Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe



Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe


sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Natal, em linha isoeléctrica

Sabe a agridoce assistir aos Pais que reclamam da comida ou da posição das cadeiras na Festa de Natal da escola, quando os teus olhos colam fixos e estáticos e a  tua respiração vira apneia, ao vê-lo tentar-se levantar sozinho no palco da actuação do 3ºano. Era a abertura da actuação do seu ano e iniciava-se com o seu acordar lento do chão. Dirigiam-se a ele, um menino e uma menina, provavelmente os maiores da turma, para o erguerem mais rapidamente do seu acordar simulado. A sua destreza bandida às vezes prega partidas e preguiça. O seu erguer foi lento, ou pareceu-me a mim e, por momentos, anosmia, assistolia, apneia, e todos os "a"s da Medicina (que geralmente não são bons), colaram em mim e os meus olhos colaram nele. Morri por segundos... (e acho que nunca vou deixar de morrer aos bocadinhos)
Queridas pessoas do lado, que reclamam e barafustam com os filhos, porque se enganaram na dança ou no momento de iniciar o canto, não desejo jamais que tenham estas linhas isoeléctricas de pensamento... por isso, aplaudam, riam, olhem-nos, por favor!


quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Gira ao contrário

O mundo gira cada vez mais ao contrário. Está tudo errado. Conto dois dias em que aprendi que a ajuda nem sempre é uma benção. 


Um pontapé no meu tempo é como descrevo a primeira vez que percebi que acima de tudo impera o negócio. Chove lá fora. O Porto veste-se de um cinzento-cimento, frio que se dilui pela calçada antiga a fazer a viagem de carro parecer uma volta de montanha-russa. Entro no Centro onde as pessoas andam aos pares a resolver coisas de meninos raros. E, onde os meninos raros gastam o tempo pelos corredores, deambulando sob rodas. É também um sítio de meninos raros onde a vida flui todos os dias igual a sempre. Propus-me a oferecer parte do meu tempo a fazer Consulta de Pediatria gratuitamente e, a resposta, por entre os agradecimentos tecidos, foi favorável, nada entusiasta, mas teria que ser necessariamente remunerada. Recusei. Fá-lo-ia gratuita e voluntariamente, nunca aceitaria dinheiro.

Recusaram-me.
E assim ficamos. Eu com o meu tempo quase acrobático mas que guardei no bolso, o sítio sem pediatra. Engraçado, quase caricato, como se recusa a ajuda voluntária, só porque sim.


A outra vez descrevo-a como um balde de tinta não nos chega. Há cerca de 2 anos, estabeleci milagrosamente a ponte entre um centro de reabilitação algures do Porto e uma grande empresa, para o apoio à reabilitação do mesmo, gratuitamente. Criada a ponte, enchi-me de telefonemas, hiperactiva como sempre. Pois bem, uma pintura, mudança de piso, decoração foram recusadas, porque afinal o que queriam mesmo era uma sala sensorial. Uma bela ideia, ajustada às patologias, mas que a empresa não poderia concretizar. Recusaram então qualquer outra ajuda porque o que queriam mesmo era uma sala sensorial. 




Há um mundo virado do avesso. Pessoas que recusam dádivas. Pessoas que usam os donativos para o fausto, para representação da raridade alheia ou que simplesmente não os aceitam porque queriam uma coisa diferente. Perde-se, e sei que erradamente, a vontade de ajudar, a acrobacia do tempo, a mobilização dos outros.

Mas não se pode perder, porque os raros não se perdem pelo caminho.


Os raros podem ser super heróis, desde que não se percam pelo caminho.




