenra idade que dizem balelas tão próprias da idade e fazem rir. Fica-se por lá a tomar café, a olhar à volta e a abafar o peso dos doentes dos pisos de cima.

Um hospital é isto...



domingo, 16 de agosto de 2015

1 ano de miúda...

Menina do Porto, tripeira com maneiras, olho atrevido-esbugalhado, riso escondido a deixar perdidos sete dentes, 1 ano de vida. Um ano cheio de noites mal dormidas, de rituais festivaleiros de fim-de-tarde com os amigos dos Pais, de constipações decepadas pelo vigor pediátrico materno. Menina do Porto, atrevida e vivaça, que procura o R dos abraços pesados e de amor-violento deliciosamente apaixonante. Menina-gordinha de colo fácil e choro gritado. Não gosta de laços voluptuosos no cabelo e dá risadas com os olhos encolhidos. 
Vem tarde e fora de horas o tributo do teu ano de vida, mas foi ameaçado o rascunho precisamente no dia em que nasceste. Vem tarde e fora de horas, mas não pude deixar de o escrever para um dia quando souberes ler, poderes rir à gargalhada. 
Só quero e preciso que sejas feliz, abraçada ao nosso R e a espalhar brasas pelo mundo...

Mini-me

Minis-eu by Ricardo Silva Fotografia



Jardim maravilhoso pela Talking cakes

Porta do Jardim

N-Ó-S by Brigida Brito Fotografia



terça-feira, 28 de julho de 2015

História breve de um nascimento

Revivalismo de um nascimento: o teu. O que se espera quando se está grávida a sonhar acordada com as mãos a segurar o ventre recheado de miúdo? Imagina-se o choro forte de um bebé amarfanhado, as roupas com perfume de algodão, o colo romântico, os sorrisos das visitas de hospital, o primeiro banho, o primeiro leite, a chegada a casa. O caminho que percorremos até à chegada, esquece-se. 
Pois bem, o teu caminho foi carregado de pedregulhos, enormes e cortantes, inesquecível. Horas infindáveis de pura incompetência científica, levaram-nos  a um caminho inesquecível. Nunca o poderei esquecer: as faces consternadas, as ventosas, os neonatologistas, a diplopia a que tive direito pelo excesso de medicação, a sede imensa. Tudo num hospital que era o Meu desde que o dia em que decidira ser médica. Tudo com caras mais ou menos conhecidas. Tudo a zelar em prol do movimento anti-cesariana e a corroborar a velha máxima "casa de ferreiro, espeto de pau". E, tu chegaste, cansado e a precisar de ajuda, após horas infindáveis de um parto. Perguntam-me muitas vezes qual o melhor local para o bebé nascer... Decido não opinar ao contrário do que fazia no teu início. Queria que nascesses de mim, naturalmente qb, mas nunca fui fundamentalista. Foram-no por mim, por nós e  são-no por outros tantos que têm que nascer naturalmente, a bem ou a mal.
O caminho não tem de ser perfeito ou fácil, tem sim de ser suficientemente eficiente, para que o que fique na memória seja o grito da chegada a transbordar vida.





segunda-feira, 22 de junho de 2015

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Hoje é o Dia!

Pernas esbeltas, pele de pêssego, irrequietas. Ventre liso a desenhar a anatomia. A rondar os 50 Kgs de miúda. Sim, isso era uma fase pré-Mãe. A fase Mãe desdobra-se num panfleto interessante de levar a balança às lágrimas. A primeira fase: a gravidez. Gula controlada pelo feto faminto. Estúpida irresponsabilidade de grávida-pediatra, a comer e a caminhar de seguida para controlar. Gravidez do R 23 Kg e gravidez da S 16 Kg. A segunda fase: a fase pós-parto. Desculpável até aos 6 meses um excesso de peso com o argumento de falta de tempo. Pingam as inadequadas perguntas do tipo «Está grávida outra vez?». Pois é aqui que eu falho redondamente. Esta fase para mim dura bem mais do que seis meses, mea culpa. Embrulho-me no conforto fácil do «fui mãe há pouco tempo» e deixo ir passando cada mês sem me dar conta até que findo o 1º ano, a desculpa deixa de funcionar (na minha cabeça, porque na cabeça dos outros já deixou há muito tempo). Depois dos 6 meses, que para mim são um ano, estabelecem-se objectivos, metas e resoluções. Hoje é o dia!
Amo comer (é um facto). Amo uma pizza recheada de tudo, uma bela francesinha alaranjada, uma fatia de bolo caseiro, um crepe amarrotado em gelado e chocolate quente. Amo calorias açucaradas e baseio-me na teoria do «eu mereço» porque já estou a trabalhar há muitas horas seguidas. Mas, detesto que me perguntem se estou grávida outra vez... Não, não estou! Quando estiver, farei um post sobre o assunto!
Risos muitos para começar a emagrecer...


