Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe



Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe


terça-feira, 22 de março de 2016

S-a-U-d-A-d-E

(S-a-U-d-A-d-E: tão lusitana, mas tão do mundo... Só faz sentido ler este tributo com esta música:
Comptine d'Un Autre Été)

Aos que se vão, aqui e acolá, sozinhos ou em grupo, de fato-gravata e pasta em punho, lado a lado com a senhora com o menino de colo, numa cama de hospital, durante um sonho. Aos que se vão, sem nomes, desmembrados sem tempo para tomar um último café quente. Aos que se vão, de mão dada com o amor de uma vida. Aos que se vão, sem tempo de dizer adeus. 
Mas, muito mais aos que ficam. Aos que esperavam do lado de lá e aos que já não esperavam mais nada. Aos que ficam, que são os que choram, os que sentem o frio da pele, se dela sobrar um pouco para poder sentir. Aos que ficam, abraçados aos retratos em papel, que tem medo de esquecer os rostos. Aos que se arrependem de não terem sido ou não terem dito, enquanto ainda havia tempo. Aos que ficam amarrados à saudade. Aos que ficam atordoados. Aos que continuam a viver. 
Vivo-o semana a semana, fragmentado. Cada dia que vais, morre um bocado de mim, que acorda quando voltas. Cada dia que vais, abafo mais um abraço que te devia ter dado.

Recado para os que ficam: abracem de braços cheios, beijem até perder o fôlego, digam tudo, amem, chorem, vivam cada pedaço de tempo como se fosse o último...


Aos que ficaram de hoje...






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