domingo, 27 de agosto de 2017

Vidas suspensas

De  regresso às histórias da vida real. De regresso aos minutos contados a marcapasso por entre os apontamentos manuscritos e os alarmes dos ventiladores. De regresso aos meninos de olhos vivos cujo corpo se vai esquecendo de gesticular. De regresso aos bólus de vida e às perfusões de sonhos. Regressei e está tudo tão igual. O menino de coração estragado que não quer respirar sozinho. O menino que se esconde numa carapaça franzina que lhe deixa espreitar um sorriso doce de maracujá. A menina de mau feitio a quem ofereceram um rim novo que baptizou com um nome próprio digno de novela brasileira. 
Os meninos que vão e vêm e que ficam com os seus defeitos e feitios agarrados a maleitas de nomes esquisitos. Os meninos, são filhos de mães e pais, que se esquecem das horas, do dia do mês, dos cafés longe do refeitório do hospital, que se esquecem de respirar ar fresco, que se esquecem de ser namorados, que se esquecem de ser professores, que se esquecem do nome dos filmes do cinema. São também eles pais de coração estragado, pais escondidos nas carapaças, pais de rins novos. Agarram-se às vidas suspensas, sabem de cor as horas dos bólus e identificam pela cor os nomes de cada fármaco que se injecta, aspiram-nos com a arte de um especialista, reconhecem cada alarme. 24 horas do meu turno, vivem comigo cada bocado em que estou acordada, mas para eles que ficam encolhidos num cadeirão, sem nunca querer incomodar, são 24, sob 24, sob 24, para a vida toda...


Aos pais do menino escondido atrás de olhos vivos cor-de-azeitona que empurrei (ordem médica) para um namorico fora das nossas quatro paredes e a todos os outros... 




sábado, 29 de julho de 2017

Fausto

Fixei-me nos sapatos, pretos, de pele entrelaçada e possivelmente com perfume a tinta fresca de sapatos. Deitado em frente a mim, imóvel e só me fixei nos sapatos. Devia olhar o rosto, as mãos, a gravata, mas só me fixei nos sapatos. O rosto emagrecido, as mãos débeis, não pareciam as suas. Mas, os sapatos estavam tal e qual: iguais. Sempre impecavelmente limpos e arranjados, um verdadeiro luxo que não abdicava. 
Fica a imagem dos sapatos alinhados a somar-se às muitas outras que me deixas ficar. O pão fresco que, com chuva ou sol, ias buscar para mim. As compras de adolescente que nos faziam ir às lojas mais cool da cidade. A colher tingida de negro brilhante que acompanhava o almoço de todos os dias e que tinha sido a companheira na Índia, a única companheira de meses a fio. As histórias que contavas em qualquer lado e a qualquer hora, penetrantes. A liberdade em aceitar as mudanças, que a idade não daria. A firmeza nas decisões. Os amigos da rua e do café. E, fica tanto mais...
Ao homem mais íntegro e maravilhoso que alguma vez conheci.





terça-feira, 11 de julho de 2017

Nem doutor, nem Engenheiro

Os médicos deveriam ter, na formação, uma cadeira de boas maneiras, de gentileza, colocação da voz, e de bom senso. De regresso ao sítio onde os meninos ficam mais doentes e por mais tempo, ou porque se esqueceram de contar o tempo para nascer, ou porque desregularam os botões da máquina, apercebo-me assim, em modo espectadora, que fazem parte as palavras. 
As palavras contam. Contam quando são em modo off/surdina. Contam quando vêm embrulhadas em mãos que se tocam. Contam quando são transparentes. Contam quando não são fugidias. Contam quando não nos fazem morrer por dentro por mais cruas que sejam. 
Ilude-se quem pensa que que é fácil dar más notícias. Não é. E, há muito quem não saiba fazê-lo, e o faça da pior maneira. 
A exemplo: dizer para uma terceira pessoa, "já sabes que nunca há-de ser doutor ou engenheiro", mesmo à tua frente, para que ouças esse pensamento acompanhado de um acenar de cabeça afirmativo que o reforça. Esta constatação reforçada pelo aceno, é uma forma parva de tentar perceber se estás ciente do futuro, um baixar expectativas e abanar o coração. 
Cara colega, a constatação do futuro premeditado não dita condutas, nem modifica sorrisos. Ouvir desta forma é rude e dói, não pelo futuro mais ou menos brilhante, mas pelo que traz consigo nas entrelinhas. (Que se lixe o Dr. ou o Eng...) Cara colega, seria uma nota zero redonda na cadeira proposta para integrar os novos cursos de Medicina.
(Episódio pessoal datado de alguns anos atrás. Agora, deixei de ouvir constatações estupidifico-científicas- esta palavra não existe, mas achei-a tão perfeita...) 