As crónicas sugerem...

A pedido de Mães a transbordar dúvidas abandono nesta crónica versão romântico-materna que me caracteriza e vou ajudar com os sistemas de retenção automóvel.
É mais uma escolha que tem que ser feita ainda com o bebé na barriga. Uma escolha dispendiosa e que implica tempo e sessões infindáveis teóricas dos senhores-vendedores de cadeiras. A oferta é muita, cada uma com as suas particularidades e com o seu valor. Uma verdadeira enxaqueca-gravídica!
Deixo uma sugestão premiada que parece-me ser a cadeira ideal: AxissFix da Bébé Confort. E porquê?
Porque cumpre com a legislação mais recente I-SIZE. Porque é de instalação rápida e segura com o sistema Isofix. Porque tem um assento rotativo de 360º, o que facilita m-u-i-t-o a instalação das crianças. Porque permite viajar no sentido contrário ao da marcha até aos 24 meses, assumindo uma melhor proteção da cabeça e pescoço e posteriormente, pode ser virada. Porque oferecem segurança absoluta e ainda são deliciosamente giras.
É uma sugestão minha de Mãe-Pediatra e como digo muitas vezes: «sugiro o mesmo que faço/uso com os meus filhos».

























quarta-feira, 17 de junho de 2015

Maternidade ao quadrado

Mãe ao quadrado. Diante mim, alegre, faladora, voraz, com um sorriso valente a encobrir as olheiras das noites mal dormidas (ao quadrado). Por entre fraldas azuis misturadas com gorros rosa pálido, perdiam-se dois pedaços de criança de voz intensa a fazer gigante a pequenez dos seus ainda não 50 cm de comprimento. E, por entre essa misturada de vida alegre e intensa, perdiam-se as dúvidas, as risadas envergonhadas, os cócós descritos ao pormenor e as refeições com direito a hora e tudo. Escrevinhei os livros, primeiro o rosa, depois o azul e por fim, parámos. Frente a frente. (Com os pequenos gémeos pelo meio.) E, numa pausa silenciosa e muda, as risadas envergonhadas e audazes de quem fora visceralmente Mãe há poucos dias, fugiram. Sobressaíram as olheiras fundas e os olhos encovados, encheram-se de água como se fossem transbordar. Pisquei-lhe o olho de pestanas bem recheadas de rímel. A água não caiu. E, continuamos a discutir afincadamente as vidas que tinham nas mãos. Combinámos falar, numa consulta de Mães, as duas, sem registos em livros infantis.
Mãe ao quadrado, vou contar-lhe um segredo: viva (ao quadrado) um dia de cada vez, ria (ao quadrado) e chore, se lhe apetecer (ao quadrado), mas não deixe passar em vão os dias em que os dois lhe cabem ainda num braço...

terça-feira, 16 de junho de 2015

Cripreservação: Cytothera, há 10 anos de mãos dadas com a vida

Criopreservação, fazer ou não fazer?
É um assunto delicado, que faz remexer mil e uma questões válidas. Inquestionável chamar-lhe um tema polémico. Perguntam-me várias vezes se devem ou não fazer e a minha resposta é um S-I-M, com a salvaguarda de ser uma decisão do casal pelo que devem pesquisar, visitar e procurar as soluções mais ajustadas. O transplante de células estaminais do sangue e do tecido do cordão umbilical é hoje utilizado para o tratamento de mais de 80 doenças e, por isso é importante analisar, investigar e estar atento às vantagens da criopreservação. E, porquê um Sim? Porque é um depósito de vida que esperamos nunca mexer. Porque é um remédio guardado que se quer ter. Tal e qual, um seguro de vida em que só há uma oportunidade de se fazer.
E, porque adoramos festas e pedaços de vida, a Cytothera lançou-nos o desafio de comemorarmos os seus 10 anos de existência. 
A Cytothera foi a primeira empresa em Portugal a lançar o serviço de criopreservação de células estaminais do tecido, celebrando este ano o seu 10º Aniversário. Escolher a Cytothera é escolher um serviço feito a pensar na família:
- Cobertura de aplicação terapêutica – comparticipação das despesas até 20.000€, em caso de utilização das células pelo próprio ou núcleo familiar restrito;
- Convite a todos os pais para visitar as instalações, conhecer a equipa Cytothera e assistir a todo o processo;
- Simplicidade e comodidade (adesão ao serviço pode ser feita por telefonema);
- Gestor responsável pelo acompanhamento e gestão personalizada de todo o processo;
- Kit Cytothera devidamente equipado com bolsas de frio, não necessitando de refrigeração antes ou depois do parto, permitindo manter a qualidade das células até ao seu processamento.
Para além de todas estas vantagens, a Cytothera detém a patente do método de isolamento de células, que permite que em caso de necessidade de aplicação das células estaminais numa operação, estas estejam “prontas a utilizar” no momento de necessidade.

