Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe



Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe


sexta-feira, 13 de maio de 2016

Such a fine line...

Às vezes relembro que sou feita de cartolina. Não de papel crepe. Não de papel vegetal. Não de papel  de seda. Sou de cartolina, branca, já bem vincada, que se dobra sobre si mesma, que se molda, que se aguenta. 
Deixo que me escrevam palavras soltas, nomes, momentos, gotas de tempo, mas deixo que o escrevam a lápis, a lápis de cor. Deixo que me desenhem, que me pintalguem, que me abracem. Guardo em mim, restos de cores mal apagados, que fazem parte. 
Não deixo que me recortem. Detesto colagens. Não sou dos papéis emprestados. Não sou dos desenhos de régua e esquadro. 
Sou e serei sempre dos aviões de papel, dos desenhos de meninos de 2 anos, das canetas coloridas e perfumadas da minha infância. 
Sou de cartolina, branca pintalgada, onde só escreve quem eu quero...
Sejamos páginas de papel, de escrita fácil, mas não gratuita...





sexta-feira, 6 de maio de 2016

Brilho contigo...

João. Chama-se João, tem poucos anos de menino, movimentos tímidos, olhos amendoados e um sorriso de gigante. Chama-se João e tem uma polimicrogiria, tal e qual o R. Chama-se João, mas podia chamar-se outro nome qualquer e é um menino, que precisa de terapias, com nomes esquisitos, muitas horas de trabalho incansável e que por vezes parecem não levar a lugar nenhum. Chama-se João e empurra a vida com o sorriso.Chama-se João e tem uma Mãe, com poucos anos de mulher, bonita, radiante, destemida, que leva o Mundo à frente. Conheci-a num Verão Passado atrás de uma banca de feira de domingo à tarde, entre colares e vestidos, alinhados meticulosamente, que as suas mãos e colo de Mãe aprenderam a desenhar para angariar dinheiro para as terapias. E, porque as terapias gratuitas não são suficientes, porque os apoios são escassos, porque o dinheiro vai fugindo, li hoje um outro apelo e não me aguentei...
Quem quiser, puder e dispensar um café por um dia, façam-no pelo João...

Página do João (todos os dados encontram-se na página- basta clicar): TodosJuntosPeloJoao


E, J & R, num encontro casual no Centro de Reabilitação, APPC Porto



Escola Secundária

Revivalismo... É uma escola cinzenta, com caminhos que sobem num escadario, recantos sórdidos de qualquer história secundária. É uma escola da qual sai já há 20 anos, eu e muitos, rumo às mui nobres faculdades. Lembro-me dela, dos recantos, das telhas partidas, da sala da associação de estudantes, do salão de alunos, do bar, de como era fria de tão cinzenta. Lembro-me dos amigos de turma, dos trabalhos em conjunto, dos exames nacionais, das desculpas para fugir às aulas de educação física. Lembro-me dos amores de secundário. Lembro-me das notas que merecia e que não tinha porque era uma escola pública e não um colégio de elite. Lembro-me de gostar da Professora de Biologia e de Química e de achar a professora de técnicas laboratoriais um ser inerte maquiavélico, picuinhas e resignada (achava que não gostava de mim porque eu era mais gira, risos). Lembro-me do cheiro das salas, a pó de giz e miúdos. Lembro-me de como fui feliz lá e soube não ser a betinha melhor aluna. E, hoje lembrei-me de como era reivindicativa (mantenho), de como lutava sem pudor pelos direitos dos alunos, mesmo dos que não sendo tão exemplares, os tinham. Lembrei-me ao ouvir um aluno dessa mesma escola falar numa entrevista durante o protesto da escola realizado hoje... Já não me lembrava dos olhares da professora que ficava em frente a mim nas reuniões do Conselho Directivo sempre que eu intervinha. Revivi.

Escola Secundária do Padrão da Légua




terça-feira, 3 de maio de 2016

Amamentar, e se fosse consigo?