Eu & Josefinas em Vidago Palace Hotel a colorir o chão pintado de igual e simércio



quarta-feira, 21 de junho de 2017

AssixFix Air, uma novidade deliciosa

Perguntam-me vezes e vezes sem conta qual a cadeira melhor, qual a mais segura e práctica, qual a que conselho.
Geralmente, aconselho aquela que também uso com os meus filhos, porque se apostei nessa marca, nesse modelo é porque acredito nele e isso é o que podem assumir.
Nos últimos dias tive conhecimento que a partir de Setembro, a Dorel, uma pequena unidade industrial sitada em Vila do Conde, vai produzir uma inovação maravilhosa para quem quer adquirir uma cadeira auto. Chama-se AxissFix Air ( modelo da cadeira Maxi-Cosi, da Bebe Confort)e detém um airbag activo na própria cadeira. Portanto, Pais que pretendem comprar cadeiras a curto prazo, se puderem aguardem até Setembro pela novidade.






Parabéns à iniciativa da Dorel que mais uma vez está em prol da segurança rodoviária infantil e a ajustar necessidades. Saliento que é a única marca em Portugal a  disponibilizar cadeiras de bebé para crianças com Displasia da Anca.




S na Assixfix



terça-feira, 13 de junho de 2017

Ode à S

Tinhas tudo para dar certo. O nervoso-miudinho, o dia escolhido a dedo, as ecografias nos percentis adequados à idade gestacional, as vitaminas engolidas sempre à mesma hora, os retratos em cenários fabulosos, o amor das mãos do Pai, a barriga voluptuosa, o enxoval alinhado e com perfume a Verão, os neonatologistas a postos. Tinhas os olhos postos em ti e em mim, a crítica permanente e o dedo apontado para a escolha de ser cesariana, de dia e hora marcados. Pontuais, assertivos e medidos de régua e esquadro. Que se lixem os dedos apontados e os comentários anonimamente reprovadores. Que se lixem os que não sabem o que dizem. Não voltaria a passar pelo sufoco interminável de horas de um parto abandonado num cubículo de hospital público, com direito a diplopia, a uma sede tremenda, a uma laceração do períneo e a um filho que só ficou duas horas nos braços e migrou para a incubadora. Não voltaria a viver aquela angústia, medo e desespero, por isso, escolhi que o teu primeiro inspirar de vida cá fora fosse no dia da Avó Carmina, tão ele cheio de luz e quente como ela era. Escreves nas gargalhadas uma felicidade de arraial de S. João, cantarolas a vida como ninguém, comandas nessa tua pequenez a malandrice de criança e marchas pela sala fora tal qual a Avó. 
Sim, deste certo, muito certo.

Mais um ano de vida à pequena S, que dança como ninguém a dança que Avó dançava, que se enerva de igual modo e que continuará as suas pegadas cá por baixo... A si, Avó Carmina, brindemos com um bom champagne e gargalhadas, porque dizia e muito bem, que um gole de vinho é alegria e sempre a conhecemos assim!









quarta-feira, 7 de junho de 2017

Programa ESTOU AQUI

É azul e carrega nela toda uma informação essencial em caso de necessidade. É gratuita e pode fazer a diferença...Convido-vos a aderirem ao Programa ESTOU AQUI!


Estamos aqui...

sábado, 15 de abril de 2017

O essencial é invisível aos olhos

Só escrevo quando me apetece. São tantas as ideias que me assaltam a cabeça, mas o tempo falha e quando me sento ao teclado, não faço ideia por que ponta lhe hei-de pegar. Vou pegar na ponta das pessoas que não sabem que são tão felizes. Sempre que acontece algum desafio na vida de alguém que nos está próximo, lembramo-nos que devemos viver mais, sonhar mais, querer mais, amar mais. E esta semana foi isto que aconteceu. Há momentos em que a vida congela a sua capacidade de fazer pulsar o coração e de andar para a frente. Na verdade, nestes momentos, ela não te puxa o tapete, ela puxa-te as pernas e cais no chão, com o corpo todo, enquanto tentas manter a cabeça elevada. Nesse instante, perspectivas a vida nessa perspectiva, no chão. E, quando deitados no chão impotentes, remoemos os momentos em que estávamos de pé, irados por uma estupidez qualquer. Os desafios são matreiros e aparecem do nada. Resta-nos, aos desafiados e aos que os rodeiam, pintar o chão de verde-primavera, semear margaridas e deitar lado a lado para depois levantar.  
Por isso, pessoas que não sabem que são tão felizes, lembrete no coração: respirem, riam, gritem, viajem, façam nascer, cuidem, apaixonem-se...













sábado, 1 de abril de 2017

Parabéns Tip Norte!