Aceitei o desafio de preservar um pedaço de vida da S, por isso, convido-os a pensarem nisso também.


A Cytothera quer celebrar o seu 10º Aniversário com os futuros papás babados que acompanham as Crónicas , através da oferta de 1 Halibut Derma Creme Anti-estrias + 1 Oleoban Creme Bebé + kit criopreservação (75€) + 30% de desconto nos serviços Cytothera. Para usufruir destas ofertas será necessário apresentar o seguinte voucher no acto da compra do serviço.

















terça-feira, 2 de junho de 2015

Workshop da Grávida

Às futuras Mamãs, deixo um convite para um workshop no Hospital Privado de Gaia, recheado de informação e esclarecimento de dúvidas. 
Convido também para a Consulta Pré-Natal com um Pediatra à vossa escolha. 




Revista Pais & Filhos

Quase um ano passado voltamos a comemorar a S no suplemento anual de Gravidez & Parto da Revista Pais & Filhos, recheada de dicas e informações úteis para as futuras mamãs.

Deixo um bocadinho... A convite da Patrícia Lamúrias, texto escrito por mim e fotografia na mão do maravilhoso Ricardo Silva.







sábado, 30 de maio de 2015

Nora à vista....

Há uns dias, perguntaram-me se eu pensava como seria o R quando crescesse. Só depois já ao volante veloz, percebi que tinha fugido à pergunta. Numa resposta quase a roçar a esquizofrenia disse :" O R tem uma A e diz que se vai casar com ela." É verdade, o R tem uma A de abraço franzino, fácil e meigo. Sorriso aberto, vazio de dentes tão próprio da idade, caminhar desastrado e cabelo maroto. O R tem uma A para a qual quis fazer muffins de chocolate. O R tem uma A que gosta de ele próprio imitar. Os Rs têm As! É isto que interessa agora... 
O que interessa como será quando crescer? Chamem-me o que quiserem ( já o fizeram algumas vezes), mas o que mais desejo é o agora. O agora vivido à maneira dele. O depois será como o estamos a construir, estando por perto, mas sem querer pensar muito nisso. Pode ser?




Cidadãos de segunda

Os Rs deste mundo são tratados como cidadãos de segunda. Irreconhecidos, apontados, alvos fáceis, esquecidos, gozados. Começamos pelas figuras ilustres que administram este país e terminamos no vizinho do lado. Os passeios sem rampa, os escassos lugares de estacionamento prioritário, as escolas selectivas dominadas por pessoazinhas (dizem-se cidadãos de primeira e discursam com tal snobismo como se tivessem uma batata quente na boca) ainda mais selectivas. Mas, dou de barato! Já aprendi a reduzir todos os pequenos grandes esquecimentos que os perseguem que todos podem reparar (se quiserem, claro). O que realmente me contorce a alma num arrepio visceral de raiva, são os olhares incomodados de quem está mesmo ao lado, o carro do vizinho do 2A estacionado no lugar prioritário (que de deficiente, só mesmo a parvoíce), os adultos que se riem das palmas que saem estrondosas das mãos em concha ou que deitam olhares reprovaríeis de soslaio, as consultas hospitalares em dias seguidos, sem maleabilidade para ajustar.  E os testemunhos dos pais...Ouço cada testemunho, cada palavra como se fosse minha. E, ouço frases, avaliações e deduções de colegas que dão vontade de chorar, tamanha a pequenez da alma. Caros colegas, se fossem vossos filhos (sem nunca lhe desejar tal , aos vossos filhos, claro) gostaria de saber como fariam. Não gosto. Não gosto mesmo que os tratem como cidadãos de segunda e não gosto de saber e sentir que são muitas vezes os da minha classe a fazê-lo. Esses pequenos grandes cidadãos, não de segunda, mas também não de primeira, também têm uma A namorada para dar beijinhos às escondidas, também choram quando caem, também podem ter sono e não querer estar sempre a dar provas. Deixem-nos ser felizes, não em primeira, não em segunda, mas no palco do mundo! (Não nos esqueçamos da rampa para quem não pode subir escadas...)