Amamentar. Não sou fundamentalista. Sou a favor da felicidade de cada um, das opiniões, das vontades. Amamentar é um acto de amor tão grande quanto dar dar um biberão com leite adaptado. Mas, quando me perguntam o que fazer, respondo: o que a fizer sentir melhor. É fundamental explicar  as vantagens do leite materno: a riqueza em imunoglobulinas e anticorpos, a biodisponibilidade, a quantidade certa de água, o "estar sempre pronto e à temperatura adequada". O acto de amamentar, na sua proximidade com o respirar da mãe, o pele-a-pele, a dança das respirações de ambos, os olhares trocados num  amor desmesurado, isso não se explica. Eu amamentei e fá-lo-ei e novo, se puder, mas sem imposições. Mas, não sou fundamentalista, quem não quer amamentar, nem que seja porque simplesmente não quer, tem esse direito. 
O fundamentalismo da amamentação incomoda-me e muito. Senti-o na pele, aliás nos apertos descontrolados nas mamas tensas, mas pouco produtivas de colostro, numa enfermaria de obstetrícia. As mãos frias com cheiro a desinfectante, apertavam compulsivamente os mamilos, ansiosas por uma gota de colostro que teimava em não cair. Eu, inerte por não ter o R no berço (mas sim numa incubadora, com milhares de tubos a entrar e a sair), deixava-me molestar angustiada por  não saber se me doía mais o coração, as mamas ou a laceração do períneo a que tive direito nesse parto de arena.  Senti-o e não o esqueço. Depois disso, pude assistir a essa tortura-práctica-diária durante a minha práctica pediátrica e várias vezes, falei. Vi mães a chorar porque não conseguiam amamentar, porque não sabiam, porque as faziam sentir-se incapazes. 
E, ainda me incomoda mais, esse fundamentalismo ser fugaz. Sim, tal e qual, fugaz, temporário e com validade limitada a 4 meses. Pois é, também eu já o senti em palavras escondidas ou olhares reprovadores. Aleitamento materno, muito bom sim senhor, mas quando envolve a redução de horário  (direito legal), surgem as questões veladas: a dar de mamar, ainda?, até quando?, e, não vai fazer noites?, não vai ser fácil ajustar o horário. E, estas questões, pertinentes por sinal, surgem de médicos e também de pediatras. De facto, nunca me disseram directamente que não poderia usufruir desse direito a redução de horário, mas as perguntas adicionadas a olhares reprovadores, demonstram a "chatice" que vai dar essa opção de Mãe. Mais curioso ainda, é que esses médicos que me olharam de lado, no consultorio de cadeira de couro, passam  atestados às mães dos meninos que lá vão, alegando que estão a amamentar. Passam e bem (eu também o faço), mas só o fazem porque as mães desses meninos não são trabalhadoras do seu serviço...
A OMS defende 6 meses de aleitamento materno exclusivo, mas isso em Portugal é impraticável, a não ser que se alterem regras ou que as mães deixem de trabalhar. Defendo que as mães (as que amamentam e as que não-amamentam, mas alimentam com leite adaptado) possam ter ajustes horários, permeabilidade na sua gestão, sem que sejam sancionadas por isso. Essa mudança terá que ser imposta, porque mesmo os que estão directamente envolvidos na saúde materno-infantil, quando confrontados com o ajuste horário de um trabalhador seu, torcem e bem o nariz...
Deixo em modo plágio o mote: E, se fosse consigo?

Nós, porque sim
Fi-lo e fá-lo-ei de novo



segunda-feira, 2 de maio de 2016

Os padrinhos dos filhos

Os padrinhos dos filhos. São uma escolha tão importante quanto o nome ou a primeira roupa. Tiram horas de sono. São tema de conversa de horas sem fim. As escolhas não podem ser ofensivas para os não-escolhidos.  São feitas tantas vezes com a cabeça e tão pouco com o coração. 
Mas, os padrinhos dos filhos devem ser do coração. Não têm que ter o mesmo apelido. Não têm que ter a mesma profissão ou o mesmo salário. Devem ser aqueles que não ficavam zangados se não o fossem. Devem ser os que estão por perto sem ter que estar. Devem ser os que se esquecem de comprar presentes no Natal, mas que telefonam para saber se estás bem. Devem ser os que se riem connosco. Devem ser os que te vão espreitar ao colégio ou que te dão a mão para atravessar a rua. 
Os padrinhos devem ser os que estão perto, mesmo que longe... 
Os padrinhos a sério são difíceis de encontrar. 
E, achá-los é pensar com o coração, deitar fora os apelidos e borrifar-se para os que ficam zangados por não serem escolhidos.


Viagem à Índia: Namastê MP (um Baby Shower do outro lado do mundo)

Tenho (e terei) a Índia nas papilas gustativas e o perfume a especiarias  no nariz, até ao dia em  que me sentar em frente ao Taj Mahal. Tenho em mim o cabelo escorrido e negro e  deposito na anca o jeito dançarino das musicas  de Bollywood. E, foi assim que nasceu a ideia de um baby-shower do Oriente. 
O som indiano de fundo, as cores vivas nas toalhas e pormenores, o bolo que nasceu como que por magia tal e qual como o idealizei, as bolachas-menina-indiana, as mãos pintadas nas bolachas e em cada uma das convidadas, as velas, as flores perfumadas, o jasmim, o sari branco com flores. Fizemos esta viagem por cá e esperamos levar-te, minha querida MP, até lá bem longe onde o sol nasce estonteado pelo caril.
Namastê MP!

Criações:
Ideia original- Os Pais
Doces e magia em forma de bolo- made with love
Pinturas de mãos- Mary Poppins
Decoração- Lírio e eu



S&P&MP
Bolachas

Bolo maravilhoso, perfeito e delicioso

Mãos pintadas

O bolo pela criadora

Mimos-doces

Bolachas-menina-indiana