Escrito há 4 anos atrás:
"Hoje é o dia... quase a parecer mentira, é o dia de anos do Transporte Interhospitalar Pediátrico do Norte! Esta crónica é a nossa... 
1 de Abril de 2011, 20h30min: Ouve-se um som estridente que ecoa no bolso da farda branca. As mãos suadas atrapalham-se para atender. Silêncio ensurdecedor... Do lado de lá, uma voz de senhora antiga, diz em tom sabedor: recém-nascido,  poucas horas de vida, taquipneia, vaga na Maternidade. As mãos trémulas desligam. Sorriso nos rostos, vontade que impera, teoria dos livros que brota, ânsia que se abraça e coração que galopa... Incubadora morna, sacos enormes que empurram os ombros e arrancamos para o desconhecido. As sirenes misturam-se com a juventude de duas médicas, a sabedoria da enfermeira e a velocidade cuidadosa do acelerador do TAE. A caminho... Do outro lado, uma senhora de rosto cuidado, mãos compridas e semblante incrédulo debita a ficha clínica do pequeno príncipe para os olhos atentos e apontamentos são rabiscados num bloco com perfume a novo. Inaugurava-se o Transporte Interhospitalar Pediátrico do Norte...
Quilómetros intermináveis, barrigas vazias, vidas gastas e quase desgastadas, mil e uma crónicas para contar... Os jovens médicos de outrora são agora sobreviventes com risquinhas na testa e com cada vez mais raras borboletas na barriga, os enfermeiros preparam os remédios mágicos num suspiro e voam por entre espaços  inacreditáveis, os TAEs embalam nas mãos a estrada com vidros abertos às 5 da manhã pelo asfalto escuro lambido pelos pingos da chuva teimosa. 
Somos fortes e destemidos... Somos TIP Norte, cada vez mais e melhor!

Ao Transporte Interhospitalar Pediátrico do Norte: Maria João Baptista, Marta Grilo, Miguel Fonte, Ricardo Bianchi, Sofia Ribeiro Fernandes (eu), Américo Gonçalves, Edite Gonçalves, Rúben Rocha, Lígia Peralta, Céu Mota, Beatriz Beltrame, Juan Calvino, Enf. Paula Santos e todos os enfermeiros, TAE Miguel Ângelo Santos e todos os TAEs.
E a todos os outros que tornaram o TIP Norte uma realidade..."

Hoje, parabéns aos que mantém o TIP Norte e que o fazem continuar a salvar vidas...


















segunda-feira, 27 de março de 2017

Idade do Armário


Revivalismo-musical-adolescente: as calças justas levi´s 501, os biquinis pequenos demais, o cabelo acima do ombro e bem escorrido, as férias de Verão na Praia da Areia Branca, os amigos com pronuncia do sul, as raras borbulhas na testa, as aulas de step de manha e à noite diárias, a 1979 dos Smashing Pumpkins, as festas de garagem. As vidas, tão complicadas e tão desconhecidamente simples, de adolescente...

Diz-vos isto alguma coisa?






domingo, 26 de março de 2017

Felicidade= Happiness= Felicità= Geluk= 幸福= Glück

A felicidade, às vezes, parece difícil, impossível, longínqua...mas garanto eu, que não é. A felicidade é tímida e forreta. Vem aos bocadinhos, envergonhada e é preciso chamar por ela. É nos momentos mais crus, mais ínfimos, mais baratos que a felicidade mora. É preciso saber vê-la, senti-la e respira-la. É preciso não buscar a perfeição no que é ser feliz... Ser feliz é uma gargalhada no meio do nada, é o primeiro respirar de uma vida, é uma conversa de corredor, é uma viagem de poucos dias, é a S ir de sandálias para o colégio em pleno Inverno, é o primeiro dente que nasce, é o fim de uma vida indigna, é uma dança no meio da sala a tropeçar nos brinquedos espalhados. Ser feliz não é uma casa na Foz ou a última tendência Dior. Ser feliz não é um estado, mas é um instante, breve e veloz. 
O segredo: viver com o coração e olhar à procura da felicidade onde não parece haver nada...