segunda-feira, 25 de maio de 2015

À moda do Porto

Pessoas à moda do Porto. Sou uma pessoa à moda do Porto e escrevo-o com pompa e circunstância. Amo os recantos sujos e as ruas sombrias que escorregam até à Ribeira. Não dispenso a pesagem na balança velha da estação de S. Bento que vomita uns cartões com a data, a hora, o peso e uma frase de quase sina de cigana. Gosto de entrar nas livrarias num momento revivalista de adolescente. Adoro o Piolho e o perfume a tertúlia académica que emana. As casas, desalinhadas e minúsculas, que escondem jardins desajeitados do lado de trás. Gosto de chás com bolos de avó na Rota dos chás. Gosto de recantos com tascas perdidas. Gosto de ruas empedradas alheias aos saltos-agulha. Gosto de esplanadas cheias de gente. Gosto das tatuagens em muros baldios aqui e acolá. Gosto dos barcos que dançam entre as pontes. Gosto da miscelânea do mundo que chega num boom turístico em busca de um novo destino da moda. Gosto das francesinhas dos tascos desconhecidos. Gosto das esplanadas da Foz. Gosto da vida agitada das gentes. Gosto das peixeiras da Afurada sentadas nos bancos da porta de casa. 
Gosto do Porto e arredores, dos pormenores que não constam nas revistas que lhe trouxeram o boom, do sol envergonhado que o beija mesmo de Verão.
Os 5 imperdíveis do Porto:
1. Calçar sabrinas e fazer as ruas a pé, mesmo os becos, mais escondidos;
2. Um chá de fim de tarde com bolo de avó na Rota dos Chás;
3. Entrar na Estação de S. Bento com os olhos bem voltados para o alto e parar a olhar o tecto, lá dentro, pesar na máquina velha dos cartões com dizeres adivinhatórios;
4. Uma bela de uma francezinha na Cervejaria Brazão e, se a barriga aguentar, subir até à Leitaria da Quinta do Paço e deliciar-se com eclair clássico e um café;
5. A Rua das Flores recheada de vida e de novidades.

Da máquina velha da Estação de S. Bento





quarta-feira, 20 de maio de 2015

Lembras-te?

Sobra-me uma mão cheia de destreza, um cálculo mental absurdamente veloz e o coração cheio de histórias, daquelas histórias a que roubo o "h" e troco o "i" por um "e", contrariando qualquer parvo acordo ortográfico.
Uma estória que me enche a alma. Sábado de Maio. Turno de 24 horas da M. Telefone estridente que toca de um hospital de lá longe depois das serras. Toca o meu logo de seguida. Vens comigo?, diz a M. Saio disparada. Estaciono apressada e visto uma bata branca. Arrancamos. Curva e contracurva no meio da serra. Contas, fármacos e o desconhecido à espera. Invadimos o hospital com uma maca recheada de aparelhos enormes e violentamente assustadores, eu, a M, a enfermeira F e o nosso TAE.
Serviço de Pediatria? Levam-nos rápido ao elevador. Entramos num corredor de paredes pintadas e prontamente conduzem-nos ao quarto de isolamento. Quarto em modo penumbra, coberto até aos olhos, um puto franzino, entorpecido, com bigodes nasais a verter oxigénio. Num gesto quase agressivo, levantamos o lençol e levamo-lo até uma sala que rapidamente se transformou em sala de emergência/bloco operatório. Tubo endotraqueal, duas intraosseas, um cateter venoso central, manitol, NaCl a 3%, fármacos a correr na veia, lanterna ansiosa a espreitar pupilas. Tudo, fizemos absolutamente tudo o que vinha e não vinha nos mais avançados livros de emergência pediátrica. Passavam 3 horas desde que havíamos chegado e podíamos arrancar de regresso ao hospital-mãe. Sabíamos que estava melhor, que estava vivo, mas suspeitávamos que mudasse no longo caminho. Esperava por nós na saída do hospital, um arsenal de água e bolachas para a equipa que o veio buscar e que no meio do nada montou um serviço de emergência de ponta. Rimo-nos nesse momento e agradecemos a merenda. Já de madrugada, chegamos ao Porto e garanto que nunca na minha vida ver a entrada do hospital-mãe foi tão gratificante quanto dessa vez. Chegamos com o puto franzino. Não o perdemos pelo caminho. Abraçamo-nos, eu e a M, num abraço tão longo, que durou milissegundos no relógio, mas tatuou a minha vida... E, o puto franzino foi para a Unidade que o esperava, duvidosa que chegasse. E, para nós, o puto franzino passou a ser o motivo pelo qual era bom ter frio na barriga e ir fora de horário, salvar vidas. Para o puto franzino, que ficou maravilhosamente bem, nós seremos sempre as médicas novinhas, incógnitas, que se abraçaram que nem umas doidas à chegada ao hospital.
E, é só isto... 


