Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe



Sofia Ribeiro Fernandes, crónicas de uma Mãe Pediatra e de uma Pediatra Mãe


domingo, 5 de fevereiro de 2017

Fingers & Doctors

Ser Médico hoje e amanhã e por aí adiante... Mais uma vez, correndo sérios riscos de sanções e comentários azedos, encaixo uma mão cheia de dedos de Médicos diferentes. 
O Médico-dedo-mindinho, sou eu e outros tantos, que temos um contrato individual de trabalho com um valor muitas vezes extrapolado (dizem as más línguas de alguns Médicos). Assinamos um papel como se fosse a única réstea de ar que existe à face da Terra, com muitas coisas escritas que nos encostam à parede e que lemos rápido como se lá não estivessem escritas. Cumprimos horas de trabalho para além do previsto e somos os especialistas de segunda. Aceitamos desafios e somos chamados de inconscientes. Vivemos no hospital durante dois meses para absorver que nem esponjas aquilo que não tivemos oportunidade de fazer, porque ainda éramos pequenos internos. Não pertencemos a lado nenhum, mas quando é para descontar afinal somos função pública. Temos trabalhos fáceis, exequíveis por qualquer um, mas quando ficamos grávidos, descobrimos que afinal os "qualquer um" são poucos e raros. 
O Médico-dedo-médio, são os médicos acabados de sair da faculdade, internos do ano comum. Saltam de especialidade em especialidade, mas sem se quererem envolver com nada. Não têm autonomia para actos médicos ou para dar altas. Mas, estão ainda orgulhosos do seu novo estatuto: o ser médico! Aproveitem meus caros, dentro em breve serão o Médico-dedo-polegar. 
O Médico-dedo-polegar é o interno de especialidade. Carrega os processos pelos corredores, sabe soletrar cada diagnóstico de cada menino, senta-se no banco de trás, treme que nem varas verdes com as perguntas incómodas que não seriam para ele mas as quais tem mesmo que responder, assume as chicotadas das decisões ou que tomou porque estava sozinho, ou que alguém tomou mas não ouviu a pergunta, fecha os olhos no cadeirão duro de serviço, gosta de trabalhar à noite, não pode ficar doente ou melhor pode, mas depois ... ( e mais não digo). Não lhe conhecem o nome se forem muitos, não tem palmadinhas nas costas e os bons dias às vezes são mudos. 
O Médico-dedo-indicador, é um especialista com mais anos. Sabem muito de muitas coisas e falam pelos cotovelos.  Não gostam de se sentir velhos, mas quando chega à hora de dividir tarefas com os médicos-dedo-mindinho a antiguidade é um posto. Esquecem-se do caminho que fizeram e dos erros que cometeram, até porque acham que já ninguém se lembra. 
O Médico-dedo-anelar, é o médico da velha-guarda. O que não se sente atropelado pela inexperiente sapiência do Médico-dedo-mindinho. O que sabe quanto vale o ser médico. São raros, mas conheço alguns...
Desculpem se a carapuça menos dourada assentar na perfeição... Desculpem comparar os da minha tão nobre classe a dedos das mãos... A mim, não me ofende e é só uma mera opinião.
Entrelacem-se os dedos e serão mais fortes!


Mãos Intensivas


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