(Felicidade é também ouvir isto nos silêncio da noite https://youtu.be/4C8e7nNLZNs)


Keep simple

segunda-feira, 20 de março de 2017

C-á-r-m-i-n-a, com acento

(Com música, seria esta: https://youtu.be/lAwYodrBr2Q?list=RDQB0ordd2nOI)

Escrevi-lhe a 25 de Outubro de 2016:

C-á-r-m-i-n-a com acento... (Tal como costuma relembrar a quem pronuncia mal o nome e a quem o diz de uma forma menos forte e intensa a que tem direito.) 
Com acento escrito no nome e na alma. Tem nos braços o embalo de avó e no peito um amor sem medida. O rosto debruçado sob a Maria encobre uns olhos vivos para além das suas 7 décadas de mulher. Reluz na dança combinada com a Sofia a sabedoria dos anos, mas a juventude de um pensamento tão rara de se encontrar. 
Cármina com acento. E, mais não preciso dizer...


As mãos débeis tactearam: 

Obrigada pelos olhos sensíveis e belos da maneira como me vês! Beijos de gratidão...

E, é isto.
Ficaram pelo caminho meses de angústia, dor e uma doença galopantemente desconhecida. Mas, disso soube libertar-se e por isso, já não interessa nada.
Muito mais do que isso: ficou desenhado um caminho em que as risadas, os retratos de instantes da S que nem eu documentei, as danças marchadas pela sala fora, a pronúncia de Viseu, o arroz com frango e as almôndegas gigantes, os conselhos sábios e os ouvidos atentos dos meus desvarios de mulher-ainda-jovem. Estamos no seu caminho e sabemos que o continuará a desenhar com um pau de giz como rascunhava as letras de primária na escola da Gafanha...
Obrigada por ser tão somente C-á-r-m-i-n-a, com acento, é claro!


Tal e qual



O primeiro ano e os muitos anos das Catarinas

N-Ó-S

N-Ó-S


O olhar sobre a Maria que continua
Uma foto do seu perfil de FB, a que mais gosto


sábado, 18 de fevereiro de 2017

Os filhos dos outros

Os filhos dos outros.
Aos filhos dos outros daríamos repreensões severas nas birras do corredor do supermercado. Aos filhos dos outros não daríamos tablets para acabar de almoçar em silêncio. Aos filhos dos outros tiraríamos a chupeta, a fralda, o leitinho da noite em tempos escritos nas revistas. Aos filhos dos outros cumpriríamos todas a regras de etiqueta, todos os calendários, todos os timings. Aos filhos dos outros não se admitiriam erros ortográficos, mentiras de miúdo, asneiras de conversas de escola.
Quantas vezes já deram por vocês a dizer «Ai, se fosse meu filho...»? Pois, mas não é. É filho dos outros. A educação no colo dos outros é fácil, crítica, desinibida e até leviana. O «se fosse meu filho, não faria isto ou aquilo...», é quase leviano e eu própria já o fiz (antes de ser Mãe). É impossível separar o coração e a razão, o que vem escrito nos livros científicos e o que sai da boca em determinado momento. É questionável o abraço que sai dos braços quando o momento devia ser de olhar repreensivo. É questionável levar mudas para a escola para o caso de ..., sabendo que em caso de ... a reprensão devia ser o não ter muda de roupa (será que devia?). É questionável quando falamos dos filhos dos outros, mas não é questionável quando falamos dos nossos filhos. Não tem que ser questionável quando se funde o coração (e, quando este é enorme) e a razão. Sou de um amor permissivo qb e deixei de tentar de ser mãe dos filhos dos outros.
Porque sem amor, tudo é mais fácil, objectivo, duro. Mas com forte tendência a congelar.


Eu, numa birra fotográfica



quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Frida Kahlo

«I paint flowers so they will not die...»
Frida Kahlo



A S em modo Frida no Carnaval de 2016...
A pequena pintora mexicana estranhamente desafiante

Monocelha e bigode...maravilhosa!








terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

(E)namorados

Namorado é o homem de mãos desastradas que te lava o cabelo no chuveiro quando não podes vergar-te, molhar a cicatriz estragada da cesariana e não tens força para erguer os braços, porque a dor, a febre e angústia do momento estragado não te deixam fazê-lo. Guardo esse instante como a maior aliança que nos une (e acho que tu nem sabes porque nunca falamos disso).
Tão simples e só.


