Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe



Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe


sábado, 18 de fevereiro de 2017

Os filhos dos outros

Os filhos dos outros.
Aos filhos dos outros daríamos repreensões severas nas birras do corredor do supermercado. Aos filhos dos outros não daríamos tablets para acabar de almoçar em silêncio. Aos filhos dos outros tiraríamos a chupeta, a fralda, o leitinho da noite em tempos escritos nas revistas. Aos filhos dos outros cumpriríamos todas a regras de etiqueta, todos os calendários, todos os timings. Aos filhos dos outros não se admitiriam erros ortográficos, mentiras de miúdo, asneiras de conversas de escola.
Quantas vezes já deram por vocês a dizer «Ai, se fosse meu filho...»? Pois, mas não é. É filho dos outros. A educação no colo dos outros é fácil, crítica, desinibida e até leviana. O «se fosse meu filho, não faria isto ou aquilo...», é quase leviano e eu própria já o fiz (antes de ser Mãe). É impossível separar o coração e a razão, o que vem escrito nos livros científicos e o que sai da boca em determinado momento. É questionável o abraço que sai dos braços quando o momento devia ser de olhar repreensivo. É questionável levar mudas para a escola para o caso de ..., sabendo que em caso de ... a reprensão devia ser o não ter muda de roupa (será que devia?). É questionável quando falamos dos filhos dos outros, mas não é questionável quando falamos dos nossos filhos. Não tem que ser questionável quando se funde o coração (e, quando este é enorme) e a razão. Sou de um amor permissivo qb e deixei de tentar de ser mãe dos filhos dos outros.
Porque sem amor, tudo é mais fácil, objectivo, duro. Mas com forte tendência a congelar.


Eu, numa birra fotográfica



quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Frida Kahlo

«I paint flowers so they will not die...»
Frida Kahlo



A S em modo Frida no Carnaval de 2016...
A pequena pintora mexicana estranhamente desafiante

Monocelha e bigode...maravilhosa!








terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

(E)namorados

Namorado é o homem de mãos desastradas que te lava o cabelo no chuveiro quando não podes vergar-te, molhar a cicatriz estragada da cesariana e não tens força para erguer os braços, porque a dor, a febre e angústia do momento estragado não te deixam fazê-lo. Guardo esse instante como a maior aliança que nos une (e acho que tu nem sabes porque nunca falamos disso).
Tão simples e só.


(E)namorados





quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Now or never

D-e-c-i-s-õ-e-s. Só conheço um caminho e é em frente. É um caminho que pode curvar à direita ou à esquerda, mas que não permite olhar para trás. Permitir, não permite, mas quem nunca o fez? Não há quem nunca não tenha pensado se não tivesse feito assim ou assado. Sou de decisões, lembraram-me agora disso. E, é verdade, sou de decisões de coração quente taquicardizante e olhos pousados no horizonte, sem medo de dar um passo descalça sem olhar para o chão, embalada por música indie

Obrigada querida M pela voz telefónica que me lembra que sou de decisões. 


domingo, 5 de fevereiro de 2017

Fingers & Doctors

Ser Médico hoje e amanhã e por aí adiante... Mais uma vez, correndo sérios riscos de sanções e comentários azedos, encaixo uma mão cheia de dedos de Médicos diferentes. 
O Médico-dedo-mindinho, sou eu e outros tantos, que temos um contrato individual de trabalho com um valor muitas vezes extrapolado (dizem as más línguas de alguns Médicos). Assinamos um papel como se fosse a única réstea de ar que existe à face da Terra, com muitas coisas escritas que nos encostam à parede e que lemos rápido como se lá não estivessem escritas. Cumprimos horas de trabalho para além do previsto e somos os especialistas de segunda. Aceitamos desafios e somos chamados de inconscientes. Vivemos no hospital durante dois meses para absorver que nem esponjas aquilo que não tivemos oportunidade de fazer, porque ainda éramos pequenos internos. Não pertencemos a lado nenhum, mas quando é para descontar afinal somos função pública. Temos trabalhos fáceis, exequíveis por qualquer um, mas quando ficamos grávidos, descobrimos que afinal os "qualquer um" são poucos e raros. 
O Médico-dedo-médio, são os médicos acabados de sair da faculdade, internos do ano comum. Saltam de especialidade em especialidade, mas sem se quererem envolver com nada. Não têm autonomia para actos médicos ou para dar altas. Mas, estão ainda orgulhosos do seu novo estatuto: o ser médico! Aproveitem meus caros, dentro em breve serão o Médico-dedo-polegar. 
O Médico-dedo-polegar é o interno de especialidade. Carrega os processos pelos corredores, sabe soletrar cada diagnóstico de cada menino, senta-se no banco de trás, treme que nem varas verdes com as perguntas incómodas que não seriam para ele mas as quais tem mesmo que responder, assume as chicotadas das decisões ou que tomou porque estava sozinho, ou que alguém tomou mas não ouviu a pergunta, fecha os olhos no cadeirão duro de serviço, gosta de trabalhar à noite, não pode ficar doente ou melhor pode, mas depois ... ( e mais não digo). Não lhe conhecem o nome se forem muitos, não tem palmadinhas nas costas e os bons dias às vezes são mudos. 
O Médico-dedo-indicador, é um especialista com mais anos. Sabem muito de muitas coisas e falam pelos cotovelos.  Não gostam de se sentir velhos, mas quando chega à hora de dividir tarefas com os médicos-dedo-mindinho a antiguidade é um posto. Esquecem-se do caminho que fizeram e dos erros que cometeram, até porque acham que já ninguém se lembra. 
O Médico-dedo-anelar, é o médico da velha-guarda. O que não se sente atropelado pela inexperiente sapiência do Médico-dedo-mindinho. O que sabe quanto vale o ser médico. São raros, mas conheço alguns...
Desculpem se a carapuça menos dourada assentar na perfeição... Desculpem comparar os da minha tão nobre classe a dedos das mãos... A mim, não me ofende e é só uma mera opinião.
Entrelacem-se os dedos e serão mais fortes!


Mãos Intensivas