Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe



Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe


quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Inclusão da tanga

Primeiro dia de escola. Livros com perfume a novo, lápis aguçados numa ponta quase cortante, mochila alinhada do homem-aranha. Mãos entrelaçadas. Escola nova. Toque sonoro de escola antiga. Entrámos pela porta enorme da escola nova antiga. Miúdos felizes, outros embebidos em baba e ranho e N-ó-s.
N-ó-s, os dois, a arrastar uma mochila nova e uma maleta com o material escolar pedido. N-ó-s, impedidos num rompante de entrar na segunda porta da escola. Impedidos por uma decisão superior, inabalável e pelo furor entusiasmado da Exma. senhora professora que recebia de braços abertos os meninos não esquisitos, mas que nos "barreirou" entusiasta a entrada no mundo dos meninos com direitos. 
N-ó-s, os esquisitos, afinal não entraríamos ali. Não éramos dali, porque assim tinham decidido, porque a esquisitice dá mais trabalho e tem que ficar num edifício ao lado. A nossa escola não era aquela onde os meninos jogam à bola como nós jogamos e distraem-se a olhar pela janela, fazem asneiras e juntam as letras.  N-ó-s, eu e tu, seguimos caminho, para a unidade. Atónita, afónica, taquicárdica. Tu, a perguntar se aquela escola afinal não era a tua. 
E, assim vivemos a aguardar decisões, numa correria desenfreada entre relatórios, pedidos e burocracias,  porque nós os esquisitos, conseguimos aprender a ler, a contar e a crescer, se alguém tiver paciência para ensinar. 


Fala-se da inclusão... Fala-se, não se faz!
Exige-se que os esquisitos se movam mais, lutem mais, gritem mais que os normais. 
Fá-lo-emos com todo o vigor e ira a que ainda temos direito. E, aprenderemos letras, números e a ser respeitados. (Coisa que essa Exma senhora professora não deve nunca ter aprendido.)