(E)namorados





quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Now or never

D-e-c-i-s-õ-e-s. Só conheço um caminho e é em frente. É um caminho que pode curvar à direita ou à esquerda, mas que não permite olhar para trás. Permitir, não permite, mas quem nunca o fez? Não há quem nunca não tenha pensado se não tivesse feito assim ou assado. Sou de decisões, lembraram-me agora disso. E, é verdade, sou de decisões de coração quente taquicardizante e olhos pousados no horizonte, sem medo de dar um passo descalça sem olhar para o chão, embalada por música indie

Obrigada querida M pela voz telefónica que me lembra que sou de decisões. 


domingo, 5 de fevereiro de 2017

Fingers & Doctors

Ser Médico hoje e amanhã e por aí adiante... Mais uma vez, correndo sérios riscos de sanções e comentários azedos, encaixo uma mão cheia de dedos de Médicos diferentes. 
O Médico-dedo-mindinho, sou eu e outros tantos, que temos um contrato individual de trabalho com um valor muitas vezes extrapolado (dizem as más línguas de alguns Médicos). Assinamos um papel como se fosse a única réstea de ar que existe à face da Terra, com muitas coisas escritas que nos encostam à parede e que lemos rápido como se lá não estivessem escritas. Cumprimos horas de trabalho para além do previsto e somos os especialistas de segunda. Aceitamos desafios e somos chamados de inconscientes. Vivemos no hospital durante dois meses para absorver que nem esponjas aquilo que não tivemos oportunidade de fazer, porque ainda éramos pequenos internos. Não pertencemos a lado nenhum, mas quando é para descontar afinal somos função pública. Temos trabalhos fáceis, exequíveis por qualquer um, mas quando ficamos grávidos, descobrimos que afinal os "qualquer um" são poucos e raros. 
O Médico-dedo-médio, são os médicos acabados de sair da faculdade, internos do ano comum. Saltam de especialidade em especialidade, mas sem se quererem envolver com nada. Não têm autonomia para actos médicos ou para dar altas. Mas, estão ainda orgulhosos do seu novo estatuto: o ser médico! Aproveitem meus caros, dentro em breve serão o Médico-dedo-polegar. 
O Médico-dedo-polegar é o interno de especialidade. Carrega os processos pelos corredores, sabe soletrar cada diagnóstico de cada menino, senta-se no banco de trás, treme que nem varas verdes com as perguntas incómodas que não seriam para ele mas as quais tem mesmo que responder, assume as chicotadas das decisões ou que tomou porque estava sozinho, ou que alguém tomou mas não ouviu a pergunta, fecha os olhos no cadeirão duro de serviço, gosta de trabalhar à noite, não pode ficar doente ou melhor pode, mas depois ... ( e mais não digo). Não lhe conhecem o nome se forem muitos, não tem palmadinhas nas costas e os bons dias às vezes são mudos. 
O Médico-dedo-indicador, é um especialista com mais anos. Sabem muito de muitas coisas e falam pelos cotovelos.  Não gostam de se sentir velhos, mas quando chega à hora de dividir tarefas com os médicos-dedo-mindinho a antiguidade é um posto. Esquecem-se do caminho que fizeram e dos erros que cometeram, até porque acham que já ninguém se lembra. 
O Médico-dedo-anelar, é o médico da velha-guarda. O que não se sente atropelado pela inexperiente sapiência do Médico-dedo-mindinho. O que sabe quanto vale o ser médico. São raros, mas conheço alguns...
Desculpem se a carapuça menos dourada assentar na perfeição... Desculpem comparar os da minha tão nobre classe a dedos das mãos... A mim, não me ofende e é só uma mera opinião.
Entrelacem-se os dedos e serão mais fortes!


Mãos Intensivas


terça-feira, 24 de janeiro de 2017

A_M_O_R

(a continuação)
Esperam-se instantes, minutos que caem na alma como uma gota de chuva fria no rosto. Esperam-se momentos que se atropelam uns aos outros numa sede imensa de vida. Espera-se o inesperado, o não expectável. Um passo de cada vez, sem olhar onde se põe os pés. Descalça e sem medo. Tu também.  Foi isso, caminhei para ti, sem medo onde por os pés. Alheia aos olhares do alheio e às conversas da treta de corredor de enfermaria. Fi(a)zemos uma viagem sem roteiro, sem itinerário definido e sem horas de relógio. Gosto disso. Gostamos disso. Sem planos ou tempo de terminar... (continua)