terça-feira, 12 de maio de 2015

Crónicas de estetoscópio e biberão: Médica da vida real

Crónicas de estetoscópio e biberão: Médica da vida real: Voltamos... Renovados, vigorosos, sem olheiras cor-de-carvão. Optamos pelo plano B da vida das pessoas-comuns. Optamos pelas noites de ca...

Médica da vida real

Voltamos...
Renovados, vigorosos, sem olheiras cor-de-carvão. Optamos pelo plano B da vida das pessoas-comuns. Optamos pelas noites de cama real, de almofadas grandes, brancas e com perfume a jasmim.
Optamos pelos sonos de horas não interrompidas. Optamos pelo sábado e domingo em que o centro comercial apinha-se de gente às cores. Optamos pelos meninos sãos ou pouco doentes. Optamos pela vida real, sem histórias de quase-ficção para contar...
Deixei para trás um projeto construído a quatro e mais algumas dezenas de mãos. Fugi das olheiras, do colchão empilhado no meio de uma sala indigna. Fugi do ser uma interna para sempre. Abandonei as paredes cinzentas majestosas do hospital que me fez crescer, mas que também me esmagou o caminho. Perdi os meninos-grão-de-arroz, os meninos de coração apressado, os meninos de vidas vaporosas e fugidias. Larguei o pijama branco-sujo que enchia de cor com toucas floridas e casacos despropositados. Cortei a ânsia do telefone que tocava, o barulho infernal do helicóptero. Esqueci como se dão más noticias (muito más notícias).
E, agora sou assim: salto agulha, bronzeada, diurna. Sorrio livre, sem medos. Dou boas notícias e algumas menos boas (mas nem por isso más). Levo desenhos de cor no bolso da bata justa imaculadamente branca. Não me esqueço de beber 1 litro de água por dia porque está sentada ao meu lado. Sou assim uma pediatra de um hospital privado.
Como disse, voltamos: eu e as palavras, mais doces, mais ternas, mais fáceis, e talvez por isso tão difíceis de retornar a escrever. Falta-me o nervoso miudinho que me fazia perder anos de vida. Falta-me os abraços demorados no fim do transporte. Falta-me as mãos de uma mãe qualquer agarradas às luvas que tiveram a vida do seu filho. Falta-me as respirações rápidas e ofegantes, os cantares dos monitores, as reuniões de passagem de doentes carregadas de doses e planos, as noites não dormidas, as sapatilhas calçadas 24 horas consecutivas. Até me falta, o raio da máquina de chocolates e afins do piso 01. É um facto, falta-me essa vida que me enchia a alma. Ao olhar para o texto escrito, só parecia maravilhoso o ser médica de um hospital público, universitário, pioneira de um serviço pediátrico. É bom e faz-nos felizes, mas é uma felicidade fugaz, que enche a alma e por instantes se evapora. Não queria isso para mim!
Pessoas dos hospitais que nos fazem encher a alma, por favor, cuidem dos vossas pessoas cuja alma é fácil de encher! Se não cuidarem, elas vão-se embora, porque ao contrário do que pensam, ainda há muitas alternativas...


A quem me fez crescer, ser uma melhor mulher, pediatra e amiga!
Ao TIP e a todos os que o viveram: uma vez TIP, TIP para sempre!