Marrocos- Riad

Veneza

sábado, 21 de janeiro de 2017

A-M-O-R

Nasceu numa dobradiça da porta de consultório de um hospital quase provinciano. Podia ter nascido numa noite de copos, mas nasceu num fim de tarde, quase noite. Podia ter nascido em salto agulha vertiginoso ou sapatos glamorosos, mas nasceu entre socas de bloco operatório desgastadas e balofas. Podia ter nascido muitos anos atrás, mas nasceu no tempo certo. Nasceu com Apgar 10/10/10 e sem necessidade de aspiração, sequer. Nasceu um amor maior, desvairado e atrevido. Do nada, inesperado e descomprometido. Casou-se comigo antes mesmo de se casar. Podia ter-se casado a dois na véspera de Natal, com aliança de dedo, mas casou-se enamorado pelo Atlas, a ouvir música berbere, a sentir as papilas gustativas embriagadas pelo açafrão e com pulseiras a abraçar os punhos. (Continua)


A-m-o-r

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Happy Birthday BFF!

És dos que ficam, dos poucos que ficaram, estão e estarão sempre para mim. Tenho-o como uma verdade absoluta. 
És insuportável no teu pomposo sobrenome e na tua postura quase monárquica e tantas vezes rasas a petulância. Mas, eu conheço-te. Conheço-te as manhas, as manias, a doença, o estado eufórico, a sabedoria, a arte na ponta dos dedos, a conversa da treta e as conversas de horas, sérias e irrefutáveis. Conheço-te o dia em que estiveste ao meu lado na sala de Gastroenterologia da Pediatria B, no antes e no pós-operatório do R, mais presente que ninguém. Conheço-te o dia em que nos zangamos em plena viagem de ambulância para Vila Real. Conheço-te o dia em que me abraçaste, num silêncio recheado de palavras, para me apagar os medos das cataratas do R. Conheço-te o dia em que esperaste à porta do quarto de banho que a minha birra acabasse. Conheço-te os conselhos, o jeito repreensivo que impões nas palavras. Conheço-te e sei que consegues pôr quase toda a gente no lugar (a mim não). Conheço-te o confidente dos segredos mais reboscados. Conheço-te os acordares tardios e atrasos para as mudanças de turno. Conheço-te a mania que és um chef de primeira. Conheço-te o gosto pelas viagens de mochila às costas. Conheço-te meu querido amigo. E, por tão bem te conhecer,  depositamos na tuas mãos, o nascimento da S e a seguir, o da M, que também é um bocadinho tua.
Sim, já não és só meu, és também o nosso amigo, padrinho e fazes parte de nós.
Obrigado por ti!


TIP4


Retrato à força


P&R, no abraço do nascimento da S

Nascimento da M

M e o padrinho

Pai, Padrinho e Madrinhas

R ao quadrado


Levantar e aplaudir...

As gentes do Porto têm paredes cinzentas e coração na ponta da língua. As gentes do Porto dizem, criticam, conseguem ser varinas de saia rodada. E, como faço parte das gentes do Porto, por entre a dureza com que digo o que não está bem, também me levanto e aplaudo atitudes. Esquecemo-nos de dizer bem, de aplaudir o que se faz de bom e em prol dos outros. Provavelmente, ir-me-ão comentar com o "não fazem mais do que a obrigação cívica"... Discordo veemente! É raro, é enorme e faz-me ter orgulho em ser tripeira. Clicar


Do Antiqvum para nossa casa


sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

In my veins

Corre nas veias a uma velocidade furiosa, emergente e invasiva. Chama-se paixão. Paixão pela taquicardia, paixão pelo arrepio que desce a coluna vertebral, paixão pelo desconhecido. É parte de mim e faz-me falta... Sinto-o nas conversas de corredor, no desfilar dos retratos à mesa da secretária. Sinto-o quando entro no hospital-mãe e ao entrar, cumprimento os porteiros (os mesmos de há tanto tempo). Sinto-o no bar do café em que amavelmente perguntam se estou bem e namoram o meu perfume. Sinto-o quando o frio do corredor entre a Associação e o Salão de Alunos me bate no rosto. Sinto-o reflectido nas cores das fardas novas. 
Ainda correm nas veias os momentos que não sei por em palavras mas deixo nas imagens... (e, nada mudará isso)